29/08/12

Barra do Douro - Naufrágio do vapor “Porto“, depois de bater no rochedo da Lage, num dia de temporal, a 29 de Março (dia de aniversário do desastre da Ponte das Barcas, em 1809), tendo-se salvado apenas três náufragos!



«Naufrágios na Barra do Douro

Em 1852, dá-se uma tragédia que acaba por ser determinante, ainda que a longo prazo, para a evolução das obras da Barra. Trata-se do naufrágio do vapor “Porto“, depois de bater no rochedo da Lage, num dia de temporal, a 29 de Março (dia de aniversário do desastre da Ponte das Barcas, em 1809), tendo-se salvado apenas três náufragos.

A cidade chorou como nunca esta tragédia, que varreu algumas das melhores famílias da burguesia, cujos elementos se deslocaram a Lisboa. Não era uma das habituais tragédias de marítimos, de pescadores que, arrostando quotidianamente com o perigo, se viam de vez em quando devorados por águas revoltas. Tratava-se agora de passageiros, incluindo velhos e crianças, que, julgando-se a salvo num novo transporte, acabavam por sucumbir ali, junto à margem, aos olhos de toda a gente e perante a incapacidade de socorro de terra. Esta impotência era a face visível da incapacidade da sociedade para aplicar os meios capazes de diminuírem os perigos que se adivinhavam, apesar de há mais de meio século se cobrarem impostos para estas obras — o imposto de tonelagem específico para as obras da barra, mas cujas verbas acabavam por ser desviadas da sua aplicação principal.

Para além da comoção geral, há desde logo algumas medidas, em resposta a solicitações da Associação Comercial do Porto, como a ordem governamental, no sentido de “cobrar e arrecadar em separado” o imposto destinado às obras da Barra, para evitar  o seu descaminho, destinando-se ainda metade do imposto destinado às obras do Palácio da Bolsa para a reconstrução do antigo estabelecimento do salva-vidas antes existente na Foz. Criou-se ainda uma “sociedade humanitária” para socorros a náufragos, que arrancou desde logo com os 148 sócios presentes na assembleia geral da Associação Comercial do Porto convocada para discutir esta tragédia. Note-se, no entanto, que a reorganização do Salva-vidas não foi reorganizado pelo Governo, o que levou posteriormente a Associação a solicitar o recebimento da totalidade do imposto para as obras da Bolsa, ficando a seu cargo as despesas para a manutenção do Salva-vidas, o que foi conferido por carta de lei de 24 de Julho  de 1856.




Naufrágio do vapor PORTO em 1852, segundo painel de azulejos na Foz (Instituto de Socorros a Náufragos).

NOTICIAS MARÍTIMAS (por ocasião do naufrágio do vapor Porto)

Março de 1852

Dia 29
7h      Fora da Barra nada se avista. Vento S (forte) e o mar um tanto agitado.
8h      Nada se vê para a Foz por causa do nevoeiro.
5h25  Aparece ao S. O vapor português Porto. Vento S. A. E o mar um tanto agitado.

Dia 30
7h       Fora da Barra nada se avista. às 12h desta noute naufragou fatalmente o vapor Porto, parecendo trinta e seis passageiros e quinze tripulantes, inclusive o piloto que hia servindo de capitão, e só se salvaram sete homens da tripulação. Vento S. C. (forte) e o mar agitado.
1h        Nada de novo. Vento a S.O. (forte) e o mar muito agitado.

Abril de 1852

Dia 2
Foram arrojados à praia mais 4 cadáveres, que são uma filha do sr José Allen, o snr José Augusto da Silveira Pinto, o piloto que hia de capitão e outro desconhecido. A menina é a mais velha. Ontem tinham aparecido dois cadáveres,  sendo um o do Francisco, dispenseiro do vapor, e outro de J.Elmsly, sobrinho do dono do Brigue Inglês Harriet.

Dia 3
Apareceram mais 6 cadáveres, sendo e deles o sr Plácido Braga, o sobrinho do Excmº Snr. Barão de Massarelos e uma filha do snr. José Allen. Apareceram mais dois cadáveres que não se conhecem.

Dia 5
Ontem apareceram 12 cadáveres  no Cabedelo, sendo 4 deles um brasileiro, um oficial de artilharia. o cozinheiro do vapor (José) e um preto pertencente ao mesmo vapor. Os outros não se puderam conhecer.
12h
Agora mesmo apareceram mais três cadáveres que se não podem conhecer.
2h30
Apareceram dois cadáveres que também se não podem conhecer.
IN – Fonte: APDL – Livro de registo de notícias marítimas da Barra do Douro.» in http://rmmv.org/a-ocidente-do-porto/naufragios/

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