12/02/09

Ciência: Charles Darwin nasceu há 200 anos, e deixou uma marca indelével na Ciência Moderna!


«CELEBRAR O LEGADO DE DARWIN


FILOMENA NAVES
Aniversário. O naturalista inglês Charles Darwin nasceu há 200 anos em Shrewsbury, na Inglaterra. A viagem que fez à volta do mundo no famoso navio 'Beagle' acabaria por mudar a sua vida e repercutir-se profundamente na ciência. Mas não se livrou de polémica

CELEBRAR O LEGADO DE DARWIN


Quando embarcou, em 1931, como naturalista, no HMS Beagle, para uma viagem que devia durar dois anos, Charles Darwin não sabia que isso iria mudar a sua vida e muito menos revolucionar a história da ciência e a forma como a humanidade se vê a si própria e à vida.
Hoje, dia em que se comemoram 200 anos sobre o nascimento de Charles Darwin, o legado do naturalista inglês continua actual e vivo, nos caminhos trilhados pela biologia molecular e genética, mas também na biotecnologia e na própria biologia da evolução. Foram as suas ideias que abriram este caminho.
Em vez de dois anos, Charles Darwin esteve cinco anos em viagem à volta do mundo. Um percurso que, por circunstâncias da geografia, teve a sua primeira e última escala em território português. A primeira, à ida, na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, hoje independente. A última, no regresso, na Terceira, nos Açores. Entre ambas as paragens, o jovem Darwin teve o privilégio de observar a diversidade de espécies no Brasil, tropeçou em fósseis de animais gigantes, que o puseram a pensar na razão porque eles se teriam extinguido e, claro, passou mais de um mês nas ilhas Galápagos, onde se cruzou com tartarugas e pássaros e se horrorizou com o aspecto das iguanas.
Durante esses cinco anos no Beagle, o naturalista atento e curioso coleccionou 1529 espécies, que levou de regresso ao seu país, acondicionadas em garrafas com álcool, levou tartarugas vivas, 3907 espécimens secos, 368 páginas de notas sobre zoologia, mais 1383 de geologia e um diário com 770 páginas. Teve tempo ainda para ler Princípios da Geologia, de Charles Lyell's, que o familiarizou com os processos geológicos mudavam naturalmente a face da Terra, conta a Scientific American.
Darwin regressou a Inglaterra em 1836 e nos anos seguintes, publicar um livro sobre a viagem e desenvolveu o essencial da sua teoria da evolução, embora só tenha publicado On the Origin of Species (A Origem das Espécies) em 1959, depois de saber que um outro naturalista inglês, Russel Wallace, estava a desenvolver uma ideia idêntica.
On the Origin of Species (cujos 150 anos de publicação também se comemoram este ano) defendia a origem comum de toda a vida actual num organismo ancestral. A selecção natural dos mais aptos era uma das suas ideias centrais. O livro grangeou adeptos e causou polémica. Até hoje, pela voz dos criacionistas, a polémica continua. Mas o que ciência demonstrou de muitas maneiras neste século e meio foi que Darwin tinha razão. Na verdade, não há biologia sem evolução.» in http://dn.sapo.pt/2009/02/12/centrais/celebrar_o_legado_darwin.html


«Charles Darwin
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Charles Robert Darwin
Charles Robert Darwin
Durante a sua vida, Charles Darwin tornou-se famoso internacionalmente como um influente cientista estudando tópicos controversos.
Nascimento 12 de fevereiro de 1809
Shrewsbury, Shropshire, Inglaterra
Morte 19 de abril de 1882 (73 anos)
Downe, Kent, Inglaterra
Nacionalidade Flag of United Kingdom.svg britânico
Etnicidade Caucasiana
Campo(s) História natural, naturalismo
Instituições Royal Geographical Society
Conhecido(a) por Teoria da Evolução, seleção natural, seleção sexual
Influência(s) Charles Lyell
Joseph Dalton Hooker
Influenciado(s) Thomas Henry Huxley
Prêmio(s) Medalha Real (1853), Medalha Wollaston (1859), Medalha Copley (1964)
Cônjuge(s) Emma Darwin
Postura religiosa anglicana; agnóstica depois de 1851[carece de fontes?]
Assinatura Assinatura de Charles Darwin
Neto de Erasmus Darwin e também neto de Josiah Wedgwood
Charles Robert Darwin FRS (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual[1]. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado o paradigma central para explicação de diversos fenômenos na Biologia.[2] Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.
Darwin começou a se interessar por história natural na universidade enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia.[3] A sua viagem de cinco anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao desenvolvimento da teoria da Seleção Natural.[4] Consciente de que outros antes dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar possíveis objeções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em 1858.[5]
Em seu livro de 1859, "A Origem das Espécies" (do original, em inglês, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life), ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral comum, por meio de seleção natural.[1] Esta se tornou a explicação científica dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex, 1871) e "A Expressão da Emoção em Homens e Animais" (The Expression of the Emotions in Man and Animals, 1872).
Em reconhecimento à importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster, próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton.[6] Foi uma das cinco pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século XIX.[7]

Índice

[esconder]

