O primeiro-ministro, José Sócrates, reduziu o Partido Socialista ao seu actual estado vegetativo.
Portugal não é um país de meias medidas. No curto espaço de uma semana, o eng. Sócrates, esse herói improvável de uma legislatura perdida, transformou-se inesperadamente no bode expiatório da derrota socialista. Desde as europeias, qualquer malabarista táctico descobriu que tinha, na manga, uma estratégia para o salvar de si próprio e dos seus anos de governação: antes de mais, havia que mudar de rumo ou, pelo menos, de estilo, para depois conquistar a esquerda, recuperando simultaneamente o centro.A simples enunciação deste caderno de encargos mostra, por si só, a inutilidade do exercício e a impossibilidade de qualquer mudança de fundo. Por muito que isso possa parecer estranho a alguns espíritos mais voluntaristas, não se muda de rumo como quem muda de camisa, a três meses de umas eleições legislativas.Como o próprio eng. Sócrates percebeu, de imediato, o PS está condenado a persistir nos erros do Governo e na omnipotência de um primeiro-ministro que reduziu o partido ao seu actual estado vegetativo. O caminho, parecendo pouco promissor, tem, pelo menos, a vantagem de evitar a queda no vazio, numa altura em que uma remodelação governamental deixou de fazer qualquer sentido.Sobra, assim, aquilo que alguns socialistas chamam, com algum optimismo, uma alteração de estilo ou uma nova forma de comunicar com os eleitores – o que não deixa de ser curioso se levarmos em conta que, durante estes quatro anos, o eng. Sócrates foi invariavelmente visto como um grande comunicador.Por oposição à dra. Ferreira Leite, capaz de comunicar apenas a sua própria incapacidade, o eng. Sócrates distinguia-se pela "eficácia" do discurso e pela "força" da sua imagem. Ao ponto de a linha de rumo, de que tantos falam agora, ter sido, nos últimos dois anos, substituída por uma sucessão ininterrupta de momentos de propaganda ao longo dos quais o Governo saltava de anúncio em anúncio, de promessa em promessa, de inauguração em inauguração como se o país fosse um palco, imune às contingências da realidade.
Daí que os apelos que se fazem sentir, no interior do PS, a uma mudança de estilo não deixem de ser um retrato fiel da desorientação que existe hoje em todo o partido: porque o estilo é a única marca de uma maioria que privilegiou a forma ao conteúdo, a ficção à realidade e a propaganda a qualquer linha de rumo. Mudar o que pode parecer acessório é, neste caso, mudar o essencial. É que por trás do acessório, existe apenas um imenso vazio.
Constânça Cunha e Sá, Jornalista» in http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?channelID=00000093-0000-0000-0000-000000000093&contentID=899BA5FF-C4E5-497C-A04A-1D4AE362F3A7
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