Maria Callas, numa imagem captada de um vídeo.Maria Callas (Nova Iorque, 2 de Dezembro de 1923 — Paris, 16 de Setembro de 1977) foi uma cantora lírica soprano de ascendência grega, considerada a melhor soprano que o mundo já teve.
Biografia
Nascida Ánna María Cecilía Sofía Kalogerópulu (em grego Άννα Μαρία Καικιλία Σοφία Καλογεροπούλου), Callas era filha de imigrantes gregos e, devido a dificuldades económicas, teve de regressar à Grécia com sua mãe em 1937. Estudou canto no Conservatório de Atenas, com a soprano coloratura Elvira de Hidalgo.
Existem diferentes versões sobre sua estreia. Alguns situam-na em 1937, como Santuzza numa montagem estudantil da Cavalleria Rusticana, de Mascagni; outros, na Tosca (Puccini) de 1941, na Ópera de Atenas. De todo o modo, o seu primeiro papel na Itália teve lugar em 1947, na Arena de Verona, com a ópera La Gioconda, de Ponchielli, sob a direcção de Tullio Serafin, que se tornaria seu “mentor”.
Callas começou a despontar no cenário lírico em 1948, com uma interpretação bastante notável como protagonista da ópera Norma, de Bellini, em Florença. Todavia, a sua carreira só viria a projectar-se à escala mundial no ano seguinte, quando a cantora surpreendeu a crítica e o público ao alternar, na mesma semana, récitas de I Puritani, de Bellini, e Die Walküre, de Wagner. Preparou o papel de Elvira para a primeira ópera em apenas dois dias, a convite de Serafin, para substituir uma outra cantora. (Para se ter ideia do seu feito, é o mesmo que pedir a Birgit Nilsson, famosa soprano dramático, para cantar Violetta em La Traviata.) Callas não teve tempo para aprender o libretto completo, apenas a música, e o ponto teve de a auxiliar com o texto.
A partir dos anos 50, Callas começou a apresentar-se regularmente nas mais importantes casas de espetáculo dedicadas à ópera, tais como La Scala, Convent Garden e Metropolitan. São os seus anos áureos.
A par da fama como cantora internacional, surgiu a sua fama de tigresa, muitas vezes considerada temperamental pelo seu perfeccionismo. A rivalidade com Renata Tebaldi ficou famosa e as brigas públicas, através de declarações aos jornais, várias vezes lhe renderam a primeira página, tal como seus triunfos operáticos. Era uma figura extremamente pública e contribuiu para reacender o estrelato da ópera e dos seus intérpretes. Alguns críticos afirmam, inclusive, que até nas editoras havia uma divisão, para acirrar as disputas entre Callas e Tebaldi, e influenciar as comparações entre gravações feitas por Tebaldi ao lado do tenor Del Monaco, e de Callas ao lado de Di Stefano.
A sua voz começou a apresentar sinais de declínio no final dessa década, e a cantora diminuiu consideravelmente as participações em montagens de óperas completas, limitando a sua carreira a recitais e noites de gala e abandonando os palcos em 1965. O abandono deveu-se em grande parte ao desequilíbrio emocional da cantora, que ao conhecer Aristóteles Onassis, se dedicou integralmente ao seu amado, afirmando ter começado nessa altura sua vida de verdade. Foi então que parou de ensaiar, adiou e cancelou apresentações, se tornou figura constante em noites de festa, chegando a beber, tudo coisas que contribuíram para o declínio da sua voz e o fim da carreira.
Em 1964, encorajada pelo cineasta italiano Franco Zefirelli, voltou aos palcos na sua maior criação, Tosca, no Convent Garden, contracenando com Tito Gobbi, um amigo de longa data. Essa Tosca está disponível em DVD (apenas o segundo acto) e em CD (completa) e entrou para a história do mundo da ópera. A sua última apresentação numa ópera completa foi como Norma e Paris, em 1965, e devido à sua saúde vocal debilitada não aguentou até o fim, desmaiando ao cair da cortina, no final da terceira parte.
No início dos anos 70, passou a dedicar-se ao ensino de música na Juilliard School. Em 1974, entretanto, regressou aos palcos para realizar uma série de concertos pela Europa, Estados Unidos e Extremo Oriente ao lado do tenor Giuseppe di Stefano. Embora tenha sido um sucesso junto do público, o espectáculo foi massacrado pela crítica especializada. A voz já não era a mesma, mas o que mantinha o público firme nas apresentações era o amor. A sua actuação foi prejudicada, pois uma vez que tinha de fazer muito mais esforço para manter a afinação, a entrega à interpretação não foi tão subtil como no passado.
Cantou em público pela última vez a 11 de Novembro de 1974 no Japão.
