Faz o retrato de uma alma enamorada de Deus.
Logo no prefácio, Pascoaes diz que São Paulo «foi o transviado que se orientou, orientando os outros, o faminto que transformou em pão a sua fome».
Descreve a lapidação de Santo Estevão e o remorso que se apoderou de S. Paulo quando se dirigia para Damasco e uma névoa o surpreendeu e se rasga num enorme clarão que o derrubou:
«O facho acende-se, em pleno azul do meio-dia! É um clarão maravilhoso, precipitado das Alturas, e um grito incandescente: Saulo! Saulo! Porque me persegues? O relâmpago instantâneo bate-lhe na fronte e lança-o por terra, deslumbrado: Quem és Senhor? E a voz celeste lhe responde: Sou Jesus, a quem persegues. Duro é para ti recalcitrar contra o aguilhão. Consomou-se o milagre, o mais surpreendente dos milagres! A realidade ficou vencida! E eis a alegria da nossa alma!
«Este milagre deu à pessoa de Paulo um resplendor extraordinário. Quem concebeu idêntica visão? Que outra fonte recebeu, em cheio, uma torrente de luz, a despenhar-se do céu aberto? Que outros ouvidos foram abalados pela súplica de um Deus aflito? Que outro homem a quem Deus pedisse misericórdia?
«Esta cena da estrada de Damasco demonstra a inspiração divina do apóstolo, a força sobrenatural que o animava.
«Os seus companheiro levam-no e conduzem-no pela mão. Não vê nada, que o deslumbramento é cegueira. A luz luz é... meia luz. A vida é entre zero e cem, um acaso da temperatura...»
Em Portugal, com raras excepções, o livro não foi bem recebido nem pela crítica, nem pelos meios eclesiásticos.. Contudo, além fronteiras constituiu um verdadeiro acontecimento.
Em Espanha, Miguel de Unamuno, no jornal «Áhora», fala da obra de Pascoaes com o mais vivo entusiasmo. Para ele trata-se de um livro incomparável, que lança uma nova luz sobre a figura do Apóstolo.
Em breve, Ramon Martinez Lopes, jovem professor no Instituto Espanhol de Lisboa, oferece-se para fazer a tradução.
Ele e a mulher, ainda em lua-de-mel, iam à York House visitar Pascoaes. Ela, cheia de ternura, tratava o marido por Mochinho.
Este breve, Ramon Martinez Lopes, jovem professor no Instituto Espanhol de Lisboa, oferece-se para fazer a tradução.
Esta tradução, que não é famosa, foi parar às mãos de um refugiado alemão em Espanha - Albert Vigoleis Thelen que, entusiasmado, logo o quis traduzir para alemão.
E assim começou uma longa troca de correspondência entre ele e Pascoaes. Ficaram amigos.
Essa tradução alemã contagiou o poeta e advogado holandês Marsman que, por sua vez, traduziu para a sua língua o S. Paulo de Pascoaes.
E assim surgiram duas edições alemãs, quatro holandesas e uma húngara.
As críticas estrangeiras choveram em catadupa.
O poeta suiço Talhoff ergueu-o à maior altura e afirmou:
«Há muito que eu pressentia o espírito que se manifesta em Pascoaes, um espírito maravilhoso na sua intrépida visão! Pascoaes é um contraponto cósmico. nele se encontram as mais altas forças contra a escuridão demoníaco dos tempos. Pascoaes é um mensageiro apocalíptico, um organista da linguagem, que dele sai qual bíblica torrente de eternidade! Ele é de tal ordem de futuro, de tal maneira que antecede todo o pensar, saber e dizer de amanhã, que não é de espantar que não seja ainda compreendido pelo homem vulgar do Ocidente.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes", de Maria José Teixeira de Vasconcelos
https://ensina.rtp.pt/artigo/sao-paulo-de-teixeira-de-pascoaes/
https://www.snpcultura.org/teixeira_pascoaes_biblioteca_nacional_assinala_publicacao_sao_paulo.html
Sem comentários:
Enviar um comentário