Biografia

Infância e educação

Charles Darwin com sete anos, em 1816, um ano antes da morte da sua mãe.
Charles Darwin nasceu na casa da sua família em Shrewsbury, Shropshire, Inglaterra, em 12 de fevereiro de 1809.[8] Ele foi o quinto dos seis filhos do médico Robert Darwin e sua esposa Susannah Darwin. Seu avô paterno foi Erasmus Darwin e seu avô materno, o famoso ceramista Josiah Wedgwood, ambos pertencentes à proeminente e abastada família Darwin-Wedgwood e à elite intelectual da época. Sua mãe morreu quando ele tinha apenas oito anos. No ano seguinte, em 1818, Darwin foi enviado para a escola Shrewsbury.[9] Ali, ele só se interessava em colecionar minerais, insetos e ovos de pássaros, caça, cães e ratos.
Em 1825, depois de passar o verão como médico aprendiz ajudando o seu pai no tratamento dos pobres de Shropshire, Darwin foi estudar medicina na Universidade de Edimburgo. Contudo, sua aversão à brutalidade da cirurgia da época levou-o a negligenciar os seus estudos médicos. Na universidade, ele aprendeu taxidermia com John Edmonstone, um ex-escravo negro, que lhe contava muitas histórias interessantes sobre as florestas tropicais na América do Sul.[10] Em seu segundo ano, Darwin se tornou um ativo participante de sociedades estudantis para naturalistas. Participou, por exemplo, da Sociedade Pliniana, onde se liam comunicações sobre história natural. Durante esta época, ele foi pupilo de Robert Edmund Grant, um pioneiro no desenvolvimento das teorias de Jean-Baptiste Lamarck e do seu avô Erasmus Darwin sobre a evolução de características adquiridas.[11] Darwin tomou parte das investigações de Grant a respeito do ciclo de vida de animais marinhos. Tais investigações contribuíram para a formulação da teoria de que todos os animais possuem órgãos similares e diferem apenas em complexidade. No curso de história natural de Robert Jameson, ele aprendeu sobre geologia estratigráfica. Mais tarde, ele foi treinado na classificação de plantas enquanto ajudava nos trabalhos com as grandes coleções do Museu da Universidade de Edimburgo.[12]
Em 1827, seu pai, decepcionado com a falta de interesse de Darwin pela medicina, matriculou-o em um curso de Bacharelado em Artes na Universidade de Cambridge para que ele se tornasse um clérigo.[13] Nesta época, clérigos tinham uma renda que lhes permitia uma vida confortável e muitos eram naturalistas uma vez que, para eles, "explorar as maravilhas da criação de Deus" era uma de suas obrigações. Em Cambridge, entretanto, Darwin preferia cavalgar e atirar a ficar estudando. Ele também passava muito do seu tempo coletando besouros com o seu primo William Darwin Fox. Este o apresentou ao reverendo John Stevens Henslow, professor de botânica e especialista em besouros que, mais tarde, viria a se tornar o seu tutor. Darwin ingressou no curso de história natural de Henslow e se tornou um de seus alunos favoritos. Durante esta época, Darwin se interessou pelas ideias de William Paley, em particular, a noção de projeto divino na natureza.[14] Em suas provas finais em janeiro de 1831, ele se saiu muito bem em teologia e, mesmo tendo feito apenas o suficiente para passar no estudo de clássicos, matemática e física, foi o décimo colocado entre 178 aprovados.[15]
Seguindo os conselhos e exemplo de Henslow, Darwin não se apressou em ser ordenado. Inspirado pela narrativa de Alexander von Humboldt, ele planejou se juntar a alguns colegas e visitar a Tenerife para estudar história natural dos trópicos. Como preparação, Darwin ingressou no curso de Geologia do reverendo Adam Sedgwick, um forte proponente da teoria de projeto divino, e viajou com ele como um assistente no mapeamento estratigráfico no País de Gales.[16] Contudo, seus planos de viagem à Ilha da Madeira foram subitamente desfeitos ao receber uma carta que lhe informava a morte de um dos seus prováveis colegas de viagem. Outra carta, entretanto, recebida ao retornar para casa, o colocaria novamente em viagem. Henslow havia recomendado que Darwin fosse o acompanhante de Robert FitzRoy, capitão do barco inglês HMS Beagle, em uma expedição de dois anos que deveria mapear a costa da América do Sul.[17] Isto lhe daria a oportunidade de desenvolver a sua carreira como naturalista. Esta se tornaria uma expedição de quase cinco anos que teria profundo impacto em muitas áreas da Ciência.

A viagem do Beagle

O percurso da viagem do HMS Beagle.
A viagem do Beagle durou quatro anos e nove meses, dois terços dos quais Darwin esteve em terra firme.[1][18] Ele estudou uma rica variedade de características geológicas, fósseis, organismos vivos e conheceu muitas pessoas, entre nativos e colonos. Darwin coletou metodicamente um enorme número de espécimes, muitos dos quais novos para a ciência. Isto estabeleceu a sua reputação como um naturalista e fez dele um dos precursores do campo da Ecologia, particularmente a noção de Biocenose. Suas anotações detalhadas mostravam seu dom para a teorização e formaram a base para seus trabalhos posteriores, bem como forneceram visões sociais, políticas e antropológicas sobre as regiões que ele visitou.[19]
Durante a viagem, Darwin leu o livro "Princípios da Geologia" de Charles Lyell, que descrevia características geológicas como o resultado de processos graduais ocorrendo ao longo de grandes períodos de tempo. Ele escreveu para casa que via formações naturais como se através dos olhos de Lyell: degraus planos de pedras com o aspecto característico de erosão por água e conchas na Patagônia eram sinais claros de praias que haviam se elevado;[20] no Chile, ele experimentou um terremoto e observou pilhas de mexilhões encalhadas acima da maré alta o que mostrava que toda a área havia sido elevada; e mesmo no alto dos Andes ele foi capaz de coletar conchas. Darwin ainda teorizou que atóis de coral iam se formando gradualmente em montanhas vulcânicas à medida que estas afundavam no mar, uma ideia confirmada posteriormente quando o Beagle esteve nas ilhas Cocos (keeling).[21][22]
Na América do Sul, ele descobriu fósseis de animais extintos como o megatério e o gliptodonte em camadas que não mostravam quaisquer sinais de catástrofe ou mudanças climáticas. Naquele tempo, ele pensava que aquelas eram espécimes similares às encontradas na África mas, após a sua volta, Richard Owen lhe mostrou que os fósseis encontrados eram mais similares a animais não extintos que viviam na mesma região (preguiças e tatus).[23] Na Argentina, duas espécies de ema viviam em territórios separados mas compartilhavam áreas comuns. Nas ilhas Galápagos, Darwin descobriu que cotovias (mockingbirds) diferiam de uma ilha para outra. Ao retornar à Inglaterra, foi lhe mostrado que o mesmo ocorria com as tartarugas e tentilhões. O rato-canguru e o ornitorrinco, encontrados na Austrália, eram animais tão estranhos que levaram Darwin a pensar que "Um incrédulo... poderia dizer que 'seguramente dois criadores diferentes estiveram em ação'". Todas estas observações o deixaram muito intrigado e, na primeira edição de "A Viagem do Beagle", ele explicou a distribuição das espécies à luz da teoria de Charles Lyell de "centros de criação". Em edições posteriores, ele já dava indicações de como via a fauna encontrada nas Ilhas Galápagos como evidência para a evolução: "é possível imaginar que algumas espécies de aves neste arquipélago derivam de um número pequeno de espécies de aves encontradas originalmente e que se modificaram para diferentes finalidades".
HMS Beagle na Austrália (centro), aquarela pintada por Owen Stanley em 1841.
Três nativos foram trazidos de volta pelo Beagle para a Terra do Fogo. Eles tinham sido "civilizados" na Inglaterra nos dois anos anteriores, ainda que os seus parentes parecessem à Darwin selvagens pouco acima de outros animais.[24] Em um ano, entretanto, aqueles missionários voltaram ao que eram e, de fato, preferiam esta condição uma vez que não quiseram retornar à Inglaterra.[25] Esta experiência somada a repulsa de Darwin pela escravidão[26] e outros abusos que ele viu em vários lugares, tais como o tratamento desumano dos nativos por colonos ingleses na Tasmânia, o persuadiram de que não há justificativa moral para maltratar outros homens baseado no conceito de raça. Ele passou então a acreditar que a humanidade não se encontrava tão distante dos outros animais como diziam seus amigos do clero.
A bordo do barco, Darwin sofria constantemente de enjoo. Em outubro de 1833 ele pegou uma febre na Argentina e em julho de 1834, enquanto retornando dos Andes a Valparaíso, adoeceu e ficou um mês de cama. De 1837 em diante, Darwin passou a sofrer repetidamente de dores estomacais, vômitos, graves tremores, palpitações, e outros sintomas. Estes sintomas se agravavam particularmente em épocas de estresse, tais como quando tinha de lidar com as controvérsias relacionadas à sua teoria. A causa da doença de Darwin foi desconhecida durante a sua vida e tentativas de tratamento tiveram pouco sucesso. Uma ideia esposada por Kettlewell e Julian Huxley, no início da década de 1960, defende que ele contraiu a Doença de Chagas ao ser picado por um inseto na América do Sul. No entanto, os autores reconhecem que especialistas nessa doença indicam que não há concordância dos sintomas de Darwin com os da doença. Outras possíveis causas incluem problemas psicológicos e a doença de Ménière.

