14/06/12

Ambiente - Representantes de vários pontos do globo estão a partir desta quarta-feira reunidos no Rio de Janeiro para a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável Rio+20!

Tribos indígenas do Brasil vão estar representadas na conferência que quer fomentar ao máximo a discussão com a sociedade civil


«O mundo procura um futuro melhor no Rio de Janeiro

Após 20 anos da cimeira que pôs na agenda mundial a necessidade de novos modelos de desenvolvimento, chegou a altura de fazer um balanço e olhar para o futuro, que não parece muito brilhante. Representantes de vários pontos do globo estão a partir desta quarta-feira reunidos no Rio de Janeiro para a conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável Rio+20.

Portugal vai estar representado na cimeira através de uma delegação oficial chefiada pelo primeiro-ministro. A Quercus é a “única organização não governamental de ambiente (ONGA) portuguesa a estar presente na conferência”, disse ao SAPO Notícias Francisco Ferreira, presidente da Quercus.

“Uma conferência desta natureza é sempre uma oportunidade para um balanço do trabalho efetuado, neste caso, de vinte anos de Agenda 21 e de três Convenções aprovadas na ECO-92”, explica Francisco Ferreira, que vai estar no evento a partir desta quarta-feira e até 23 de junho, juntamente com mais dois responsáveis da organização.

Se em algumas áreas foram registados progressos – “abastecimento de água, investimento em energias renováveis, saúde pública e qualidade de vida das populações” – em outras ainda não existem “soluções definidas” – “perda da biodiversidade, desflorestação, sobre-pesca, cidades demasiado grandes para uma população cada vez maior”.

Na Rio+20 estes assuntos vão ser passados a pente fino mas não quer dizer que o resultado seja um consenso entre países com expressão num documento final, por isso mesmo, Francisco Ferreira tem “expectativas moderadas”.

“O principal objetivo da conferência é acordar um documento que perspetive as relações internacionais, a economia, o emprego, e diversos temas críticos como o clima, a alimentação, a água, os oceanos, as cidades, entre outros, numa filosofia de desenvolvimento sustentável”, refere o presidente da Quercus.


Guerra de interesses

As discordâncias entre países desenvolvidos e em desenvolvimento são, mais uma vez, o obstáculo para a formulação de um compromisso global. Apenas 20 por cento do documento, negociado desde janeiro e que será discutido na cimeira, “recebe consenso de todas as partes”, nota Francisco Ferreira.

“Muitos parágrafos têm duas alternativas equacionadas, uma suportada pelos EUA, Canadá e Japão, e outra pelo denominado G77, países em desenvolvimento, incluindo a China”, revela o dirigente da ONGA.  “A União Europeia tem também alterações propostas e sugestões, mas não originando posições tão opostas e conflituantes”, salienta.

“Não será fácil chegar a um consenso, podendo repetir-se um falhanço semelhante ao das negociações do clima em Copenhaga, o que pode pôr em causa o êxito, já em si relativo, da reunião”, alerta Francisco Ferreira.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu na semana passada que os governos mostrassem mais flexibilidade, ao indicar que os problemas do futuro do planeta "devem sobrepor-se aos interesses nacionais ou aos interesses de grupos".


Crise vai estar presente, Merkel e Obama não

A crise económica e financeira que assola a Europa não poderia faltar à Rio+20, uma vez que a economia também cabe debaixo do guarda-chuva do desenvolvimento sustentável e a situação económica debilitada de muitos países pode ser um entrave para decisões fortes noutras áreas.

Francisco Ferreira reconhece que “a crise económica e financeira na Europa e mesmo à escala mundial estará presente na agenda e nas decisões” mas lamenta que “a crise ambiental e também social não seja decisiva na mudança de rumo do desenvolvimento para as próximas décadas”.

“A crise económica e financeira na Europa e mesmo à escala mundial estará presente na agenda e nas decisões”, diz Francisco Ferreira

Ao mesmo tempo, no documento final da conferência faltam “instrumentos para ultrapassar o desemprego e a crise financeira, que são considerados obstáculos ao desenvolvimento sustentável”, lembra o presidente da Quercus.

A partir desta quarta-feira, começa um programa extenso de atividades da Rio+20, que decorre em vários pontos do Rio de Janeiro. A organização quer envolver ao máximo a sociedade civil na discussão, sendo esperada a participação de mais de 50 mil pessoas.

“O documento elaborado na Rio+20 será aprovado entre governos, mas queremos ter o máximo de sugestões e informações de todos os setores da sociedade”, declarou em comunicado o diplomata Laudemar Aguiar, responsável pela logística da conferência.

O culminar da discussão acontece entre 20 e 22 de junho com a reunião de líderes políticos e representantes das Nações Unidas. A organização da Rio+20 já recebeu 134 pedidos de inscrições para discursos de chefes de Estado ou de Governo. Delegações de 176 países vão marcar presença.

Barack Obama, David Cameron e Angela Merkel não vão estar presentes mas o secretário-geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, garantiu esta semana que a ausência destes pesos pesados da comunidade internacional não vai enfraquecer os objetivos da conferência.

O presidente francês, François Hollande - um dos poucos chefes de Estado de potências ocidentais que confirmou presença no evento -, advertiu para o risco de "fracasso", pedindo que a questão ecológica volte a ser colocada na agenda, depois de ter ficado relegada a segundo plano pela crise mundial.


Evento paralelo

Em simultâneo com a Rio+20, decorre a Cúpula dos Povos, um evento paralelo à conferência, que quer expressar o descontentamento da sociedade civil e espera receber mais de 15 mil participantes no Parque do Flamengo, Rio de Janeiro.

“Vemos a Rio+20 sem esperanças, sem uma vontade política de mudar as coisas por parte dos países”, disse Bazileu Alves Margarido, da ONG Instituto Democracia e Desenvolvimento Sustentável.

A Cúpula dos Povos é realizada por 200 organizações ambientais e sociais de todo o mundo. Cerca de 600 atividades, entre debates, manifestações e espetáculos, vão marcar o evento paralelo que tem como mote o convite: “venha mudar o mundo”.


(Rio+20 Conferência das Nações Unidas "sobre desenvolvimento sustentável")


(O Futuro que Queremos: campanha da Rio+20)


(Rio+20 Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável)


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