Onassis, então casado com Mrs. Kennedy, teve sérios problemas de saúde e acabou por falecer. Callas isola-se do mundo, e passa a viver na Avenue Georges Mandel, em Paris, com a companhia da governanta, Bruna, e do motorista, Ferruccio. Um possível regresso é ensaiado e a cantora é motivada pelo cineasta italiano Franco Zefirelli, mas Callas já não tinha a segurança do passado. Faltava-lhe vontade. Tentou realmente outras funções, como professora, directora artística, mestre de coro, mas nada a satisfazia. Não sabia sequer como deslocar um coro. Começou a impor exigências absurdas para as apresentações. Essa é agora sua maneira de dizer não, exigindo o impossível. Foi equacionada uma gravação da Traviata, com o tenor em ascensão Luciano Pavarotti, mas o projecto foi abandonado por Maria. Alguns amigos ainda a visitavam com frequência. O maestro Giulini, o crítico John Ardoin, mas Callas já estava "morta" há muito tempo, e a 16 de Setembro de 1977, simplesmente deixou de existir, pouco antes de completar os 54 anos, no seu apartamento em Paris, na sequência de um ataque cardíaco.
As suas cinzas foram espalhadas no Mar Egeu, como era de sua vontade.
Vida pessoal
Maria Callas foi a mais controversa e possivelmente a mais dedicada intérprete lírica. Com uma voz de considerável alcance, Callas encantou nos teatros mundiais de maior destaque. Esta intérprete, senhora de raros dotes vocais e interpretativos, revolucionou o mundo da ópera, trazendo-a novamente às origens. Para Maria Callas a expressão vocal era primordial, em detrimento dos exageros vocais injustificados - tudo na ópera tem que fazer sentido por forma a dar ao público algo que o mova, algo credível.
Esta foi a mais destacada e famosa cantora lírica, e fez jus à sua fama, pois interpretou várias dezenas de óperas de diversíssimos estilos. Callas perpetuou-se em papéis como Medea, Norma, Tosca, Violetta, Lucia, Gioconda, Amina, entre outroas, continuando, nestes papéis, a não existir nenhuma artista que lhe faça sombra.
Um dos aspectos que certamente contribuiu para a lenda que se formou em torno de Maria Callas diz respeito à sua conturbada vida pessoal. Dona de um temperamento forte, que parecia o correlato perfeito para a intensa carga dramática com que costumava abordar suas personagens no palco (veja abaixo), tornou-se famosa por se indispor com maestros e colegas em nome de suas crenças estéticas.
Em 1958, depois de, doente, ter abandonado uma récita de Norma na Ópera de Roma, foi fortemente atacada pela imprensa italiana, que julgou que a soprano queria ofender o presidente italiano, presente na plateia. O escândalo comprometeu a sua carreira na Itália e, no mesmo ano, Callas entrou em disputa com Antonio Ghiringhelli, dirigente do La Scala, que não a queria mais no teatro. Somente em 1960 voltou a apresentar-se no La Scala, na ópera Poliuto de Donizetti; ainda em 1958, foi sumariamente demitida do Metropolitan por Rudolf Bing, que desejava que ela alternasse apresentações de La Traviata e Macbeth, óperas de Verdi com exigências vocais muito distintas para a soprano. À exigência de Bing, Callas celebremente respondeu que sua voz não era um elevador.
Em 1959, rompeu um casamento de dez anos com seu empresário, G. B. Meneghini, muito mais velho do que ela. Manteve, em seguida, uma tórrida relação com o milionário grego Aristoteles Onassis, com quem não foi feliz e que rendeu variadíssimo material para tablóides sensacionalistas.
Trabalhava intensamente e em mais de uma ocasião subiu aos palcos contra a recomendação dos seus médicos. Com uma forte constipação, a 2 de janeiro de 1958 escapou da Ópera de Roma pela porta das traseiras após um primeiro acto medíocre de Norma, de Bellini, numa récita prestigiada pelo então presidente da Itália, Giovanni Gronchi, o que gerou o escândalo acima referido. A 29 de Maio de 1965, ao concluir a primeira cena do segundo acto de Norma, Callas desfaleceu e a apresentação foi interrompida. Depois disso, ela só cantaria em ópera mais uma vez, numa última apresentação de Tosca no Covent Garden de Londres, ao lado de Tito Gobbi.
Poucos sopranos podem rivalizar com Callas no que diz respeito à capacidade de despertar reações intensas entre os seus admiradores e detratores. Elevada à categoria de “mito” e conhecida mesmo fora do círculo de amantes de ópera, ela criou em torno de si uma legião de entusiastas capazes de defender a todo custo os seus méritos. Apesar da mútua amizade, as disputas entre os seus fãs e os de Renata Tebaldi tornaram-se célebres, chegando mesmo nalguns casos às vias de facto.