Carreira como cientista e concepção da teoria

Ainda jovem, Charles Darwin ingressou na elite científica.
Enquanto Darwin ainda estava em viagem, Henslow cuidadosamente cultivou a reputação de seu antigo pupilo fornecendo a vários naturalistas os espécimes fósseis e cópias impressas das descrições geológicas que Darwin fazia.[27] Quando o Beagle retornou em 2 de outubro de 1836, Darwin era uma celebridade no meio científico. Ele visitou a sua casa em Shrewsbury e descobriu que seu pai havia feito vários investimentos de forma que Darwin pudesse ter uma vida tranquila. Mais que isto, ele poderia ter uma carreira científica autofinanciada. Darwin foi então a Cambridge e convenceu Henslow a fazer descrições botânicas das plantas que ele havia coletado. Depois se dirigiu a Londres onde procurou os melhores naturalistas para descrever as suas outras coleções de forma a poder publicá-las posteriormente. Um entusiasmado Charles Lyell encontrou Darwin em 29 de outubro e o apresentou ao jovem e promissor anatomista Richard Owen. Depois de trabalhar na coleção de ossos fossilizados de Darwin no Royal College of Surgeons, Owen surpreendeu a todos ao revelar que alguns dos ossos eram de tatus e preguiças gigantes extintas. Isto melhorou a reputação de Darwin. Com a ajuda entusiasmada de Lyell, Darwin apresentou seu primeiro artigo na Geological Society de Londres em 4 de janeiro de 1837, afirmando que a massa terrestre da América do Sul estava se erguendo lentamente. No mesmo dia, Darwin apresentou seus espécimes de mamíferos e aves à Zoological Society. Os mamíferos ficaram aos cuidados de George R. Waterhouse. Embora, em princípio, os pássaros parecessem merecer menos atenção, o ornitólogo John Gould revelou que o que Darwin pensara serem corruíras (wrens), melros e tentilhões levemente modificados de Galápagos eram de fato tentilhões, mas cada um de uma espécie distinta. Outros no Beagle, incluindo o capitão FitzRoy, também tinham coletado estes pássaros mas haviam sido mais cuidadosos com suas anotações, o que permitiu a Darwin determinar de que ilha cada espécie era originária.[28]
Em Londres, Darwin ficava com o seu irmão e livre pensador Erasmus e, em jantares, eles encontravam-se com outros pensadores que imaginavam um Deus guiando a sua criação unicamente por meio de leis naturais. Entre eles, estava a escritora Harriet Martineau, cujas histórias promoviam a reforma das leis de proteção social de acordo com as ideias de Malthus. Nos meios científicos, ideias como a transformação de uma espécie em outra (transmutação) eram controversamente associadas com radicalismo político. Por isto, Darwin preferia a respeitabilidade de seus amigos mesmo quando não concordava plenamente com as ideias deles, tais como a crença de que a história natural devesse justificar religiões ou ordem social.
Em 17 de fevereiro de 1837, Lyell aproveitou o seu discurso presidencial na Geological Society para apresentar as descobertas de Owen em relação aos fósseis de Darwin, enfatizando as implicações do fato de que espécies extintas encontradas em uma região fossem relacionadas a outras que viviam atualmente na mesma região.[29] Neste mesmo encontro, Darwin foi eleito para o conselho da Geological Society. Ele já tinha sido convidado por FitzRoy para contribuir com o seu diário e notas pessoais para a seção de história natural do livro que o capitão estava escrevendo sobre a viagem do Beagle. Darwin também estava trabalhando em um livro sobre a geologia da América do Sul. Ao mesmo tempo, ele especulava sobre a transmutação de espécies no caderno de anotações que ele tinha iniciado no Beagle. Outro projeto que ele iniciou na mesma época foi a organização dos relatórios dos vários especialistas que haviam trabalhado em suas coleções em um livro de múltiplos volumes chamado "Zoologia da viagem do H.M.S. Beagle" (Zoology of the Voyage of H.M.S. Beagle). Darwin concluiu o seu diário em 20 de junho e, em julho, iniciou seu livro secreto sobre transmutação, onde desenvolveu a hipótese de que, apesar de cada ilha de Galápagos ter sua própria espécie de tartaruga, todas elas eram originárias de uma única espécie que tinha se adaptado à vida nas diferentes ilhas de diferentes modos.
Sob a pressão de concluir Zoologia e corrigir as revisões de seu diário, a saúde de Darwin deteriorou. Em 20 de setembro de 1837, ele sofreu palpitações do coração e foi passar um mês no campo para se recuperar. Ele visitou Maer Hall onde sua tia inválida estava sob os cuidados de sua irmã Emma Wedgwood e entreteve seus parentes com as histórias de suas viagens. Após o seu retorno do campo, ele evitava tomar parte de eventos oficiais que poderiam lhe tomar um tempo precioso. Contudo, por volta de março de 1838, William Whewell o recrutou como secretário da Geological Society. Mas logo a sua doença o forçou a novamente deixar seu trabalho e ele seguiu para Escócia para "fazer geologia". Ali, visitou Glen Roy para ver um fenômeno conhecido como "estradas" (roads) que ele (incorretamente) identificou como praias que se elevaram.
Charles casou com a sua prima Emma Wedgwood.
Completamente recuperado, ele retornou a Shrewsbury. Raciocinando cientificamente sobre a sua carreira e ambições, ele fez uma lista com as colunas "Casar" e "Não casar". Entradas na coluna pró-casamento incluíam "companhia constante e um amigo na velhice ... melhor que um cão de qualquer modo," enquanto listado entre as desvantagens estavam "menos dinheiro para livros" e "terrível perda de tempo". Os prós venceram. Ele discutiu a ideia de casar com o pai e então foi visitar sua prima Emma em 29 de julho de 1838. Ele não propôs casamento mas, contrariando os conselhos do pai, contou-lhe sobre as suas ideias de transmutação de espécies. Enquanto os seus pensamentos e trabalho continuavam em Londres, durante o outono, sua saúde voltou a definhar e ele passou a sofrer repetidas crises. Em 11 de novembro ele pediu Emma em casamento e, uma vez mais, lhe falou de suas ideias. Ela aceitou mas permaneceria sempre preocupada que os lapsos de fé de Darwin acabariam por pôr em risco a possibilidade de, como ela acreditava, se encontrarem após a morte.
Darwin considerou o raciocínio de Malthus de que a população humana aumenta mais rapidamente que a produção de alimentos, levando-a a uma competição e tornando qualquer esforço de caridade inútil. Ele viu naquela ideia uma forma de explicar (a) seus achados sobre espécies extintas que se relacionavam mais com outras não extintas encontradas na mesma região, (b) a similaridade entre espécies próximas umas das outras, (c) suas dúvidas derivadas da criação de animais e (d) sua incerteza quanto a existência de uma "lei de harmonia" na natureza. No fim de novembro de 1838, ele começou a comparar o processo de seleção de características feito por criadores de animais com uma natureza Malthusiana selecionando variantes aleatoriamente de forma que "toda a parte de uma nova característica adquirida é colocada em prática e aperfeiçoada", e pensou nisto como "a mais bela parte da minha teoria" de como novas espécies se originam. Ele estava procurando uma casa e acabou por encontrar "Macaw Cottage" na rua Gower, Londres, e então mudou seu "museu" para lá em dezembro. Ele já mostrava sinais de cansaço e Emma lhe escreveu sugerindo que ele descansasse, comentando quase profeticamente "Não adoeça mais meu querido Charley até que eu esteja aí para cuidar de você". Em 24 de janeiro de 1839, Darwin foi eleito membro da Royal Society e apresentou seu artigo sobre as "estradas" de Glen Roy

