14/03/13

Poesia - Por sugestão do Meu Amigo e Poeta, Ângelo Ochôa, um Poema do Grande Poeta de Amarante, Teixeira de Pascoaes: "Canção duma sombra"




"CANÇÃO DUMA SOMBRA

Ai, se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela onde me vou
Debruçar para ouvir a voz das coisas,
Eu não era o que sou.

Se não fosse esta fonte que chorava
E como nós, cantava e que secou...
E este sol que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.

Ai, se não fosse este luar que chama
Os espectros à Vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.

E se a estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o vento que embalou
Meu coração e as nuvens nos seus braços,
Eu não era o que sou.

Ai, se não fosse a noite misteriosa
Que meus olhos de sombras povoou
E de vozes sombrias meus ouvidos,
Eu não era o que sou.

Sem esta terra funda e fundo rio
Que ergue as asas e sobe em claro voo;
Sem estes ermos montes e arvoredos
Eu não era o que sou."

Teixeira de Pascoaes


Carlos Carranca - "Canção de uma Sombra"

Mais: https://lusografias.wordpress.com/2010/11/21/teixeira-de-pascoaes-cancao-de-uma-sombra/

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