03/08/12

Amarante - Começam hoje as Festas em Honra da Senhora da Graça, Vila Caíz!


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«Filarmónica foi à romaria da Senhora da Graça

Perde-se no tempo a origem da devoção a Nossa Senhora da Graça, na freguesia de Vila Caiz do concelho de Amarante. A capela actual, erigida num monte agreste de penhascos e urzes, substituiu a ancestral, mais simples e modesta, por acção do último padre “eremita” que dela se ocupou, o padre António Augusto Pinto de Magalhães – 1836-1885. 

Padre António, naqueles anos difíceis, em que o poder do clero era contestado por mor das lutas políticas e vitória do liberalismo, promoveu acções de missão e caridade por todas as cercanias da “sua” capela.

A situação geográfica deste templo mariano, a cerca de 500 m de altitude, permite uma visão panorâmica de 360 graus, levando o olhar até bem longe em todos os horizontes cardeais. Pois por todas essas lonjuras se aventurou o padre António na sua acção missionária. 

Enquanto pregava e ensinava, pedia aos catequizados uma prova de fé e esperança: que na vigília da festa em honra de Senhora da Graça – primeiro sábado de Agosto – em todos os sítios donde se avistasse a capela acendessem uma fogueira de pinhas. Arreigou-se tanto na região esta costume, que, em muitos lugares, as crianças e jovens não só activavam fogueiras como armavam arcos vistosos com pinhas a arder.

No alto adro da capela, padre António e, após ele, os responsáveis pela festa respondiam cercando a ermida com o mesmo sinal: uma coroa de luz de pinhas em chamas.

Talvez por isso a festa da Senhora da Graça tivesse nascido, ou se tivesse transformado, mais em peregrinação do que em romaria. Em anos bem recentes – finais do século XX – no primeiro domingo de Agosto reuniam-se as cruzes e peregrinos das paróquias que constituíam a vigararia da Livração para a escalada peregrina do Monte da Senhora da Graça. A reunião final realizava-se junto às Alminhas da Pena, no sopé do monte – outros já se haviam reunido no Largo da Livração. 

Depois, em duas longas filas, com os cabazes para a merenda à cabeça das mulheres, um grupo por cada paróquia seguindo a sua Cruz, dialogando o rosário, iniciavam a longa e íngreme caminhada. A peregrinação terminava com missa campal, que pequena era a capela para tantos peregrinos. Merenda no fim da missa, sesta até à procissão e regresso a casa, família a família. Ainda hoje, agora já com altar fixo, e sem tantos participantes, a missa é campal.

A tradição das fogueiras decaiu. A electrificação das freguesias – progresso necessário – roubou-lhe a graça. A loucura dos incêndios florestais – progresso insano – tornou ilegal a belíssima manifestação: a região a “arder” de fé, vista do alto da Senhora da Graça era um panorama único. Ficou a memória e a fama de santo do seu promotor, o bom padre António.

Foi a este local, já não agreste mas urbanizado – demasiado até – que se deslocou, no passado dia 5 de Agosto, a Filarmónica das Cortes. E foi por mérito próprio, pela fama conquistada com as actuações na Romaria da vizinha Senhora da Livração. Alguém ouviu, gostou, e contactou a direcção da Filarmónica.

Além dos concertos usuais da banda nas romarias, desta vez os músicos tiveram de cantar missa à sombra dum plátano. Missa campal, claro, e transmitida para toda a região pela ERA – Emissora Regional de Amarante.

O maestro Ricardo Botelho brindou a população com uma surpresa: apresentou, em primeira audição para banda, o Hino do Grupo Musical Livracense – ou Tuna da Livração, música composta pelo maestro José Ferreira em 1915. Da fundação desse grupo fizeram parte elementos de Vila Caiz. Mais uma vez o autor destas linhas agradece a simpatia do Maestro Ricardo Botelho.

Tudo correu bem. A actuação da Banda de cá agradou às gentes de lá. O contrário não será tão verdadeiro. Mas tudo se há-de resolver.

Quem, nesse dia 5 de Agosto de 2007, subisse a um dos penedos sul, ao mais alto dos mais altos que cercam o adro da capela da Senhora da Graça, descobriria um sinal: a cinza recente da última fogueira: na véspera, para que a tradição mantenha a chama, alguém a acendeu. Com fé e esperança.


(Procissão de velas, Festas da senhora da Graça, Vila Caiz - Augusto F.)

(GRUPO DE BOMBOS DE VILA CAIZ)

(Fogo de artifício festas da Senhora da Graça, VILA CAIZ)


2 comentários:

  1. Olá. Como se chama ou de onde vem a relote que vendiam as bolas de Berlim? Obrigado.

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  2. Não lhe sei responder a isso...

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