Casamento e filhos

Darwin em 1842 com o seu filho mais velho, William Erasmus Darwin.
Em 29 de janeiro de 1839, Darwin casou com sua prima Emma Wedgwood em Maer. Depois de primeiro morar em Gower Street, Londres, o casal mudou para Down House em Downe em 17 de setembro de 1842. Os Darwin tiveram dez filhos, três dos quais morreram prematuramente. Muitos deles e de seus netos alcançaram notabilidade.
Muitos dos seus filhos sofreram de doenças ou fraquezas e o temor de Darwin de que isto se devesse ao fato de que ele e Emma eram primos foi expresso em seus textos sobre os efeitos do acasalamento entre indivíduos de linhagens mais próximas (inbreeding) ou mais distantes (crossing).

Evolução por selecção natural

Temendo tanto as críticas científicas quanto as religiosas, Darwin passou décadas desenvolvendo as suas teorias evolutivas quase sempre em segredo.
Darwin era agora um eminente geólogo no meio científico formado por clérigos naturalistas, com uma renda segura e trabalhando secretamente em sua teoria. Ele tinha muito a fazer, escrevendo sobre todos os seus achados e supervisionando a preparação dos vários volumes da "Zoologia" que deveriam descrever as suas colecções. Ele estava convencido da ocorrência da evolução mas, desde muito tempo, sempre esteve consciente de que a ideia de transmutação de espécies era vista como uma blasfêmia, bem como era associada com agitadores democráticos radicais na Inglaterra; portanto, a publicação de suas ideias poderia significar a demolição de sua reputação e, consequentemente, a sua ruína. Assim, ele fazia experimentos minuciosos com plantas e consultava frequentemente muitos criadores de animais, incluindo criadores de pombos e porcos, na tentativa de encontrar repostas convincentes para todos os contra-argumentos que ele conseguia antever.
Quando FitzRoy publicou seu livro sobre a viagem do Beagle em maio de 1839, o diário e comentários de Darwin foram um grande sucesso. Mais tarde naquele ano, o diário foi publicado isoladamente em um livro que se tornou um sucesso de vendas hoje conhecido como "A Viagem do Beagle" (The Voyage of the Beagle). Em Dezembro de 1839, durante a primeira gravidez de Emma, a saúde de Darwin voltou a ficar comprometida e ele conseguiu avançar muito pouco em seus trabalhos no ano seguinte.
Darwin tentou explicar sua teoria para amigos mais próximos, mas eles demoraram a mostrar interesse e pensavam que uma selecção exige um seleccionador divino. Em 1842 a família se moveu para a sua casa no campo (Down House) para escapar da pressão de Londres. Ali, Darwin escreveu um pequeno texto esboçando a sua teoria que, em 1844, seria expandido para um documento de 240 páginas intitulado "Ensaio". Darwin completou seu terceiro livro sobre geologia em 1846. Auxiliado por um amigo, o jovem botânico Joseph Dalton Hooker, ele iniciou um estudo aprofundado sobre cracas. Em 1847, Hooker leu o "Ensaio" e fez comentários que forneceram a Darwin a opinião externa que ele precisava.
Darwin temia publicar a teoria de forma incompleta considerando o fato de que as suas ideias sobre evolução poderiam ser altamente controversas se, de fato, alguma atenção fosse dada a elas. Outras ideias sobre evolução - especialmente o trabalho de Jean-Baptiste Lamarck - tinham sido consistentemente rejeitadas pela comunidade científica britânica e foram associadas à noção de radicalismo político. A publicação anónima de "Vestígios da História Natural da Criação" (Vestiges of the Natural History of Creation) em 1844 gerou outra controvérsia sobre radicalismo e evolução e foi severamente atacada pelos amigos de Darwin, o que assegurava que nenhum cientista de reputação iria querer estar associado com tais ideias.
Para tentar tratar a sua doença, Darwin foi a um spa em Malvern em 1849 e, para a sua surpresa, verificou que os dois meses de tratamento com água o ajudaram. Em seu estudo sobre cracas ele descobriu "homologias" que suportavam a sua teoria por mostrar que partes de um corpo levemente modificadas poderiam servir a funções diferentes em novos contextos. Foi então que a sua querida filha Annie adoeceu despertando novamente os seus temores de que sua doença pudesse ser hereditária. Após um longo sofrimento, ela morreu e Darwin perdeu toda a sua fé em um Deus benevolente.
Nesta época, ele conheceu o jovem naturalista, e livre pensador, Thomas Huxley que se tornaria um amigo próximo e grande aliado. O trabalho de Darwin sobre cracas (Cirripedia) lhe valeu a medalha real da Royal Society em 1853, estabelecendo definitivamente a sua reputação como biólogo. Ele completou este estudo em 1854 e voltou a sua atenção para a sua teoria de transmutação de espécies.

