«Historiadora brasileira quer analisar o coração de D. Pedro
Depois da exumação dos cadáveres de membros da família real no Brasil ter revelado o excelente estado de conservação do corpo da imperatriz D. Amélia, segunda mulher de D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), a análise do coração do imperador pode ser a etapa seguinte.
Analisar o coração de Dom Pedro I, que está na cidade do Porto, em Portugal, é o próximo passo do estudo conduzido pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel.
Depois da recente exumação dos cadáveres do primeiro imperador do Brasil, D.Pedro I, e das imperatrizes Leopoldina e Amélia, os médicos envolvidos esperam conseguir pormenores sobre a causa da morte do imperador. Para isso será enviado, em breve, um pedido formal, solicitando a Portugal a devida colaboração, já que por decisão testamentária o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde se encontra conservado, como relíquia.
Qualquer que seja a conclusão, as surpresas já começaram. "Trabalho com arqueologia há sete anos mas nunca vi nada igual", disse ao Expresso a historiadora e arqueóloga brasileira Valdirene do Carmo Ambiel, sobre o excelente estado de conservação do corpo de D. Amélia de Leuchtenberg, a segunda mulher de D.Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), que foi recentemente desenterrado do subsolo do Monumento à Independência, em São Paulo, e submetido a sessões de tomografia e ressonânia magnética.
Valdirene Ambiel foi responsável pela recente exumação dos cadáveres das três personagens da história brasileira e portuguesa, após ter conseguido, em 2010, autorização dos descendentes da família real para analisar os seus restos mortais, que estão guardados na cripta do Parque da Independência, na zona sul da cidade, desde 1972.
Retrato nunca visto dos imperadores
Os exames, cujos resultados foram divulgados na semana passada, realizaram-se no Brasil com o apoio do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o maior complexo hospitalar do Brasil. O trabalho foi realizado em sigilo absoluto, entre fevereiro e setembro de 2012.
O objetivo da exumação, segundo Valdirene Ambiel, era verificar as causas de morte, descobrir factos até então desconhecidos dos imperadores e, também, contribuir para a preservação dos corpos. Na passada segunda-feira, a investigadora apresentou a sua tese de mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP: "Estudos de Arqueologia Forense Aplicados nos Remanescentes Humanos dos Primeiros Imperadores do Brasil depositados no Monumento à Independência".
Segundo a arqueóloga brasileira - que sempre morou perto do Monumento à Independência e tinha apenas 11 anos quando o corpo de D. Amélia chegou ao Brasil em 1982, guardando consigo até hoje os recortes de jornais da época -, dos três corpos tomografados só o de D. Amélia, que morreu em Lisboa, estava quase perfeito.
Ao longo de três madrugadas, os restos mortais da família real (um de cada vez) foram transportados para a Faculdade e submetidos a cinco horas de sessões de tomografia e ressonância magnética.
"Pedrão", "Léo" e "Melinha"
Para manter em sigilo a identidade dos cadáveres transportados para a faculdade, os caixões foram identificados com as alcunhas de "Pedrão" (D. Pedro), "Leó"(D. Leopoldina) e "Melinha (D. Amélia).
O primeiro cadáver examinado foi a de D. Leopoldina. "Só encontramos ossos. Não havia sinal de qualquer tipo de embalsamamento. O que pode sustentar a versão - encontrada por Valdirene num Tratado de Embalsamamento do Séc.XVII - de que embalsamar mulheres não era uma tradição em Portugal. No entanto, não podemos deixar de considerar que o corpo dessa imperatriz, ao contrário do de D. Amélia, foi trasladado por três vezes, sendo levado numa carruagem, em 1911, do Convento da Ajuda, que foi demolido, para o Concento de Santo António, ambos no Rio de Janeiro, e daí, em 1954, de comboio, para São Paulo. Há um inventário sobre a trasladação, mas não constam informações sobre o estado do corpo".
No caixão de D. Pedro, nova surpresa. De acordo com a arqueóloga, veem-se sinais de embalsamamento, como "a ausência de pulmões, substituídos por um enchimento à base de serradura", do mesmo modo que foram encontradas costelas com marcas de cortes de lâmina,estando uma delas com uma ponta partida, comprovando que foi por ali que foi retirado o coração. Verifica-se, também, que sofreu uma incisão para a retirada do encéfalo. Na tomografia, encontramos a parte do cránio que foi retirada (para subtrair o cérebro) junto ao corpo".
Corpo de D. Amélia voltou a ser embalsamado
Os corpos de D. Pedro e das imperatrizes Leopoldina e Amélia estão devidamente acondicionados em novas urnas (manteve-se uma das três, em pinho de Portugal, de D. Pedro, que recebeu tratamento contra a humidade) mais resistentes. O cadáver de D. Amélia voltou a ser embalsamado por Valdirene.
Botões e comendas portuguesas do imperador encontrados dentro da urna do imperador foram entregues ao Departamento de Património Histórico da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foi feito um inventário para o Instituto do Património Histórico e Artístico do Governo Federal, com cópia para a família Orleans e Bragança (descendentes da família imperial, no Brasil).
Todas as amostras recolhidas para novos exames - de modo a apurar as causas de morte e também permitir uma melhor preservação dos restos mortais -, sofreram higienização e estão acondicionadas em caixas individuais, lacradas, guardadas na USP. "O material material coletado será útil para que as pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos", afirmou a investigadora.
A segunda fase da investigação dará origem à tese de doutoramento da arqueóloga brasileira. Em breve, as peças encontradas junto ao esqueleto do imperador vão ser expostas ao público.» in http://expresso.sapo.pt/historiadora-brasileira-quer-analisar-o-coracao-de-d-pedro=f788789#ixzz2Lx8CpvrO
(Exumação dos restos mortais de Dom Pedro IV)
(EXUMAÇÃO DOS RESTOS MORTAIS DE DOM PEDRO 1º E SUAS MULHERES)
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