«Limpeza étnica
O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que ululavam lamentos. "Perdi tudo!" "O que é que perdeu?" perguntou-lhe um repórter.
"Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem..." Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga "quatro ou cinco euros de renda mensal" pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que "até a TV e a playstation das crianças" lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam "quatro ou cinco Euros de renda" à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a "quatro ou cinco euros mensais" lhes sejam dados em zonas "onde não haja pretos". Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivadas de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - "ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos." A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências socio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor. Mário Crespo»
«COISAS DA SÁBADO: O FÁCIL NOME DE RACISTA
Num recente programa da TSF sobre o tiroteio de Loures, um ouvinte começou a barafustar contra as condições que eram oferecidas aos ciganos e aos pretos que não tinham que trabalhar como ele e os “portugueses”. Dizia o ouvinte, em tom indignado, que muitos deles vão aos correios buscar o “ordenado” que o estado lhes dá, e protestam com qualquer atraso. Não custa imaginar o ouvinte, um idoso ou reformado com idêntico purgatório nas estações do correio, a assistir à cena e a pensar que trabalhou ele toda a vida para ganhar uma magra reforma enquanto que aqueles “malandros” sem fazerem nada são sustentados pelo “governo”.
A TSF tirou-lhe a palavra porque não eram permitidos comentários racistas nem xenófobos. Não me parecia que fossem muito especialmente racistas, porque não era tanto a condição de serem “pretos” ou ciganos” (também era, como é inevitável) mas a de serem pessoas com idade para estarem no mercado de trabalho e viverem “à sua custa”. Não se pense que não há alguma razão nesta atitude. O assistencialismo do estado, com a sua panóplia de subsídios, gera exclusão e marginalidade, bolsas de pessoas que sobrevivem com os subsídios, e mais umas outras actividades na economia informal, mais ou menos ilegal, Não vivem bem, mas vivem tão mal como os seus congéneres, em condição e rendimentos, que trabalham. Daí que os pobres que trabalham sejam particularmente duros com os pobres que vivem de subsídios, em particular se partilham as mesmas comunidades, e podem ser comparados em idade e condição física e social.
O olhar de uma mãe jovem que trabalha como empregada num café é o mais cruel que há para a mãe jovem que vive do rendimento de inserção e passa as manhãs nesse café sem fazer nada, à conversa com as outras mães que também vivem do subsídio. O que muitas vezes as separa são estratégias para o subsídio: uma casou-se na Igreja, outra é mãe solteira, mesmo que as famílias por fora sejam exactamente iguais.
O problema com a nossa visão destas coisas é que não queremos ver estratégias onde achamos que há só cor e costumes, ser preto ou ser cigano. E por isso no programa da TSF, logo a seguir um à retirada da palavra, outro e outro dos ouvintes começavam a sua intervenção dizendo: “aquele senhor tem muita razão”.» in Abrupto
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Há hoje em Portugal a falência dos bairros sociais, que é evidente. No entanto teima-se em agrupar grupos sociais complexos em caixas de betão, tornando certos bairros em autênticos guetos explosivos. Muita gente, principalmente, os ditos desta esquerda hipócrita, têm muito medo a tudo o que seja chamar os bois pelos nomes. De facto, o que se passa na Quinta da Fonte, acontece em muitos bairros sociais, inclusivé em Amarante, que passa por juntar pessoas com problemas sociais, conceder-lhes o Rendimento Social de Inserção, e deixa-los com os seus vícios alimentados por nós: alcoolismo, droga, violência, etc. Mas tudo potenciado pela junção destes problemas todos num pequeno espaço de betão. Não tenham pruridos, o que eu e muitos portugueses dizem, não se trata de racismo, mas uma questão óbvia de má gestão do ordenamento das cidades. Se lhes concedem subsídios e habitação, porque não são obrigadas as pessoas a tratamentos de desintoxicação, de promoção de políticas de inserção correctas, como por exemplo, não juntar muita gente num pequeno espaço, mas espalhar as pessoas por locais mais próximos das suas origens, em Amarante, por exemplo, as suas Freguesias de origem. Mas não, preferimos subsidiar os vícios, as armas, a violência descontrolada, estando a classe média Portuguesa, a que resta, esmagada por impostos a pagar esta política de loucura social que só poderá acabar em ondas de violência incontroláveis...
Imagens incríveis do Portugal actual, qual Faroeste!
O episódio "Quinta da Fonte" não é um mero "sintoma secundário" do Estado Português: é a demonstração do (E)estado insano Português!
ResponderEliminarÉ verdade Elsa e é muito preocupante o que se está a passar!
ResponderEliminarMas como tu estás coberto de razão!
ResponderEliminarSubscrevo tudo o que dizes.
Anabela e não fico contente por ter razão. É muito preocupante o que se passa e assisto a um assobiar para o lado de quem de direito que me desatina. Não é que um Vereador da Câmara Municipal de Loures considerou ser normal ameaças às Assistentes Sociais. Então vai ser normal bater em Professores, Guardas, Juízes... esta gente que tenha tino, que vão dar aulas aos CEF´s desses bairros e que depois nos venham contar a experiência! Isto é de loucos!
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