Darwin vs Mendel

Mendel foi o primeiro geneticista conhecido. Com os seus estudos, por muito que contendo factores alienígenas incontroláveis, Mendel comprovou que geneticamente (termo ainda não referido por este) os factores e características passavam de pais para filhos, hereditariamente, na sua regra de 3:1. Esta explicação era a justificação necessária na teoria evolucionista de Darwin, para explicar a maneira como algumas características “evoluíam” e outras se extinguiam.
Porém, ainda que as teorias de Mendel se enquadrassem perfeitamente nas ideias de Darwin, na altura em que Mendel as começou a estudar, em nada auxiliaria na teoria evolutiva. Ainda não existiam meios de comprovar completamente os dados que Mendel obtinha nas suas experimentações (pelo que se explica os quase 35 anos que as suas descobertas permaneceram na escuridão), e o próprio Mendel não interligava as suas teorias com algo relacionado com evolução (enquadremos a situação no termo histórico da época, Mendel era um monge devotado, logo completamente Criacionista). Para não falar do facto de que na altura, era impossível Mendel aliar as suas descobertas a Darwin, ou Darwin aceitar as descobertas de Mendel. Não é por um cientista estar a escrever uma teoria evolucionária, que irá englobar nesta todas as ideias “tresloucadas” da altura. Sendo que se Darwin englobasse a teoria de Mendel na sua, ou se incluísse dados desta, era mais um argumento impossível de comprovar, e mais um motivo de polémica e de descrédito para o seu nome no seio da comunidade científica (algo que Darwin temia).
A genética e a evolução Darwiniana foram inimigos desde o início de ambos os conceitos. Ao mesmo tempo que Darwin afirmava que os seres podiam “evoluir” para outros seres, Mendel demonstrava que características individuais mantinham-se constantes. Enquanto as ideias de Darwin se baseavam em fundamentos erróneos e não testados sobre hereditariedade, as conclusões de Mendel foram fundadas em experimentação cuidada.”
Se Darwin pudesse aceder aos trabalhos de Mendel já comprovados, tal poderia levar a que mudasse a sua teoria, adicionando factos e argumentos que se enquadram bem na teoria evolutiva, mas enquanto os conceitos de Darwin se baseavam em “variação, mutação, e “ligeira” hereditariedade”, os de Mendel assentavam em “variação descontinua e hereditariedade extremamente acentuada, sem mutações”.
Então, se Darwin tivesse tomado conhecimento das teorias de Mendel na altura, pouco poderia mudar, ou auxiliar na teoria evolutiva. Poderia ter encontrado alguma resposta para as suas perguntas, mas não existia na altura maneira de comprovar a genética que apenas começou a ganhar a sua importância no final do século XIX, vistas comprovadas as teorias de Mendel. Logo não existiria uma teoria tão sólida como a que apareceu futuramente (neo-Darwinismo) aliando a evolução à genética, com comprovações científicas e bases em experimentações cuidadosas. Na altura em que a teoria evolutiva foi publicada, mesmo com a ajuda dos trabalhos de Mendel, Charles Darwin nunca teria conseguido interpretar tantos factores, não atingindo uma teoria tão coesa como o Neo-Darwinismo, que aliou todas as áreas da Biologia, tornando a Genética e a Evolução irmãos de mãos dadas.

Anúncio e publicação da teoria

Ver artigos principais: A Origem das Espécies e Evolução.
Darwin encontrou uma resposta para o problema de como gêneros divergem ao fazer uma analogia com as ideias de divisão de trabalho na indústria. Variedades especializadas de um gênero, ao encontrarem nichos nos quais sua especialização é mais útil, forçariam a diversificação em espécies. Ele experimentou com sementes, testando a sua habilidade de sobreviver à água salgada, para determinar se uma espécie poderia se transferir para uma ilha isolada pelo mar. Ele também passou a criar pombos para testar a sua hipótese de que a seleção natural era comparável à "seleção artificial" usada por criadores de pombos.
Capa do livro A Origem das Espécies, de 1859
Foi então que, na primavera de 1856, Lyell leu um artigo sobre a introdução de espécies escrito por Alfred Russel Wallace, um naturalista trabalhando no Bornéo. Ciente da similaridade entre este trabalho e o de Darwin, Lyell pressionou Darwin para que publicasse o quanto antes a sua teoria, de forma a estabelecer precedência. Apesar de sua doença, Darwin iniciou o livro de três volumes intitulado "Seleção Natural" ("Natural Selection"), obtendo espécimes e informações de naturalistas como Asa Gray e o próprio Wallace. Em dezembro de 1857, quando trabalhava em seu livro, Darwin recebeu uma carta de Wallace perguntando se ele se aprofundaria na questão das origens do homem. Ciente dos temores de Lyell, Darwin respondeu: "Eu acho que irei evitar completamente este assunto, uma vez que ele é rodeado de preconceitos, embora eu admita que este é o maior e mais interessante problema para um naturalista". Ele então encorajou Wallace a teorizar sobre o tema, dizendo "não há observações boas e originais sem especulação". Quando o seu manuscrito já alcançava 250 mil palavras, em junho de 1858, Darwin recebeu de Wallace o artigo em que aquele descrevera o mecanismo evolutivo que concebera. Wallace também solicitara a Darwin que o enviasse a Lyell. Darwin assim o fez, embora estivesse chocado que ele tivesse sido "prevenido" do fato. Embora Wallace não tivesse solicitado a publicação, Darwin se ofereceu para enviar o artigo a qualquer revista que ele desejasse. Ele descreveu o que se passava para Lyell e Hooker. Estes concordaram em uma apresentação conjunta na Lynnean Society, em 1 de julho, do artigo intitulado "Sobre a Tendência das Espécies de formarem Variedades; e sobre a Perpetuação das Variedades e Espécies por Meios Naturais de Seleção" (On the Tendency of Species to form Varieties; and on the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection). Infelizmente, o filho caçula de Darwin faleceu e ele não pôde comparecer à apresentação.
O anúncio inicial da teoria atraiu pouca atenção. Ela foi mencionada brevemente em algumas resenhas, mas para a maioria dos revisores era apenas mais uma entre muitas variações de pensamento evolutivo. Nos treze meses seguintes Darwin sofreu com sua saúde precária e fez um enorme esforço para escrever um resumo de seu "grande livro sobre espécies". Recebendo constante encorajamento de seus amigos cientistas, ele finalmente terminou o texto e Lyell cuidou para que o mesmo fosse publicado por John Murray. O livro recebeu o título "Sobre a origem das espécies por meio de seleção natural" (On the Origin of Species by Means of Natural Selection) e, quando foi colocado à venda em 22 de novembro de 1859, esgotou o estoque de 1250 cópias rapidamente. Naquela época, o termo "evolucionismo" implicava criação sem intervenção divina e, por isso, Darwin evitou usar as palavras "evolução" ou "evoluir", embora o livro terminasse anunciando que "um número incontável das mais belas e maravilhosas formas evoluíram e estão evoluindo". O livro só mencionava brevemente a ideia de que seres humanos também deveriam evoluir tal qual outros organismos. Darwin escreveu de forma propositadamente atenuada que "luz será lançada no tocante à origem do homem e sua história".

