02/01/22

História - A última viagem de tráfico de escravos transatlântico com destino nos EUA foi feita em 1860 no Clotilda.


«Fez a última viagem de escravos para os EUA. Após 160 anos encalhado, o Clotilda está quase intacto

A última viagem de tráfico de escravos transatlântico com destino nos EUA foi feita em 1860 no Clotilda. Depois de 100 anos em que aventureiros o tentaram encontrar no rio Mobile Delta, o navio foi descoberto em 2019 e está num bom estado de conservação.

Já há mais de 160 anos que os destroços estavam no fundo lamacento do rio Mobile Delta e desde que foi descoberto em 2019 que a Clotilda têm fascinado os arqueólogos e historiadores que estudam esta que foi a última embarcação a ser usada na venda de escravos para os Estados Unidos, em 1860.

Surpreendentemente, o barco está praticamente intacto, de acordo com um relatório da Comissão Histórica do Alabama. Várias partes da escuna de 26 metros já foram identificadas, incluindo a grande fortificação no paiol do navio que funcionava como uma prisão para os 110 cativos africanos que foram transportados no mar para as Américas em 1860, na viagem final do tráfico escravo nos EUA.

A decisão do capitão William Foster de afundar o barco antes de o incendiar evitou que este causasse muitos danos, escreve o Ancient Origins. O convés superior foi destruído pelo fogo, mas o inferior ficou bem preservado e pode ser estudado.

Há mais de um século que mergulhadores e exploradores procuravam os destroços do Clotilda, já que se sabia que lá estava devido ao testemunho do capitão Foster em tribunal, depois deste ter sido preso em 1808 por ter violado a lei que proibia o tráfico de escravos.

O rio Mobile Delta estende-se numa área de superfície de mais de 8100 hectares, o que dificultou as buscas dos aventureiros. Depois de vários falsos alarmes, o Clotilda foi finalmente descoberto em 2019 pelo explorador Ben Raines.

Os investigadores não esperavam encontrar grande coisa inicialmente devido ao muito tempo que já passou e ao conhecimento de que o barco tinha sido enterrado antes de ser afundado — mas foram surpreendidos com muitas das descobertas.

James Delgado, arqueólogo marítimo cuja empresa está envolvido nas explorações, refere-se ao Clotilda como “uma revelação esplêndida“. “É o naufrágio de um barco de comércio de escravos mais intacto alguma vez descoberto. É porque está no Mobile-Tensaw Delta com água doce e com a lama que o protegeu ainda lá está”, diz.

A fortaleza onde os escravos eram presos era escura, sem dar luz natural e sem ventilação para as centenas de pessoas que lá ficavam durante a viagem de meses no Atlântico. A última viagem em 1860 ocorreu no Verão, sendo o calor mais um dos factores que degradava as condições em que os escravos estavam. Não se sabe quantas das 110 pessoas resistiram, mas suspeita-se que algumas morreram.

Os que sobreviveram integravam um pequeno grupo de africanos de primeira geração que foram emancipados com o fim da Guerra Civil, em 1865. Faziam parte de um grupo conhecido como Takpa people, que falavam Yoruba, oriundos de partes da actual Nigéria. 32 dos ex-escravos formaram uma comunidade própria, a Africatown, para preservarem as suas tradições, que depois se abriu a outros africanos.

Apesar do racismo e da violência que os escravos e os seus descendentes sofreram no sul dos Estados Unidos, a Africatown foi um sucesso e expandiu-se. As comunidades mantiveram a sua identidade, com a única grande mudança a ser a adopção do Cristianismo, e conseguiram empregos em fábricas de papel.

Nos dias de hoje, Africatown faz parte da cidade de Mobile, mas é reconhecido como um bairro histórico pela autarquia e ainda acolhe 100 descendentes dos sobreviventes da última viagem do Clotilda.

A Comissão Histórica do Alabama também já se comprometeu a gastar 1 milhão de dólares nos estudos e na preservação da embarcação, mas ainda não há garantias de que o navio possa ser removido do rio e mostrado publicamente.» in https://zap.aeiou.pt/clotilda-escravos-intacto-160-anos-453434

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