«Inês Varejão
por Jorge Fiel
Bisneta do comendador Abreu da Tabopan, tem uma costela de Amarante, fez-se engenheira agrária em Beja e especializou-se em vinhos em Bordéus. Mas foi no Porto que conheceu e se apaixonou por Tó, um 'designer' que, tal como ela, estava desencantado com a vida que levava.
Com 7500 euros no bolso e um projecto na cabeça, foram para Évora, onde abriram o Boa Boca Gourmet. Cinco anos passados, desenvolvem uma gama de produtos artesanais portugueses, com a marca 'FeitoàMão', elogiados na 'Wall Paper' e que acumulam prémios internacionais .
A sorte deles foi terem o azar de só arranjarem empregos foleiros e patrões intratáveis, que lhes ficavam a dever dinheiro. Esta é a história de como uma engenheira agrária de 1,51 m de altura, nascida em Beja, e um designer de 1,92 m, nascido em Évora, se apaixonaram no Porto e criaram a linha de produtos gourmet com a marca FeitoàMão, aplaudida nas páginas da Wall Paper e que acumula prémios - ao Red Hot Design Award, na categoria de chocolates, acabam de juntar o One Show Design, na gama de biscoitos, em Nova Iorque.
Bisneta do comendador Abreu, timoneiro do império Tabopan, que naufragou nas marés vivas do 25 de Abril, Inês tem uma costela de Amarante, mas cresceu em Ferreira do Alentejo e fez em Beja o curso de Engenharia Agrária.
Como se imaginava a fazer vinhos, foi para Bordéus tirar uma pós-graduação, a que se seguiu um estágio no Chateau Mayne Lalande, que recorda com saudades. Ainda pensou ficar, mas acabou por regressar e fixar-se no Porto, onde tinha a família.
A sua visão romântica do vinho estilhaçou em mil pedaços devido a más experiências de trabalho em garrafeiras e numa empresa de vinho do Douro.
A vida dela levou uma volta de 180 graus após se ter apaixonado, em Serralves, por António Policarpo, que aos cinco anos trocara Évora por Famalicão, e não tinha sido feliz nas agências de publicidade onde trabalhou depois de completar o curso de Design.
Desiludidos com os empregos e apaixonados, Inês e António não se limitaram a carpir as mágoas no ombro um do outro. Rapidamente desenharam planos globais para o futuro. "Queria voar", resume ela.
Estávamos em 2004, o ano do Euro, quando decidiram seguir o sol e rumar a sul, para abrir uma loja gourmet. Um espaço na Rua dos Mercadores (que desagua no Giraldo, como todas as ruas que valem a pena em Évora) levou-os a deixar cair a ideia do Algarve. Fizeram as contas, e esperaram que a ausência de concorrência compensasse o menor fluxo de turistas.
Não fosse o pequeno problema de terem apenas 7500 euros e de o projecto exigir um investimento na ordem dos 60 mil euros, e talvez o parto do Boa Boca Gourmet (o primeiro filho do casal) não tivesse sido tão complicado.
Apesar da cesariana, o Boa Boca sobreviveu e o seu trajecto foi corrigido. Aos poucos, a loja de Évora passou a funcionar como montra de um projecto empresarial com centro de gravidade na produção, em parceria com artesãos escolhidos a dedo, de artigos gourmet tipicamente portugueses e diferentes - a ideia não era fazer compotas.
Primeiro, foi o chocolate, em cinco versões (a de passas e aguardente é deliciosa!), fabricado em Beja a partir de cacau importado de S. Tomé. Depois vieram as quatro latas de biscoitos, o café, a meia dúzia de licores e os frutos secos, uma gama de produtos que pode apreciar com detalhe em www.boaboca-gourmet.com.
Ainda este ano chegarão às prateleiras das mais de cem lojas, que no País e estrangeiro, vendem os produtos FeitoàMão, algumas novidades, como as bolachas de manteiga e uma linha de chás (tisanas biológicas).
"Estamos a recuperar os sabores antigos e a vendê-los em embalagens sofisticadas. Fazemos objectos de arte que se comem", sintetiza Inês, que recusou uma proposta da Sonae para fornecer os espaços gourmet da cadeia Continente. "Somos um produto de nicho, de luxo", explica.
O caminho tem sido sinuoso, mas o horizonte é radioso. Por mais de uma vez, a Wall Paper se referiu em termos muito elogiosos aos produtos FeitoàMão. Este ano, a CCP e a Escola de Comércio de Lisboa atribuíram-lhes o Prémio Mercúrio, na categoria Novos Conceitos.
A satisfação dos consumidores exprime-se em números. Em quatro anos, o volume de negócios triplicou. "2009 é o nosso ano, Sempre acreditei muito no nosso projecto", jura Inês, que espera duplicar a facturação de 300 mil euros feita em 2008. 2009 ainda não vai ser o ano em que ela vai concretizar o sonho de fazer o seu vinho. Mas é provavelmente o ano em que o Novo Mundo vai escancarar as suas portas aos produtos Feitosà Mão.» in http://dn.sapo.pt/bolsa/Interior.aspx?content_id=1317572
Mais informações sobre este magnífico projecto, no seguinte link:
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