Reação


Caricatura publicada na revista Hornet, onde Darwin é retratado como um macaco.
O livro de Darwin iniciou uma controvérsia pública que ele acompanhou atentamente, obtendo cortes de jornais de milhares de resenhas, críticas, artigos, sátiras, paródias e caricaturas. Críticos foram rápidos em apontar as implicações não discutidas no livro de que "homens fossem descendentes de macacos" ("men from monkeys"). Entretanto, houve resenhas favoráveis, entre elas, uma publicada no The Times escrita por Huxley que incluía críticas a Richard Owen, um expoente do meio científico que Huxley estava tentando "destronar". Owen pareceu inicialmente neutro mas então escreveu um artigo condenando o livro.
O corpo científico da Igreja da Inglaterra, incluindo os antigos tutores de Darwin em Cambridge, Sedgwick e Henslow, reagiu contra o livro, embora ele tenha sido bem recebido por uma nova geração de jovens naturalistas. Foi quando sete ensaios e resenhas feitas por sete teólogos anglicanos liberais declararam que milagres eram irracionais e atraíram a atenção para si, desviando-a de Darwin.
O confronto mais famoso ocorreu em um encontro da Associação Britânica para o Avanço da Ciência em Oxford. O professor John William Draper fez uma longa apresentação sobre Darwin e progresso social e, então, Samuel Wilberforce, o bispo de Oxford, atacou as ideias de Darwin. Em um acalorado debate, Joseph Hooker defendeu Darwin com tenacidade e Thomas Huxley se estabeleceu como o "bulldog de Darwin" – o mais veemente defensor da teoria evolutiva no palco Vitoriano. Conta-se que tendo sido questionado por Wilberforce se ele descendia de macacos por parte de pai ou de mãe, Huxley murmurou: "O Senhor o deixou em minhas mãos" e respondeu que "preferia ser descendente de um macaco que de um homem educado que usava sua cultura e eloquência a serviço do preconceito e da mentira" (isto é contestado, veja Wilberforce and Huxley: A Legendary Encounter). Logo se espalhou pelo país a história de que Huxley teria dito que preferia ser um macaco a um bispo.
Muitas pessoas sentiam que a visão de Darwin da natureza acabava com a importante distinção entre homem e animais. O próprio Darwin não defendia suas ideias em público, embora ele lesse avidamente tudo sobre o debate. Ele se encontrava frequentemente doente e apenas fazia comentários através de cartas e correspondência. Seu círculo central de amigos cientistas – Huxley, Hooker, Charles Lyell e Asa Gray – ativamente colocavam seu trabalho em discussão nos palcos científico e público, defendendo-o de seus muitos críticos e ajudando-o a ganhar o respeito que lhe valeu a medalha Copley da Royal Society em 1864. A teoria de Darwin também foi usada como base para vários movimentos da época e tornou-se parte da cultura popular. O livro foi traduzido para muitos idiomas e teve numerosas re-impressões. Tornou-se um texto científico acessível tanto para aos novos e curiosos cidadãos da classe média quanto para os trabalhadores e foi aclamado como o mais controverso e discutido livro científico de todos os tempos.

Últimos anos de vida

Em 1881, Darwin foi uma figura eminente, ainda trabalhando em suas contribuições ao pensamento evolutivo que teve um efeito enorme em muitos campos da ciência.
Apesar dos sucessivos problemas de saúde que acometeram Darwin nos seus últimos vinte e dois anos de vida, ele continuou trabalhando avidamente, passando a se dedicar aos aspectos mais controversos do seu "grande livro" que ainda estavam por ser completados: a evolução da espécie humana a partir de animais mais primitivos, o mecanismo de seleção sexual que poderia explicar características de não tão óbvia utilidade além de mera beleza decorativa, bem como sugestões para as possíveis causas subjacentes ao desenvolvimento da sociedade e das habilidades mentais humanas. Seus experimentos, pesquisa e escrita continuaram.
Quando a filha de Darwin adoeceu, ele deixou de lado o seu trabalho e experimentos com sementes e animais para acompanhá-la em seu tratamento no campo. Ali, ele iniciaria o seu interesse por orquídeas selvagens que se desenvolveria em um estudo inovador sobre como as flores serviam para controlar a polinização feita pelos insetos e garantir a fertilização cruzada. Como já observara com as cracas, partes homólogas serviam a diferentes funções em diferentes espécies. De volta ao lar, ele adoeceu novamente em um quarto repleto de experimentos e plantas trepadeiras. Ainda assim, continuou o seu trabalho no livro "Variação" (Variation), que cresceu até ocupar dois volumes, o que o forçou a deixar de lado "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo". Uma vez impresso, o livro foi muito procurado.
A questão da evolução humana tinha sido amplamente discutida pelos seus simpatizantes (e críticos) logo depois da publicação da "Origem das Espécies" mas a contribuição do próprio Darwin para o tema só veio uma década mais tarde com os dois volumes de "A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" em 1871. No segundo volume, Darwin introduziu por completo o seu conceito de seleção sexual e explicou a evolução da cultura humana, as diferenças entre os sexos, a diferenciação entre raças bem como a bela plumagem dos pássaros. Um ano mais tarde, Darwin publicou seu último grande trabalho, "The Expression of the Emotions in Man and Animals", que era focado na evolução da psicologia humana e sua continuidade com o comportamento animal. Ele desenvolveu a sua ideia de que a mente humana e culturas foram desenvolvidas por meio de seleção natural e sexual, uma abordagem que foi revivida com a emergência da psicologia evolutiva. Como ele concluiu em a "Descendência do Homem", Darwin achava que apesar de todas as "qualidades nobres" e "capacidades sublimes" da humanidade:
Cquote1.svg O homem ainda traz em sua estrutura fisica a marca indelével de sua origem primitiva. Cquote2.svg
Darwin
Seus experimentos relacionados à evolução culminaram em cinco livros sobre plantas, e então seu último livro voltou à discussão sobre o efeito que minhocas tinham sobre o solo.
Darwin morreu em Downe, Kent, Inglaterra, em 19 de abril de 1882. Ele deveria ter sido enterrado no jardim da igreja de St Mary em Downe, mas atendendo ao pedido de seus colegas cientistas, William Spottiswoode (Presidente da Royal Society) cuidou para que ele tivesse um funeral de estado e Darwin foi enterrado na abadia de Westminster próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton.

