07/01/22

História - O ritual servia para se atestar a prosperidade do país e a bênção dos deuses ao rei, mas também para lembrar o monarca da sua insignificância quando lhe é retirada a coroa e perante o poder divino.


«Dar uma chapada ao rei? Festival de Akitu lembrava os monarcas que eram meros mortais

O ritual servia para se atestar a prosperidade do país e a bênção dos deuses ao rei, mas também para lembrar o monarca da sua insignificância quando lhe é retirada a coroa e perante o poder divino.

Ser rei pode parecer sinónimo de poder e respeito absolutos, mas nem sempre. Durante o festival de 12 dias de Akitu, um dos mais antigos da civilização da Mesopotâmia que data de meados do terceiro milénio antes de Cristo, o monarca era rebaixado e “posto no seu lugar” de servitude ao deus Marduk e à sua comunidade.

Com o início na primeira Lua Nova depois do início da Primavera em Março ou Abril, o festival de Akitu incluía um ritual onde o padre principal retirava os privilégios reais ao rei e lhe dava uma forte bofetada na cara. Caso o rei chorasse, acreditavam os Babilónios, Marduk tinha aprovado que ficasse no trono mais um ano.

“É interessante notar que um grande rei Babilónico, como Nebuchadnezzar II, conhecido nas nossas crónicas como o destruidor da Judeia e do Primeiro Templo de Jerusalém em 597 antes de Cristo, o grande conquistador do mundo antigo inteiro que se considerava o rei dos reis, se submetia livremente, uma vez por ano, a um procedimento tão humilhante”, lembra o The Jerusalem Post.

O festival Akitu era dedicado ao renascimento de Marduk, o deus do Sol que terá criado o mundo a partir do caos, um dos mais importantes nas crenças Babilónias. Com a independência da cidade de Babilónia e o seu crescimento, cresceu também o culto a Marduk, que o solidificou como líder do panteão.

Os rituais incluíam uma grande procissão que incluía o monarca, os membros da corte, os padres e as estátuas dos deuses, que passavam pela Porta de Ishtar em direcção ao templo Akitu, dedicado ao deus.

No quarto dia do festival, o rei tinha de enfrentar o seu julgamento e assumir um papel mais humilde, uma tradição que era fundamental para reforçar os laços entre a comunidade e os deuses, nota o Ancient Origins.

O padre cumprimentava o monarca antes de temporariamente lhe retirar a coroa e insígnia real, arrastando-o pela orelha até à imagem de Bel, perante a qual tinha de se ajoelhar e rezar para pedir perdão e prometer que não tinha falhado no cumprimento do seu dever de servir os súbditos.

Só depois destas preces é que o padre dava uma bofetada com a máxima força que conseguisse na cara do rei. Se o monarca chorasse, era um sinal de que Bel e a sua mulher, Beliya, tinham abençoado o rei e o futuro do país, sendo-lhe devolvida a coroa e o poder.

Além de atestar a prosperidade que esperava ao país, o ritual servia também para lembrar o monarca de que, sem a sua coroa e o reconhecimento da sua legitimidade por parte da população, era apenas mais um comum dos mortais que tinha de se submeter ao poder dos deuses.

O festival Akitu continuou até ao tempo dos romanos, com o Imperador Heliogábalo a introduzi-lo em Itália. Ao longo do tempo, a tradição de se dar a chapada ao rei perdeu-se, mas há um legado de festivais no início da Primavera na Ásia que se mantém até aos dias de hoje.» in https://zap.aeiou.pt/chapada-a-um-rei-akitu-mesopotamia-455010

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