25/06/09

Arte Poesia - "O funcionário cansado", de António Ramos Rosa!



"O funcionário cansado 

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto, só...

António Ramos Rosa, in "Viagem através duma nebulosa", 1960.


«António Ramos Rosa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

António Víctor Ramos Rosa (Faro, 17 de Outubro de 1924), é um poeta português, ainda reconhecido como desenhador.

Ramos Rosa estudou em Faro, não tendo acabado o ensino secundário por questões de saúde. Em 1958 publica no jornal «A Voz de Loulé» o poema "Os dias, sem matéria". 
No mesmo ano sai o seu primeiro livro «O Grito Claro», n.º 1 da colecção de poesia «A Palavra», editada em Faro e dirigida pelo seu amigo e também poeta Casimiro de Brito. Ainda nesse ano inicia a publicação da revista «Cadernos do Meio-Dia», que em 1960 encerra a edição por ordem da polícia política.

Fez parte do MUD Juvenil.

O seu nome foi dado à Biblioteca Municipal de Faro.

Índice

[esconder]

[editar] Prémios

[editar] Obra

  • 1958 - O Grito Claro
  • 1960 - Viagem Através duma Nebulosa
  • 1961 - Voz Inicial
  • 1961 - Sobre o Rosto da Terra
  • 1963 - Ocupação do Espaço
  • 1964 - Terrear
  • 1966 - Estou Vivo e Escrevo Sol
  • 1969 - A Construção do Corpo
  • 1970 - Nos Seus Olhos de Silêncio
  • 1972 - A Pedra Nua
  • 1974 - Não Posso Adiar o Coração (vol.I, da Obra Poética)
  • 1975 - Animal Olhar (vol.II, da Obra Poética)
  • 1975 - Respirar a Sombra (vol.III, da Obra Poética)
  • 1975 - Ciclo do Cavalo
  • 1977 - Boca Incompleta
  • 1977 - A Imagem
  • 1978 - As Marcas no Deserto
  • 1978 - A Nuvem Sobre a Página
  • 1979 - Figurações
  • 1979 - Círculo Aberto
  • 1980 - O Incêndio dos Aspectos
  • 1980 - Declives
  • 1980 - Le Domaine Enchanté
  • 1980 - Figura: Fragmentos
  • 1980 - As Marcas do Deserto
  • 1981 - O Centro na Distância
  • 1982 - O Incerto Exacto
  • 1983 - Quando o Inexorável
  • 1983 - Gravitações
  • 1984 - Dinâmica Subtil
  • 1985 - Ficção
  • 1985 - Mediadoras
  • 1986 - Volante Verde
  • 1986 - Vinte Poemas para Albano Martins
  • 1986 - Clareiras
  • 1987 - No Calcanhar do Vento
  • 1988 - O Livro da Ignorância
  • 1988 - O Deus Nu(lo)
  • 1989 - Três Lições Materiais
  • 1989 - Acordes
  • 1989 - Duas Águas, Um Rio (colaboração com Casimiro de Brito)
  • 1990 - O Não e o Sim
  • 1990 - Facilidade do Ar
  • 1990 - Estrias
  • 1991 - A Rosa Esquerda
  • 1991 - Oásis Branco
  • 1992 - Pólen- Silêncio
  • 1992 - As Armas Imprecisas
  • 1992 - Clamores
  • 1992 - Dezassete Poemas
  • 1993 - Lâmpadas Com Alguns Insectos
  • 1994 - O Teu Rosto
  • 1994 - O Navio da Matéria
  • 1995 - Três
  • 1996 - Delta
  • 1996 - Figuras Solares

[editar] Revistas em que colaborou

[editar] Jornais em que colaborou

--------------------------------------------------------------------- 
Magnífico Poema gentilmente enviado pela minha Colega e Amiga, Professora Elsa Cerqueira!


3 comentários:

  1. Belíssimo poema, sem dúvida, Helder. Confesso que não conhecia e que foi o MC que mo mostrou/leu.
    Grata aos Amigos que partilham.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado ao Helder ( e à Elsa ) por este poema que recordei e que lera pelos meus vinte anitos...
    Funcionários cansados somos todos nós poetas uns mais do que outros mas iguais de humanidade -- pelo menos assim devera ser amigos!

    ResponderEliminar
  3. Obrigado Elsa por partilhares Poesia tão boa connosco!
    Obrigado Amigo, Poeta, Ângelo, pela sua sensibilidade Poética!

    ResponderEliminar