«República chegou ao Porto um dia depois "por telégrafo"
Autor : Pedro José Barros E-mail : pedro.barros@grandeportoonline.com Data : 01-10-2010 - 22:00 Foto : DR
A implantação da República em Portugal aconteceu no dia 5 de Outubro de 1910, mas os ideais republicanos fortaleciam-se na cidade do Porto há muitos anos. Em 1906, já depois da revolta falhada de 31 de Janeiro de 1891, que preparou a monarquia para uma “lenta agonia”, concorrem às últimas eleições sob ‘telhado’ monárquico três listas. A oficial, muito ligada ao “franquismo”, uma nacionalista, com “pouca expressão” e uma independente, a “Lista de Cidadãos pela Cidade”, constituída por monárquicos como Cândido de Pinho e Tito Fontes e republicanos como Nunes da Ponte, Xavier Esteves e Duarte Leite. Os independentes obtêm uma “estrondosa vitória”. Ganham em todas as freguesias da cidade e os republicanos entram na administração da Câmara do Porto a par de vereadores monárquicos.
Como explica o historiador Hélder Pacheco, a actuação dos vereadores republicanos caracterizava-se “por uma grande capacidade de intervenção”. Revelam-se defensores de “grandes obras” e lutam “constantemente contra o centralismo, questionando o Governo para assegurar para o Porto a mesma autonomia municipal que Lisboa tinha”, importante em domínios como a lei das expropriações.
A cidade “crescia vertiginosamente” em população e os republicanos promovem “petições permanentes”, debates sobre a criação de um centro cívico, o Mercado do Bolhão, a habitação operária e transportes públicos como o eléctrico para as classes mais débeis. Não tinham autonomia e recursos para concretizar as ideias, mas tinham projectos e com isso foram “ganhando força” e apoio popular. Estavam em minoria na coligação, mas conseguiam imprimir uma “dinâmica diferente” à vida política local.
O dia decisivo
Em 1908, após o regicídio, a Câmara do Porto reúne-se e aprova uma “grande manifestação de pesar”. Os republicanos faltaram. “Nunca pactuaram com decisões políticas de apoio à monarquia e os vereadores monárquicos respeitavam essas decisões”.
D. Manuel II vem depois ao Porto e permanece na cidade durante um mês. É “muito bem recebido pelas instituições” da cidade – inclusivamente por uma Câmara com representantes republicanos e apesar de estes discordarem da vinda -, o que não significa que o tivesse sido “pela maioria da cidade”. Mas a monarquia respirava um último fôlego “vergonhoso em muitos aspectos”. Vivia “acima das suas possibilidades”, envolta em “escândalos políticos” e descrença interna.
Sem Internet nem televisão, a notícia da implantação da República chega ao Porto “no dia 6”. Foi proclamada por Nunes da Ponte da varanda da Câmara, perante uma “multidão” que se juntou logo que os rumores se espalharam. “Quando há revoluções, as pessoas pensam em tiros e confrontos nas ruas. Esta chegou ao Porto por telégrafo e de forma pacífica”, explica o historiador.
Um novo regime
Com o 5 de Outubro, a única coisa que mudou na estrutura da Câmara do Porto foi o presidente. O monárquico Cândido de Pinho é substituído por José Nunes da Ponte. Foi a “única” Câmara que o governo provisório manteve na administração municipal, exactamente porque “já tinha uma forte componente republicana”.
A 13 de Outubro, na primeira reunião do executivo municipal pós-implantação, os vereadores monárquicos, até aí maioritários, manifestam-se “solidários com os colegas republicanos e cumprimentam-se”. “O lema eleitoral era ‘O Porto Primeiro’ e comportam-se como cavalheiros antes e depois da implantação da República”, refere Hélder Pacheco. Quando Nunes da Ponte se demite em 1911, por “divergências” com o Governador Civil, os outros vereadores “saem todos em solidariedade”. É nomeado interinamente Xavier Esteves, “o homem das grandes obras” como a Avenida dos Aliados (começou a ser aberta em 1914), a construção dos primeiros bairros operários e do Mercado do Bolhão.
Investidas monárquicas
Depois da implantação da República, o Rei exilou-se. Muitos apoiantes começam mais tarde a fazer “incursões na fronteira Norte” no sentido de reimplantar a monarquia. Vários regimentos mobilizaram-se a partir do Porto para travarem as investidas.
Nos anos que se seguiram, a República entra em convulsão: além de fazer face à insistência monárquica, é forçada a debruçar-se sobre o descontentamento operário com o poder burguês, a contestação católica e os efeitos económicos da Primeira Guerra Mundial.
