10/02/17

Amarante Literatura - Teixeira de Pascoaes na sua obra, "Camilo o Penitente", que publicou em 1942, estuda e interpreta o Grande Escritor Camilo Castelo Branco, que segundo ele, escrevia como quem expiava a sua dor e fragilidade humana...



«Ainda no ano de 1942, Pascoaes publicou mais uma biografia: «Camilo o Penitente». Fala-nos do remorso do grande escritor, sempre a trabalhar a sua dor:

«Escreve, desenha ao vivo as dramáticas figuras do seu remorso, as paisagens da sua dor. A dor tanto é mulher como paisagem; é Maria Madalena e alto penhasco sulcado de lágrimas, qual busto de S. Pedro. E é paisagem e mulher, ao mesmo tempo; a Anacleta dos Remédios fugida dos seus crimes e a capelinha solitária com um sino a badalar dlon... dlon... tangido pelo vento, num ermo aspérrimo de montes que se diluem no negrume nocturno, retalhado pelos golpes luminosos.

«A paisagem camiliana, onde não há uma árvore, tem um sentido psíquico: é um auto-retrato de Camilo desnudado até às fragas do esqueleto. Como ele pinta os remorsos e os penedos, que são remorsos petrificados! Já não sofrem, embora o sofrimento lhes ficasse impresso no musgoso busto como fica a morte numa caveira.

Alcançaram a beatitude, como a Anacleta depois de enterrada no adro da pequena ermida, com os lobos a uivarem-lhe, todas as noites, o De Profundis

Este livro esgotou-se rapidamente. É uma obra que Camilo aparece retratado sob um novo ângulo. Uma visão interessantíssima que prende o leitor da primeira à última página.» in Fotogaleria "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

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