«Conto “Fragmentos de uma Existência” (excerto), em "ATÉ SER PRIMAVERA":
No ar, as primeiras brisas do outono antecipavam um sopro frio. Os piares das aves ouviam-se longínquos e vagarosos como uma súplica, à medida que se enchia a mala do táxi com a bagagem e as portas se batiam e se ouvia o barulho metálico dos pneus a roçarem as grades do caminho atravessando os portões deixados abertos, um pó levantado, espesso, a ficar para trás. O portão escancarado e o lugar a fechar-se em si mesmo, sombrio e esguio.
A Celeste entrou no táxi e abandonou-se a um último pensamento confinado ao Chico, como ouvira dizer nos filmes:
Já não sou a mulher a quem lambias o sangue dos nós dos dedos. Por isso, acho que terás de ser outro homem também.
E aquilo ficava para trás. E tudo o que pendia das árvores talvez fosse um sangue também, talvez que as árvores sofressem também.
ANABELA BORGES» in https://www.facebook.com/photo.php?fbid=580652572029121&set=a.186361621458220.43721.100002531506939&type=1&theater
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