«Sócrates: "Nunca tinha tido uma vida como a de Paris"
O Expresso revela, excecionalmente, a 1ª parte da entrevista de José Sócrates a Clara Ferreira Alves. A versão integral chega amanhã (19 de outubro) às bancas, na Revista.
O livro "A Confiança no Mundo", sobre a tortura em democracia, é a tese de mestrado de José Sócrates na escola de Sciences Po, Paris. É lançado em Portugal, depois no Brasil e em Moçambique. Pretexto para uma conversa franca com o ex-primeiro-ministro.
Existe uma razão para ter pedido o prefácio a Lula. "O Lula é talvez o meu melhor amigo dos tempos da ação política, foi meu companheiro durante os seis anos intensos em que fui primeiro-ministro. Tenho outros, portugueses, claro. E tenho também o Zapatero. O Lula é o mais próximo."
"Ele foi a Sciences Po receber o título honoris causa quando comecei a estudar lá, por coincidência. Chegou a Lisboa e quis falar comigo e ninguém lhe dava o meu número de telefone, já eu estava em Paris. Ele fez uma fita, quero falar com o Sócrates! Não tinha o telefone de Paris. Quando chegámos à fala, disse-lhe que íamos estar juntos, depois jantámos na Embaixada do Brasil, antes da sessão. Um jantar divertidíssimo, até às duas da manhã. No dia seguinte, estavam lá os catedráticos todos, no doutoramento, e o Lula disse-lhes que eles tinham ali aquele gajo como étudiant - eu fui e ainda sou estudante de Sciences Po - e pediu-me para lhes mostrar o meu cartão de aluno. Mostra, Sócrates! Mostra!"
Já tem o cartão do próximo ano. Continua a ir a Paris esporadicamente, e um filho ainda estuda lá. Foi feliz na cidade. "Nem sabia que existiam vidas assim, vidas tão boas. Nunca tinha tido uma vida dessas."
Nesta longa conversa, à mesa de um restaurante italiano, não rejeitou perguntas e responde, com alguma candura, ou com irritação, a acusações. Está contente com o trabalho que fez, bem escrito e bem argumentado, é frontal na condenação inequívoca da guerra antiterror dos Estados Unidos e da tortura como método. Existe um absolutismo da vida e da dignidade humana.
Fazendo de advogada do diabo, tive de remexer em mexericos, a par das questões patrióticas. A história fica contada. Nunca, depois da entrevista dada, José Sócrates me pediu para alterar ou omitir frases que tinha dito.
Durante um ano, José Sócrates foi às aulas com gente muito mais nova do que ele. Não foi a primeira vez que aconteceu, já tinha "feito um MBA no ISCTE". Não houve intimidação mútua, "foram sempre muito queridos comigo". Para quem pensa que ele anda à procura de uma respeitabilidade académica que lhe faltava, com a história da licenciatura, Sócrates responde que esse "ponto de vista é mesquinho e apalermado, próprio da maledicência portuguesa". "Em primeiro lugar, nunca tive nenhum problema com a minha vida académica, sempre fui um tipo com sucesso no liceu e nunca fui um filho do insucesso escolar."
E o exame de Inglês Técnico ao fim de semana? A cara altera-se pouco. "Se quiser falar disso... falo para que compreenda o que aconteceu. Fiz o 7.º ano com 16 anos no Liceu Nacional da Covilhã. Fui para Coimbra, para o Instituto Superior de Engenharia de Coimbra. Estamos em 75, anos da brasa, e o meu pai achou que a universidade estava em greve e disse-me para ir para o instituto, onde ao menos havia aulas. Cheguei a Coimbra com o Luís Patrão, meu amigo de infância da Covilhã. Foi meu chefe de gabinete e chefe de gabinete do Guterres. Ele estava no 3.º ano de Direito em Coimbra, era já um 'doutor', e o pai ofereceu-lhe um Fiat 127 de presente, azul-escuro. O carro chegou a Coimbra carregado com as minhas malas. Fui estudar."» in http://expresso.sapo.pt/socrates-nunca-tinha-tido-uma-vida-como-a-de-paris=f836425#ixzz2i6G1LPYc
Sócrates apanhado nas malhas das trafulhices por CAZIMAR
As obras que Sócrates assinou por CAZIMAR
(SMITH ACUSA SÓCRATES DE SER CORRUPTO)
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