«Duas pedradas no autocarro
É quase uma inevitabilidade, fatal como a probabilidade de a bola poder saltar de pé para pé ao primeiro apito do árbitro: encontro no Dragão é para fluir num só sentido, obedecendo a imposições medrosas e estratégias tímidas, demoradamente maquinadas para negar a essência ao jogo. Corre e joga, então, só um, o campeão, que investe, pressiona e experimenta todas as cambiantes do ataque. Colectivas e individuais. Do outro lado, literalmente, assistindo e defendendo, o opositor retrai-se a cada promessa de golo, desafiando os limites anunciados pela disposição inicial. O único jogador dispensado de perseguir a bola é progressivamente abandonado à sua sorte, como se tratasse de um corpo estranho à trama defensiva, cujo êxito depende apenas de um acaso ou da conjugação de muitos.Apostar tudo no imprevisto, no sucesso improvável de um contra-ataque, revelar-se-ia fatal para o Setúbal. Já acontecera com outros, que, em desvantagem, prolongaram, grosseira e obstinadamente, a validade de uma estratégia cujo prazo esgotara ao segundo golpe. O ritmo elevado imposto pelo F.C. Porto encontraria a resposta, a saída de uma arrumação labiríntica a que foi provocando rombos e fissuras, entre a pressão de Fernando, a organização de Meireles e a superactividade nas alas, onde, não raras vezes, os laterais envolviam a dinâmica, acrescentando-lhe variantes e substituindo, nas funções, os extremos.Cedo se percebeu que, mais do que persistência, a missão exigia perícia, como a revelada por Lisandro, num instinto que cruzou génio e frieza, sentando, no mesmo instante, defesa e guarda-redes. Na conclusão de um gesto, que, como nenhum outro, tanto se assemelhara um passe de tango, fez golo, o primeiro. Pouco depois, num remate cruzado, na ponta final de um lance fantástico, pela simplicidade e composição colectiva, faria o segundo. Antes e depois de os Dragões ameaçarem a goleada, o adversário persistiu no alongamento da estratégia. Para o Setúbal, o jogo terminara há muito, na rigidez do plano sem manobra ou caixa para engrenar outra velocidade, que não a marcha atrás, ao género de autocarro que Carlos Cardoso aparcara com tanto esmero e requinte na sua grande área. Pelo menos, o resultado foi simpático. O F.C. Porto acelera para o título.
FICHA DE JOGO
Liga, 26ª jornada
26 de Abril de 2009
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 34.602 espectadores
Árbitro: Paulo Baptista (Portalegre)
Assistentes: José Braga e Celso Pereira
4º Árbitro: Carlos Oliveira
F.C. PORTO: Helton, Tomás Costa, Rolando, Bruno Alves «cap» e Cissokho; Mariano, Fernando e Raul Meireles; Lisandro, Farías e Rodríguez
Substituições: Rodríguez por Sektioui (84m), Lisandro por Rabiola (89m) e Raul Meireles por Guarín (90m)
Não utilizados: Nuno, Stepanov, Fucile e Andrés Madrid
Treinador: Jesualdo Ferreira
V. SETÚBAL: Kieszek; Janício, Robson Auri e Anderson; Hugo e Zoro; Bruno Gama, Ricardo Chaves e Leandro Liga; Leandro Carrijo
Substituições: Leandro Lima por Bruno Ribeiro (57m), Bruno Gama por Michel (57m) e Ricardo Chaves por Regula (70m)
Não utilizados: Bruno Vale, Laionel, Filipe Brigues e Moisés
Treinador: Carlos Cardoso
Ao intervalo: 0-0
Marcador: Lisandro (61m e 68m)
Disciplina: cartão amarelo a Auri (42m), Zoro (65m), Janício (67m), Fernando (70m) e Sektioui (90m)» in site F.C. do Porto.
1.º Golo do F.C. do Porto num excelente lance colectivo culminado com um grande trabalho de Lisandro lopez!
2.º Golo do F.C. do Porto, o bis de Lisandro Lopez, noutra grande jogada colectiva dos Dragões!
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