«A Educação em Portugal
Pedem-me um depoimento sobre a questão da Educação em Portugal no Século XXI. Uma vez que não sou competente para dissertar longa ou profundamente sobre esta questão, nem será isso o que se pretende de mim, limito-me a fazer uns comentários que me ocorrem tanto enquanto Pai de 6 Filhos, hoje todos já Homens, como também pessoa activa na vida e gestão de empresas industriais há já mais de 40 anos. Penso, antes de mais, que é necessário separar e distinguir entre Instrução e Educação. Ambas em conjunto fazem parte daquilo a que se chama Formação; são partes integrantes desta, se bem que não exclusivas. Uma pessoa pode ser muito instruída e pouco "ou nada" educada: encontram-se todos os dias, especialmente ao volante. O inverso também é possível, se bem que mais raro.
Ser Educado é saber, instintiva, automática e permanentemente, em qualquer altura ou circunstância, onde estão os limites à liberdade de cada um: qual é o comportamento que se espera de cada um em toda e qualquer situação.
Se ainda se poderá dizer que em Portugal a Instrução tem vindo a progredir, apesar de ainda muito fraca, no que se refere à Educação estamos infelizmente muito mal e aparentemente com tendências a piorar. Isto porque a influência da Família no processo formativo dos seus jovens é hoje, em Portugal, cada vez menor; as Escolas servem mais para instruir (quando o fazem ...) do que para educar.
Uma grande parte das famílias portuguesas vive em relativa abundância há duas ou mais gerações; não tem tido privações significativas; quer generalizadas, quer profundas. Primeiro a Revolução; depois a adesão à Comunidade Europeia, seguida da crescente integração na economia mundial, deu a muitos portugueses uma afluência crescente - sem que para isso tivessem que passar por dificuldades ou sacrifícios muito pesados.
Daqui resulta que todos estes pensam que têm direito a tudo; da sociedade do ser passaram directamente para a sociedade do ter. Para conseguirem ter sempre mais, numa ambição desenfreada intensificada pela publicidade, a família, os hábitos e problemas da vida em família; a transmissão dos costumes, da disciplina e regras de convivência (isto é: a educação), são sistemática e crescentemente preteridas a favor do trabalho, do ordenado, do aumento de receitas. E, logo de seguida, estas são gastas a mais das vezes no consumo de coisas supérfluas ou balôfas.
A verdadeira educação só pode ser dada nas famílias e nas escolas, através dos Pais e Professores. São estes quem com os seus exemplos e ensino transmitem aos mais novos os preceitos que constituem as regras de comportamento em sociedade, e que fazem desta o ambiente em que as pessoas podem desenvolver-se a si e aos outros de forma equilibrada e harmoniosa. Vendo e aceitando as dificuldades, trabalhando e esforçando-se por as ultrapassar, e depois gozando dos benefícios daí resultantes.
É isto a Vida.
Fora disto há a alienação, a dependência, o crime e a degeneração. Está à vista de todos, e não é o Estado, seja ele qual for, que é capaz de resolver a situação. Também isto está mais do que demonstrado, só não vê quem não quer ver. Não acredito que seja possível a qualquer sociedade viver sem família e sem escola; nem tampouco acredito que quer uma como outra venham a modificar-se de forma tão radical como por vezes se ouve falar.
O ciclo que Portugal está a atravessar não é contínuo; nada nesta vida é permanente. É minha convicção que a situação se há-de modificar, e os valores e importância da família se hão-de recompor. A demonstração disto está na simples observação do que se passa nas sociedades e Países mais desenvolvidos do que Portugal, que é hoje quase todo o Mundo Ocidental.
Não precisamos de inventar nada; basta aprender com os outros e procurar seguir-lhes os exemplos, e evitar os erros por eles cometidos: fossemos nós capazes de fazer isto que já iríamos muito bem. Os novos meios técnicos de comunicação à nossa disposição só servem para facilitar a divulgação do saber, não o na Internet exige uma elevada capacidade de auto-controlo que só uma forte educação é capaz de dar. Poderá, aliás, observar-se o "balão" das novas tecnologias: foi de pouca dura, pois havia demasiado improviso e ambição de sucesso fácil. O mercado não tardou a destapar as carecas.
Com a educação passa-se o mesmo: parece fácil e compensador passar-lhe por cima, desprezando os mecanismos tradicionais, queimando etapas e rejeitando esforços. Os resultados vão também sendo vistos: são de novo os Países e Sociedades melhor formadas em todos os sentidos que lenta, talvez, mas com indiscutível segurança, se estão a impor.
Até o próprio Giscard D’Estaing já o reconhece... basta ver o que ele diz em "Les Français"!» texto de António Vasco de Mello, Ex-Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) in Jornal a Página da Educação , ano 10, nº 99.
