03/05/19

Política Nacional - Um protocolo entre a Câmara da capital e a Associação dos Amigos dos Cemitérios inflamou os ânimos na sessão pública da autarquia desta quarta-feira.




«“Lóbi familiar socialista” já chegou aos cemitérios de Lisboa

Um protocolo entre a Câmara da capital e a Associação dos Amigos dos Cemitérios inflamou os ânimos na sessão pública da autarquia desta quarta-feira. Ante as críticas do vereador do PSD João Pedro Costa, Fernando Medina e José Sá Fernandes adiaram a votação da proposta. Uma assombração na véspera do 25 de Abril

O tema parecia ser um mero cumprimento da ordem de trabalhos da reunião pública da Câmara de Lisboa desta quarta-feira: "aprovar a celebração de protocolo de cooperação" entre a autarquia e a Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa. Mas, de repente, animado pela intervenção do vereador do PSD João Pedro Costa, a criatura ganhou vida própria e escapou ao controlo dos seus criadores.

Em traços gerais, a câmara propunha-se atribuir à Associação dos Amigos dos Cemitérios de Lisboa (AACL) poderes para dinamização de iniciativas nos cemitérios da capital (exposições, concertos, roteiros, entre outras), gerir o Centro Interpretativo do Cemitério dos Prazeres, homenagear personalidades sepultadas na cidade, desenvolver arquivos ou celebrar parcerias com diversas entidades,entre outras competências.

A Câmara cedia ainda um seu espaço no cemitério de Carnide para sede da Associação, além de apoiar a divulgação de atividades desta última entidade.

Tudo parecia na paz dos cemitérios, politicamente falando, quando João Pedro Costa anunciou que iria desfiar os nomes dos corpos sociais da AACL, uma organização fundada em 2017. Antes desse momento, já Fernando Medina, com uma expressão facial a denotar algum incómodo, tentava meter fim à conversa, sugerindo um adiamento da proposta: "Dado o adiantado da hora", sugeriu o presidente da Câmara.

"Entre os órgãos da associação", prosseguiu João Pedro Costa, no que foi de novo interpelado por Medina: "Eu ía propor que nós adiássemos...".

O vereador da oposição não o deixou terminar. "Mas estamos numa reunião pública" [além dos munícipes que se queiram deslocar aos Paços do Concelho, pode ser seguida em direto no site da Câmara].

O líder socialista de Lisboa cobriu a parada: "Adiamos para uma sessão pública".

O eleito do PSD fez ouvidos de mercador: "Se calhar não quer que eu prossiga, mas eu vou prosseguir". E assim fez: "Jorge Ferreira, fotógrafo de campanhas do PS e de eventos da Junta de Freguesia do Lumiar; Pedro Almeida, funcionário do PS no Parlamento; Inês César, sobrinha de Carlos César; a sua mãe, Patrocínia Vale César (deputada municipal do PS) e o seu pai, Horácio Vale César (irmão de Carlos César e ex-assessor de João Soares quando ele foi ministro da Cultura); João Soares; Diogo Leão, deputado do PS; Filipa Brigola, assessora do grupo parlamentar do PS. E podia continuar a elencar nomes", advertiu.

"Temos aqui mais uma vez um lóbi familiar socialista", disse o vereador do PSD.

Não bastava já o friso de militantes e de dirigentes do PS, com laços de família ou somente partidários, a encabeçar a Associação. João Pedro Costa deu ainda outra alfinetada no Executivo socialista de Lisboa. Após ter consultado o plano de atividades da AACL, o vereador do PSD disse que a entidade "já conta com €10 mil de apoio da Câmara de Lisboa, mesmo sem o protocolo ter sido aprovado".

Com este balanço, perguntou João Pedro Costa a Fernando Medina: "O Sr. Presidente sente-se confortável com esta proposta? Ou quer adiá-la?".

A pergunta era simples retórica, pois o vereador do PSD bem sabia que Medina estava mortinho para matar o assunto numa discussão à vista de todos.

Coube a José Sá Fernandes, o signatário da proposta, mitigar os estragos das palavras do vereador do PSD. Enquadrou a atuação da AACL, que já "organizou uma cerimónia evocativa" da morte de Mário Soares e "está a preparar uma exposição" sobre Amália Rodrigues (cujo centenário do nascimento se celebra no próximo ano).

De resto, ante as alegações de João Pedro Costa de que a Associação ficaria com poderes excessivos ("a Câmara quer transferir competências até aqui asseguradas pelos serviços municipais", disse), Sá Fernandes quis relativizar a amplitude das competências que pretende transferir: "Se eles ajudarem a fazer o roteiro dos escritores, dos jardineiros, dos políticos...", comentou.

No remate, afirmou José Sá Fernandes: "Para dissipar quaisquer dúvidas, retiro a proposta. Não vamos criar um drama sobre esta matéria. Vamos adiar".

Para quem assistiu à discussão, não foi bem drama: ele foi mais comédia. Para os socialistas, o "Familygate" já virou mesmo assombração. Nem nos cemitérios estão descansados.» in https://expresso.pt/politica/2019-04-24-Lobi-familiar-socialista-ja-chegou-aos-cemiterios-de-Lisboa#gs.91mpc4



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