«Invasões Francesas: Manobra de diversão derrotou duas semanas de resistência pela ponte de Amarante
(17-04-2009)
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Carlos Teixeira, quadro da divisão cultural da Câmara de Amarante responsável pelo programa comemorativo da Defesa da Ponte, explica que a resistência dos portugueses durou duas semanas e provocou inúmeras baixas entre os franceses, embora estes nunca o tenham reconhecido Lusa | |
Uma "manobra de diversão", criação de um facto artificial noutro local para desviar as atenções, permitiu aos franceses, há 200 anos, vencer a resistência das tropas portugueses que durante duas semanas impediram a conquista da ponte de Amarante.
O episódio histórico, que sábado à noite vai ser recriado na cidade, acrescido do denso nevoeiro gerado no leito do rio Tâmega, foram determinantes para as tropas do general Soult atravessarem a estreita ponte de Amarante na madrugada de 02 de Maio de 1809. A travessia da cidade do Tâmega constituía, no desenrolar da II Invasão Francesa, um itinerário estratégico para a fuga a caminho de Trás-os-Montes, depois de os franceses se sentirem acossados pelos ingleses na zona do Grande Porto. Carlos Teixeira, quadro da divisão cultural da Câmara de Amarante responsável pelo programa comemorativo da Defesa da Ponte, explica que a resistência dos portugueses durou duas semanas e provocou inúmeras baixas entre os franceses, embora estes nunca o tenham reconhecido. Foi a perspicácia de um oficial de engenharia, conta Carlos Teixeira, cujo plano teve o aval directo do general Soult, que conseguiu derrotar os portugueses há dois séculos. "Soult percebeu que precisava de destruir a defensiva da ponte e chamou um oficial de engenharia para encontrar um estratagema", refere Teixeira. Esse "engenheiro" francês [Bouchard], ainda durante a noite, subiu à torre sineira do mosteiro de S. Gonçalo e com um monóculo conseguiu avistar as defesas portuguesas na outra margem e aperceber-se das guarnições instaladas na ponte, nomeadamente a existência de um fornilho [um grande barril de pólvora, com uma arma no interior e um cordel ligado ao gatilho] preso no terceiro arco, pronto a ser detonado à distância quando da passagem das tropas. "A armadilha visava destruir o arco da ponte, a exemplo do que foi feito no Marco [de Canaveses], se os franceses tentassem atravessar", refere o também responsável pela programação cultural do museu municipal. "Os franceses criaram manobras de diversão a jusante da ponte, no vale dos Morleiros, simulando uma tentativa de passagem para que a atenção e o fogo dos portugueses se concentrasse naquela zona”, recorda. “Aproveitando o nevoeiro [corriam dias chuvosos e o nevoeiro à noite e madrugada era uma constante] e com as tropas de primeira linha já colocadas na Praça da República, os franceses colocaram três batedores [vestidos com sacos de pano tosco, vulgo serapilheira, os camuflados da época] a rastejar na ponte e a empurrar três barris de pólvora com a cabeça, que previamente foram enrolados em palha para não fazerem barulho na calçada", conta Carlos Teixeira, citando os relatos da época. Com os portugueses distraídos e com o nevoeiro, os franceses conseguiram encostar os três barris à paliçada da margem esquerda e detonar os barris, uma explosão muito bem conseguida que permitiu não só cortar a barricada mas sobretudo cortar o fornilho, em que o barril com pólvora desprendeu-se do gatilho e do cabo que permitia accioná-lo. Segundo Carlos Teixeira, a artilharia portuguesa nem teve tempo de reorientar as peças para a ponte porque logo de seguida a infantaria e a cavalaria de Napoleão mais avançada atravessaram a ponte e despedaçaram as tropas que tentaram opor-se. A debandada foi geral. Os franceses consolidaram depois posições e afastaram os portugueses do monte do Calvário [uma pequena elevação sobranceira à cidade] para que não tivessem posição de tiro. A cidade estava tomada. A conquista de Amarante pelos franceses, sugere Carlos Teixeira, advém da sua importância estratégica e militar na época. "O general Soult, no Porto, ao ver aproximar tropas inglesas a Sul, na Feira, e as tropas avançadas já na zona de Gaia, percebeu que eles lhes iam cortar a progressão [em círculo] pela Régua, cortando o trajecto de fuga para Trás-os-Montes", refere. Percebendo este movimento táctico das forças inglesas, acrescenta o técnico cultural da câmara de Amarante, Soult viu que era necessário assegurar um trajecto de saída o mais rápido possível e manda um corpo abrir a passagem rumo a Norte. Só restava a travessia de Amarante depois de um arco ter sido destruído na ponte de Marco de Canaveses. O mês de Abril de 1809 foi extremamente chuvoso e o leito do rio Tâmega levava um caudal de cheia, não permitindo atravessamentos a pé ou a cavalo. "Só a ponte permitia a passagem da cavalaria e de toda a estrutura militar, os canhões, etc. e sobretudo o saque, ou seja, as carroças com o saque", assegura. A "batalha" de Amarante, que tinha cerca de oito a nove mil combatentes de cada lado da ponte, fez baixas em ambos os exércitos. Os franceses estavam em fuga e a antiga vila de Amarante foi retomada dez dias depois pelo general Silveira - que terá comandado a resistência algures entre a ponte e o lugar de Padronelo - e que mais tarde foi declarado Conde de Amarante. Contudo, são os mesmos relatos da época que proclamam "primeiros heróis" da defesa de Amarante os oficiais Bento de Sá, um exímio artilheiro, e Patrick, um tenente-coronel inglês ferido de morte durante combates corpo a corpo nos primeiros dias da tomada da cidade pelos franceses.» in http://www.tamegaonline.info/v2/noticia.asp?cod=1918 |
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