Pedem-me um depoimento sobre a questão da Educação em Portugal no Século XXI. Uma vez que não sou competente para dissertar longa ou profundamente sobre esta questão, nem será isso o que se pretende de mim, limito-me a fazer uns comentários que me ocorrem tanto enquanto Pai de 6 Filhos, hoje todos já Homens, como também pessoa activa na vida e gestão de empresas industriais há já mais de 40 anos. Penso, antes de mais, que é necessário separar e distinguir entre Instrução e Educação. Ambas em conjunto fazem parte daquilo a que se chama Formação; são partes integrantes desta, se bem que não exclusivas. Uma pessoa pode ser muito instruída e pouco "ou nada" educada: encontram-se todos os dias, especialmente ao volante. O inverso também é possível, se bem que mais raro.
Ser Educado é saber, instintiva, automática e permanentemente, em qualquer altura ou circunstância, onde estão os limites à liberdade de cada um: qual é o comportamento que se espera de cada um em toda e qualquer situação.
Se ainda se poderá dizer que em Portugal a Instrução tem vindo a progredir, apesar de ainda muito fraca, no que se refere à Educação estamos infelizmente muito mal e aparentemente com tendências a piorar. Isto porque a influência da Família no processo formativo dos seus jovens é hoje, em Portugal, cada vez menor; as Escolas servem mais para instruir (quando o fazem ...) do que para educar.
Uma grande parte das famílias portuguesas vive em relativa abundância há duas ou mais gerações; não tem tido privações significativas; quer generalizadas, quer profundas. Primeiro a Revolução; depois a adesão à Comunidade Europeia, seguida da crescente integração na economia mundial, deu a muitos portugueses uma afluência crescente - sem que para isso tivessem que passar por dificuldades ou sacrifícios muito pesados.
Daqui resulta que todos estes pensam que têm direito a tudo; da sociedade do ser passaram directamente para a sociedade do ter. Para conseguirem ter sempre mais, numa ambição desenfreada intensificada pela publicidade, a família, os hábitos e problemas da vida em família; a transmissão dos costumes, da disciplina e regras de convivência (isto é: a educação), são sistemática e crescentemente preteridas a favor do trabalho, do ordenado, do aumento de receitas. E, logo de seguida, estas são gastas a mais das vezes no consumo de coisas supérfluas ou balôfas.
A verdadeira educação só pode ser dada nas famílias e nas escolas, através dos Pais e Professores. São estes quem com os seus exemplos e ensino transmitem aos mais novos os preceitos que constituem as regras de comportamento em sociedade, e que fazem desta o ambiente em que as pessoas podem desenvolver-se a si e aos outros de forma equilibrada e harmoniosa. Vendo e aceitando as dificuldades, trabalhando e esforçando-se por as ultrapassar, e depois gozando dos benefícios daí resultantes.
É isto a Vida.
Fora disto há a alienação, a dependência, o crime e a degeneração. Está à vista de todos, e não é o Estado, seja ele qual for, que é capaz de resolver a situação. Também isto está mais do que demonstrado, só não vê quem não quer ver. Não acredito que seja possível a qualquer sociedade viver sem família e sem escola; nem tampouco acredito que quer uma como outra venham a modificar-se de forma tão radical como por vezes se ouve falar.
O ciclo que Portugal está a atravessar não é contínuo; nada nesta vida é permanente. É minha convicção que a situação se há-de modificar, e os valores e importância da família se hão-de recompor. A demonstração disto está na simples observação do que se passa nas sociedades e Países mais desenvolvidos do que Portugal, que é hoje quase todo o Mundo Ocidental.
Não precisamos de inventar nada; basta aprender com os outros e procurar seguir-lhes os exemplos, e evitar os erros por eles cometidos: fossemos nós capazes de fazer isto que já iríamos muito bem. Os novos meios técnicos de comunicação à nossa disposição só servem para facilitar a divulgação do saber, não o na Internet exige uma elevada capacidade de auto-controlo que só uma forte educação é capaz de dar. Poderá, aliás, observar-se o "balão" das novas tecnologias: foi de pouca dura, pois havia demasiado improviso e ambição de sucesso fácil. O mercado não tardou a destapar as carecas.
Com a educação passa-se o mesmo: parece fácil e compensador passar-lhe por cima, desprezando os mecanismos tradicionais, queimando etapas e rejeitando esforços. Os resultados vão também sendo vistos: são de novo os Países e Sociedades melhor formadas em todos os sentidos que lenta, talvez, mas com indiscutível segurança, se estão a impor.
Até o próprio Giscard D’Estaing já o reconhece... basta ver o que ele diz em "Les Français"!» texto de António Vasco de Mello, Ex-Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) in Jornal a Página da Educação , ano 10, nº 99.
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Este é uma artigo de grande qualidade reflexiva e que nos coloca a todos, educadores e/ou pais, a distinção que nem sempre é feita entre Educar e Instruir. Embora estas duas nobres tarefas sejam quase sempre incluídas na Educação, é importante que a instituição família seja um alicerce da Educação dos jovens. É que sem alicerces, não se edifica uma sociedade verdadeiramente livre e preparada para os novos desafios...
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