Visão religiosa

Embora vários membros da família de Darwin fossem pensadores livres, abertamente lhes faltando crenças religiosas convencionais, ele inicialmente não duvidava da verdade literal da Bíblia. Ele frequentava uma escola da igreja da Inglaterra e, mais tarde, em Cambridge, estudou teologia Anglicana. Nesta época, ele estava plenamente convencido do argumento de William Paley de que o projeto perfeito da natureza era uma prova inequívoca da existência de Deus. Contudo, as suas crenças começaram a mudar durante a sua viagem no Beagle. Para ele, a visão de uma vespa paralisando uma larva de borboleta para que esta servisse de alimento vivo para seus ovos parecia contradizer a visão de Paley de projeto benevolente ou harmonioso da natureza. Enquanto a bordo do Beagle, Darwin era bastante ortodoxo e poderia citar a Bíblia como uma autoridade moral. Apesar disso, ele via as histórias no velho testamento como falsas e improváveis.
A morte da filha de Darwin, Annie, em 1851 foi o evento que minou definitivamente a crença de Darwin em um Deus benevolente.
Ao retornar, ele investigou a questão de transmutação de espécies. Ele sabia que seus amigos naturalistas e clérigos pensavam em transmutação como uma heresia que enfraquecia as justificativas morais para a ordem social e sabiam que tais ideias revolucionárias eram especialmente perigosas em uma época em que a posição estabelecida da igreja da Inglaterra estava sob constante ataque de dissidentes radicais e ateus. Enquanto desenvolvia secretamente a sua teoria de Seleção Natural, Darwin chegou mesmo a escrever sobre a religião como uma estratégia tribal de sobrevivência, embora ele ainda acreditasse que Deus fosse o legislador supremo. Sua crença continuou diminuindo com o passar do tempo e, com a morte de sua filha Annie em 1851, Darwin finalmente perdeu toda a sua fé no cristianismo. Ele continuou a ajudar a igreja local e colaborar com o trabalho comunitário associado à igreja, mas, aos domingos, ia caminhar enquanto sua família ia para o culto. Em seus últimos anos de vida, quando perguntado sobre a visão que tinha a respeito da religião, ele escreveu que nunca tinha sido um ateu no sentido de negar a existência de Deus e, portanto, se descreveria mais corretamente como um agnóstico.
Charles Darwin contou em sua biografia que eram falsas as afirmações de que seu avô Erasmus Darwin teria clamado por Jesus em seu leito de morte. Darwin concluiu dizendo que "Era tal o estado de sentimento cristão neste país [em 1802].... Nós podemos apenas esperar que nada deste tipo prevaleça hoje". Apesar desta crença, histórias muito parecidas circularam logo após a morte de Darwin, em particular, uma que afirmava que ele havia se convertido logo antes de morrer. Estas histórias foram disseminadas por alguns grupos cristãos até ao ponto de se tornarem lendas urbanas, embora as afirmações tenham sido refutadas pelos filhos de Darwin e sejam consideradas falsas por historiadores.

Legado

A teoria de Darwin de que evolução ocorreu por meio de seleção natural mudou a forma de pensar em inúmeros campos de estudo da Biologia à Antropologia. Seu trabalho estabeleceu que a "evolução" havia ocorrido: não necessariamente por meio das seleções natural e sexual (isto, em particular, só foi comumente reconhecido após a redescoberta do trabalho de Gregor Mendel no início do século XX e o desenvolvimento da Síntese Moderna). Outros antes dele já haviam esboçado a ideia de seleção natural: em sua vida, Darwin reconheceu como tal os trabalhos de William Charles Wells e Patrick Matthew que ele (e praticamente todos os outros naturalistas da época) desconheciam quando ele publicou a sua teoria. Contudo, é claramente reconhecido que Darwin foi o primeiro a desenvolver e publicar uma teoria científica de Seleção Natural e que trabalhos anteriores ao seu não contribuíram para o desenvolvimento ou sucesso da Seleção Natural como uma teoria testável.
Apesar da grande controvérsia que marcou a publicação do trabalho de Darwin, a evolução por seleção natural provou ser um argumento poderoso contrário às noções de criação divina e projeto inteligente comuns na ciência do século XIX. A ideia de que não mais havia uma clara separação entre homens e animais faria com que Darwin fosse lembrado como aquele que removeu o homem da posição privilegiada que ocupava no universo. Para alguns de seus críticos, entretanto, ele continuou sendo visto como o "homem macaco" frequentemente desenhado com um corpo de macaco.

Reconhecimento

Estátua de Charles Darwin no Museu de História Natural de Londres.
Ainda durante a vida de Darwin, muitas espécies de seres vivos e elementos geográficos foram batizados em sua homenagem, entre eles, o Monte Darwin, nos Andes, em celebração ao seu vigésimo quinto aniversário. A capital do Northern Territory na Austrália também foi batizada com o seu nome em comemoração à passagem do Beagle por ali, em 1839. No mesmo território, foram batizados com o seu nome uma universidade e um parque nacional.
As 14 espécies de tentilhões que ele estudou em Galápagos são chamadas "tentilhões de Darwin" em honra ao seu legado. Em 1964, foi inaugurado em Carmbridge o Darwin College em honra à sua família e, parcialmente, porque os Darwin eram os donos do terreno usado. Em 1992, Darwin foi posicionado em décimo sexto lugar na As 100 maiores personalidades da História, compilada pelo historiador Michael H. Hart. Darwin também figura na nota de dez libras introduzida pelo banco da Inglaterra em 2000 em substituição a Charles Dickens. Sua barba impressionante e difícil de ser copiada foi apontada como um dos fatores que contribuíram para a escolha. Darwin também aparece em quarto lugar na 100 Greatest Britons, uma lista compilada por meio de voto popular pela BBC.