Características
Callas possuía uma voz poderosa que, embora não se destacasse pela beleza do timbre, tinha uma amplitude fora do comum. Isto permitia à cantora abordar papéis desde o alcance do mezzo-soprano até o do soprano coloratura. Com domínio perfeito das técnicas do canto lírico, possuía um repertório incrivelmente versátil, que incluía obras do bel canto (Lucia de Lammermoor, Anna Bolena, Norma), de Verdi (Un ballo in maschera, Macbeth, (La Traviata) e do verismo italiano (Tosca), e até mesmo Wagner (Tristan und Isolde, Die Walküre).
Apesar destas características, Callas entrou para a história da ópera pelas suas inigualáveis habilidades cénicas. Levando à perfeição a habilidade de alterar a "cor" da voz com o objectivo de expressar emoções, e explorando cada oportunidade de representar no palco as minúcias psicológicas de suas personagens, Callas mostrou que era possível imprimir dramaticidade mesmo em papéis que exigiam grande virtuosismo vocal por parte do intérprete - o que usualmente significava, entre as grandes divas da época, privilegiar o canto em detrimento da cena.
Muitos consideram que o seu estilo de interpretação imprimiu uma revolução sem precendentes na ópera. Segundo este ponto de vista, Callas seria tributária da importância que assumiram contemporaneamente os aspectos cénicos das montagens. Em particular, é claramente perceptível desde a segunda metade do século XX uma tendência entre os cantores em favor da valorização de sua formação dramatúrgica e da sua figura cénica - que se traduz, por exemplo, na constante preocupação em manter a forma física. Em última análise, esta tendência foi responsável pelo surgimento de toda uma geração de sopranos que, graças às suas habilidades de palco, poderiam ser considerados legítimos herdeiros de Callas, tais como Joan Sutherland ou Renata Scotto.
Gravações
Entre as diversas gravações célebres de Callas, encontram-se:
Independente
Verdi, Macbeth. Com Enzo Mascherini, Gino Penno e Mario Tommasini. Regência de Victor De Sabata. La Scala, 1952.
Puccini, Tosca. Com Tito Gobbi e Giuseppe di Stefano. Regência de Victor De Sabata. La Scala, 1953. Considerada por muitos gravação de referência para a ópera de Puccini.
Bellini, Norma. Com Ebe Stignani, Mario Filippeschi e Nicola Rossi-Lemeni. Regência de Tullio Serafin. La Scala, 1954.
Donizetti, Lucia di Lammermoor. Com Rolando Panerai, Giuseppe di Stefano e Nicola Zaccaria. Regência de Herbert von Karajan. Berlin, 1955. Outra das gravações de Callas considerada de referência.
Verdi, La Traviata. Com Ettore Bastianini e Giuseppe di Stefano. Regência de Carlo Maria Giulini. La Scala, 1955. Famosa gravação em que a direcção de cena ficara a cargo do cineasta Lucchino Visconti.
Verdi, Il Trovatore. Com Fedora Barbieri, Rolando Panerai e Giuseppe di Stefano. Regência de Herbert von Karajan. La Scala, 1956.
Donizetti, Anna Bolena. Com Giulietta Simionato e Gianni Raimondi. Regência de Gianandrea Gavazzeni. La Scala, 1957.
Pela EMI
Norma
I Puritani
La Sonnambula
Carmen
Lucia di Lammermoor
Cavalleria Rusticana
La Gioconda
La Boheme
Madama Butterfly
Manon Lescaut
Tosca
Turandot
Il Barbiere di Siviglia
Il Turco in Italia
Aida
Un Ballo in Maschera
La Forza del Destino
Rigoletto
La Traviata
Il Trovatore
Pela FONIT CETRA
"Incontri memorabili"
Vol. 1: Maria Callas Nicola Filacuridi, Regente: Oliviero de Fabritiis, 18 de fevereiro de 1952
Vol. 2: Maria Callas Beniamino Gigli, Regente: Alfredo Simonetto, 27 de dezembro de 1954
Vol. 7: Maria Callas Gianni Raimondi, Regente: Alfredo Simonetto, 19 de novembro de 1956
"Norma", 29 de junho de 1955
"Parsifal", 21 de novembro de 1950
"La Gioconda", 1952
"La Traviata", 1953
"Arie Celebri"
Referências
Maria Callas : A Musical Biography, de Robert Levine. ISBN 1579122833.
The Callas Legacy: The Complete Guide to Her Recordings on Compact Disc, de John Ardoin. ISBN 093134090X.
The Unknown Callas: The Greek Years, de Nicholas Petsalis-Diomidis. ISBN 157467059X.
Maria Meneghini Callas, de Michael Scott. ISBN 1555531466.
Maria Callas : A Mulher por trás do Mito, de Ariana Huffington.» in http://saber.sapo.pt/wiki/Maria_Callas
Maria Callas - "Butterfly" - (Puccini)
Callas - "The Carmen"
Maria Callas - "Ave Maria" - (Ottelo)
Existe gravação de FEDORA houveram 6 récitas no Scalla Milão em maio de 1956. Se sim gostaria de adquirir.
ResponderEliminarObrigado pela informação.
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