Xutos e Pontapés - "Sem Eira nem Beira"
"Sem Eira Nem Beira
(Xutos & Pontapés)
Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou - bem
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar
Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir
Encontrar
Mais força para lutar...
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar
o povo que acreditou
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão"
«SEM EIRA NEM BEIRA
Antigamente se dizia que as áreas calçadas ou de terra apisoada e dura, onde se batiam, secavam e limpavam cereais e legumes, eram as eiras, a mesma denominação dada aos terrenos onde a cana ficava depositada aguardando moagem nos engenhos de açúcar. Assim também eram chamados os depósitos de sal a céu aberto nas marinhas salineiras, ou o pátio anexo a algumas fábricas de tecido. Hoje em dia quase ninguém fala mais desse jeito, mas de qualquer forma entende-se que a palavra continue guardando consigo o sentido implícito de boa saúde financeira, uma vez que imóveis são imóveis, por menores que sejam, e não há quem não prefira tê-los sob os pés ao invés de guardar seu rico dinheirinho debaixo do colchão, onde sempre estará sujeito à ação inesperada e devastadora de alguns ratos humanos mais conhecidos como amigos do alheio.. Por outro lado, beira era também o nome que se dava ao que hoje é comumente conhecido como aba ou beiral do telhado, um pequeno prolongamento da cobertura da casa que nos tempos coloniais caracterizava as construções de famílias portuguesas abastadas, para enfeitá-las e protegê-las da chuva. Nas cidades históricas de Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, São João Del Rei, Diamantina e Sabará, em Minas Gerais, Parati, no Rio de Janeiro, Salvador, na Bahia, São Luiz, no Maranhão, Olinda, em Pernambuco, e outras, além de algumas sedes antigas de fazenda que resistiram ao tempo e aos vândalos, ainda podem ser encontradas dessas beiras artisticamente trabalhadas, repletas de desenhos feitos caprichosamente por entalhadores desconhecidos, e expostas à apreciação dos que se mostrem dispostos a conferir com curiosidade e paciência como era o Brasil de antigamente. Verifica-se, portanto, que a eira e a beira, sinais evidentes de riqueza e prosperidade, estavam associadas pela lógica popular às pessoas que possuíam condição financeira suficiente para enfeitar, embelezar ou mandar construir em suas posses tudo o que fosse de seu gosto ou conveniência. E como a turma da banda oposta não podia se dar a esse luxo, dizia-se simplesmente que em suas casas não havia nem eira, nem beira, convicção que foi sendo solidificada pelo correr do tempo até transformar a expressão “sem eira nem beira”, tão presente no cotidiano brasileiro, em uma espécie de slogan que identifica os que estão vivendo na miséria, sem recursos ou sem lugar onde viver. Sobre o assunto, a escritora Luíza Galvão Lessa Karlberg, da Academia Acrena de Letras, assim se manifesta: A expressão “sem eira nem beira” quer dizer pessoa sem nada, sem passado e sem futuro. Mas antigamente a eira designava aquele terreno de terra batida ou cimento, onde deixam os grãos ao ar livre. E beira era a beirada da eira. Assim, quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos ao deus-dará e o proprietário fica sem nada. Um dado curioso, a observar é que antigamente as casas das pessoas abastadas tinham no telhado dois tipos de acabamento, a beira ceveira (beira sobre beira = beiral) e a eira que era o acabamento decorado, feito na fachada, e a casa da plebe tinha apenas o telhado sem acabamento. Esse elemento arquitetônico acrescentou outro termo ao idioma - sem eira nem beira - que significa situação de miséria. É comum, no Acre, ouvir alguém dizer: "como ele vai casar? o cara não tem eira nem beira”. Isso quer dizer que o indivíduo está sem dinheiro, desapercebido. No entanto, em épocas passadas, tratava-se, como se falou antes, de um detalhe no acabamento dos telhados, como ilustro com o desenho da casa que apresenta eira e beira.. Compreende-se, então, que as palavras nascem pela necessidade que tem o ser humano de dar nome às coisas. E, no caso do acabamento das casas, ele indicava o status do morador. Possuir a eira e a beira era sinal de riqueza e de cultura. Então, a eira e a beira davam status às pessoas» in http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=151895 -------------------------------------------------------------------------- De facto Sr. Engenheiro Sócrates, graças a si, os Portugueses estão sem eira nem beira... |
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