Eugenia

Seguindo a publicação da "Origem das Espécies", o primo de Darwin, Francis Galton, aplicou as ideias de Darwin à sociedade, de forma a promover o conceito de "melhorias hereditárias". Ele iniciou este trabalho em 1865, completando-o em 1869. Em "The Descent of Man", Darwin concordou que Galton tivesse demonstrado que "talento" e "genialidade" em humanos eram provavelmente herdados mas acreditava que as mudanças sociais que ele propunha eram muito utópicas. Nem Galton nem Darwin concordavam que o Estado devesse interferir nestas questões. Acreditavam que, no máximo, a hereditariedade deveria ser considerada na escolha de cônjuges. Em 1883, depois da morte de Darwin, Galton começou a chamar a sua filosofia social de Eugenia. No século XX, movimentos de eugenia ganharam popularidade em vários países e foram associados a programas de controle de reprodução tais como leis de esterilização compulsória. Tais movimentos acabaram sendo estigmatizados após serem usados na retórica da Alemanha Nazista em suas metas de alcançar "pureza" racial.

Darwinismo Social

Em 1944 o historiador americano Richard Hofstadter aplicou o termo "Darwinismo Social" para descrever o pensamento desenvolvido durante os séculos XIX e XX a partir das ideias de Thomas Malthus e Herbert Spencer, que aplicaram as noções de evolução e sobrevivência do mais apto às sociedades e nações. Estas ideias caíram em descrédito após serem associadas ao racismo e ao imperialismo. Note que na época de Darwin a diferença entre o que mais tarde seria chamado de "darwinismo social" e simplesmente "darwinismo" não era clara. Contudo, Darwin não acreditava que sua teoria científica implicasse qualquer teoria particular de governo ou ordem social.
O uso do termo "Darwinismo Social" para descrever as ideias de Malthus não é muito adequado, uma vez que Malthus morreu em 1834, portanto antes que a teoria de Darwin tivesse sido concebida. Além disso, de fato, a teoria de Darwin é que foi inspirada em um ensaio de Malthus de 1838, Princípio da População. O "progressivismo" evolutivo de Spencer e suas ideias políticas e sociais também foram muito influenciados pelas ideias de Malthus e seus livros sobre economia (de 1851) e evolução (de 1855) são ambos anteriores à publicação da "Origem das Espécies" (de 1859).

Trabalhos publicados (em inglês)

  • 1836: A LETTER, Containing Remarks on the Moral State of TAHITI, NEW ZEALAND, &c. – BY CAPT. R. FITZROY AND C. DARWIN, ESQ. OF H.M.S. 'Beagle.' [1]
  • 1839: Journal and Remarks (The Voyage of the Beagle)
  • Zoology of the Voyage of H.M.S. Beagle: publicado entre 1839 e 1843 em cinco volumes por vários autores, editado e supervisionado por Charles Darwin: [2]
  • 1842: The Structure and Distribution of Coral Reefs [3]
  • 1844: Geological Observations of Volcanic Islands [4], (versão em francês)
  • 1846: Geological Observations on South America [5]
  • 1849: Geology from A Manual of scientific enquiry; prepared for the use of Her Majesty's Navy: and adapted for travellers in general., John F.W. Herschel ed. [6]
  • 1851: A Monograph of the Sub-class Cirripedia, with Figures of all the Species. The Lepadidae; or, Pedunculated Cirripedes. [7]
  • 1851: A Monograph on the Fossil Lepadidae; or, Pedunculated Cirripedes of Great Britain [8]
  • 1854: A Monograph of the Sub-class Cirripedia, with Figures of all the Species. The Balanidae (or Sessile Cirripedes); the Verrucidae, etc. [9]
  • 1854: A Monograph on the Fossil Balanidæ and Verrucidæ of Great Britain [10]
  • 1858: On the Perpetuation of Varieties and Species by Natural Means of Selection[11]
  • 1859: On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life
  • 1862: On the various contrivances by which British and foreign orchids are fertilised by insects [12]
  • 1868: Variation of Plants and Animals Under Domestication (PDF format), Vol. 1, Vol. 2
  • 1871: The Descent of Man and Selection in Relation to Sex
  • 1872: The Expression of Emotions in Man and Animals [13]
  • 1875: Movement and Habits of Climbing Plants [14]
  • 1875: Insectivorous Plants [15]
  • 1876: The Effects of Cross and Self-Fertilisation in the Vegetable Kingdom [16]
  • 1877: The Different Forms of Flowers on Plants of the Same Species [17]
  • 1879: "Preface and 'a preliminary notice'" em Erasmus Darwin de Ernst Krause[18]
  • 1880: The Power of Movement in Plants [19]
  • 1881: The Formation of Vegetable Mould Through the Action of Worms [20] [21]
  • 1887: Autobiography of Charles Darwin (editado por seu filho Francis Darwin) [22]

Cartas (em inglês)

Referências

  1. a b c van Wyhe 2008
  2. Leff 2000, p. About Charles Darwin
  3. Desmond & Moore 1991, p. 210, 263–274, 284–285
  4. Darwin - At last. American Museum of Natural History. Retrieved on 2007-03-21
  5. Leff 2000, p. Darwin's Burial
  6. BBC NEWS : Politics : Thatcher state funeral undecided (2008-08-02). Página visitada em 2008-08-10.
  7. John H. Wahlert (11 June 2001). The Mount House, Shrewsbury, England (Charles Darwin). Darwin and Darwinism. Baruch College. Página visitada em 2008-11-26.
  8. Darwin 1958, pp. 47–51
  9. Browne 1995, pp. 72–88
  10. Desmond & Moore 1991, p. 42–43
  11. Browne 1995, pp. 47–48
  12. Darwin 1958, p. 57–67
  13. Browne 1995, p. 97
  14. Browne 1995, pp. 128–129, 133–141
  15. Darwin Correspondence Project - Letter 105 — Henslow, J. S. to Darwin, C. R., 24 Aug 1831. Página visitada em 2008-12-29.
  16. Keynes 2000, pp. ix–xi
  17. van Wyhe 2008b, p. 18–21
  18. Browne 1995, pp. 183–190
  19. Desmond & Moore 1991, p. 160–168, 182
  20. Darwin 1958, p 98–99
  21. Browne 1995, p. 223–235
  22. Darwin 1845, pp. 205–208
  23. Keynes 2001, p. 226–227
  24. Darwin 1958, pp. 73–74
  25. Darwin 1835, editorial introduction
  26. Sulloway 1982, pp. 20–23
  27. Desmond & Moore 1991, p. 207–210
    Sulloway 1982, pp. 20–23
  • Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é Charles Darwin.

Ver também

Ligações externas

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