Hélder Pacheco conclui que a festa do 6 de Outubro, no Porto, “durou pouco” porque os países “não se mudam de um dia para o outro”. A manutenção de ilhas na cidade – estão para ser erradicadas “desde a monarquia - é apenas um exemplo de como ainda hoje há problemas “por resolver”, sobretudo ao nível da “educação, conhecimento e cultura”.»
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É por isto e por muito mais que a Cidade do Porto e o Norte de Portugal não merecem ser vilipendiados pelo poder centralista e cego da Capital Capitalista, em que os políticos portugueses transformaram Lisboa!
Como explica o historiador Hélder Pacheco, a actuação dos vereadores republicanos caracterizava-se “por uma grande capacidade de intervenção”. Revelam-se defensores de “grandes obras” e lutam “constantemente contra o centralismo, questionando o Governo para assegurar para o Porto a mesma autonomia municipal que Lisboa tinha”, importante em domínios como a lei das expropriações.
A cidade “crescia vertiginosamente” em população e os republicanos promovem “petições permanentes”, debates sobre a criação de um centro cívico, o Mercado do Bolhão, a habitação operária e transportes públicos como o eléctrico para as classes mais débeis. Não tinham autonomia e recursos para concretizar as ideias, mas tinham projectos e com isso foram “ganhando força” e apoio popular. Estavam em minoria na coligação, mas conseguiam imprimir uma “dinâmica diferente” à vida política local.
O dia decisivo
Em 1908, após o regicídio, a Câmara do Porto reúne-se e aprova uma “grande manifestação de pesar”. Os republicanos faltaram. “Nunca pactuaram com decisões políticas de apoio à monarquia e os vereadores monárquicos respeitavam essas decisões”.
D. Manuel II vem depois ao Porto e permanece na cidade durante um mês. É “muito bem recebido pelas instituições” da cidade – inclusivamente por uma Câmara com representantes republicanos e apesar de estes discordarem da vinda -, o que não significa que o tivesse sido “pela maioria da cidade”. Mas a monarquia respirava um último fôlego “vergonhoso em muitos aspectos”. Vivia “acima das suas possibilidades”, envolta em “escândalos políticos” e descrença interna.
Sem Internet nem televisão, a notícia da implantação da República chega ao Porto “no dia 6”. Foi proclamada por Nunes da Ponte da varanda da Câmara, perante uma “multidão” que se juntou logo que os rumores se espalharam. “Quando há revoluções, as pessoas pensam em tiros e confrontos nas ruas. Esta chegou ao Porto por telégrafo e de forma pacífica”, explica o historiador.
Um novo regime
Com o 5 de Outubro, a única coisa que mudou na estrutura da Câmara do Porto foi o presidente. O monárquico Cândido de Pinho é substituído por José Nunes da Ponte. Foi a “única” Câmara que o governo provisório manteve na administração municipal, exactamente porque “já tinha uma forte componente republicana”.
A 13 de Outubro, na primeira reunião do executivo municipal pós-implantação, os vereadores monárquicos, até aí maioritários, manifestam-se “solidários com os colegas republicanos e cumprimentam-se”. “O lema eleitoral era ‘O Porto Primeiro’ e comportam-se como cavalheiros antes e depois da implantação da República”, refere Hélder Pacheco. Quando Nunes da Ponte se demite em 1911, por “divergências” com o Governador Civil, os outros vereadores “saem todos em solidariedade”. É nomeado interinamente Xavier Esteves, “o homem das grandes obras” como a Avenida dos Aliados (começou a ser aberta em 1914), a construção dos primeiros bairros operários e do Mercado do Bolhão.
Investidas monárquicas
Depois da implantação da República, o Rei exilou-se. Muitos apoiantes começam mais tarde a fazer “incursões na fronteira Norte” no sentido de reimplantar a monarquia. Vários regimentos mobilizaram-se a partir do Porto para travarem as investidas.
Nos anos que se seguiram, a República entra em convulsão: além de fazer face à insistência monárquica, é forçada a debruçar-se sobre o descontentamento operário com o poder burguês, a contestação católica e os efeitos económicos da Primeira Guerra Mundial.
Hélder Pacheco conclui que a festa do 6 de Outubro, no Porto, “durou pouco” porque os países “não se mudam de um dia para o outro”. A manutenção de ilhas na cidade – estão para ser erradicadas “desde a monarquia - é apenas um exemplo de como ainda hoje há problemas “por resolver”, sobretudo ao nível da “educação, conhecimento e cultura”.»
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É por isto e por muito mais que a Cidade do Porto e o Norte de Portugal não merecem ser vilipendiados pelo poder centralista e cego da Capital Capitalista, em que os políticos portugueses transformaram Lisboa!
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