23/03/09

Desporto Futebol - O Clube do Regime, aos 50 Anos do Fenómeno Calabote, volta a atacar com o Benfiquista Lucílio Batista!


De facto mais cego é quem não quer ver...


Foi exatamente há 50 anos. Estamos em 22 de Março de 1959. Hoje é conhecido o campeão nacional. São três da tarde e a bola começa a rolar em todos os estádios. Em todos não. Na Luz, o Benfica recebe a CUF e sobe ao relvado dois minutos antes do início do jogo. A estratégia é retardar a partida o máximo possível, de forma a saber o que se passa em Torres Vedras, no Torreense-F. C. porto.

Os dragões estão a um pequeno passo do título: são líderes com os mesmos pontos do que os rivais da Luz, mas com vantagem na diferença de golos. Para ser campeão, o Benfica precisa de marcar mais cinco golos do que aqueles que os portistas marcassem.

No Campo das Covas, já se contam oito minutos de jogo, quando na Luz, Inocêncio João Teixeira Calabote, árbitro internacional de Évora e com passado infeliz nos jogos com o F. C. Porto, faz soar pela primeira vez o apito. A primeira parte corre de feição às águias que chegam ao intervalo a vencer por 4-0, com os dois primeiros golos de penálti, o segundo dos quais considerado inexistente por toda a crítica.

A vantagem era insuficiente, uma vez que os portistas já tinham inaugurado o marcador. Na segunda parte, já depois do golo de honra da CUF, o Benfica não demoraria a dilatar a vantagem com mais dois golos, um deles de penálti. Os encarnados são virtualmente campeões. Festeja-se na Luz, sofre-se nas Covas.

Não por muito tempo. O portista Noé faz o segundo golo e a festa volta a Torres Vedras. Por pouco tempo também. De rajada, os benfiquistas fazem o 7-1, já o guarda-redes Gama, da CUF, tinha sido substituído, a pedido dos colegas, num tarde muito infeliz...

Porém, em cima do minuto 90, Teixeira faz o 3-0 e volta a entregar o título ao F. C. Porto. O jogo termina a seguir, mas não há campeão. Na Luz, ainda faltam jogar oito minutos, mais os quatro de compensação concedidos por Calabote - que ainda expulsou três jogadores da CUF -, quando, na altura, não era normal dar-se mais do que dois. Foram 12 longos minutos de sofrimento em Torres Vedras, enquanto o Benfica desespereva por mais um golo, que não veio a acontecer. A festa mudava-se, de vez, para as Covas.

Poucos dias após o mais dramático epílogo dos campeonatos, Calabote é alvo de inquérito federativo e acusado de ter mentido no relatório, escrevendo que o jogo principiara às 15 horas e terminara às 16.42 horas. O árbitro de defende-se e diz que o seu relógio é que vale. Nada feito. É acusado de corrupção, mas diz que nunca recebeu um tostão. É irradiado uns meses mais tarde.

O livro sobre o "Caso Calabote", da autoria do jornalista João Queiroz, será editado brevemente pela Quidnovi.

"Ainda que pareça mentira Valdivieso (treinador adjunto do Benfica) orientou o Torreense", noticiava o JN. Era mesmo verdade. O técnico argentino tentou passar despercebido, mas em vão.

Segundo o próprio, foi observar um jogador do Torreense com vista a futura contratação e foi convidado a sentar-se no banco da equipa. Um pretexto, segundo os jornais: Valdivieso ministrou uma palestra no balneário e deu instruções várias durante o jogo.

Mais tarde, António Costa, defesa do Torreense, negava tal acusação: "Esteve na cabina a conversar connosco (...), mas não nos deu quaisquer indicações. A verdade é esta: receberíamos, por intermédio dele, um prémio [cinco contos a cada jogador] se vencêssemos ou perdêssemos com o Porto por margem escassa. E quero esclarecer um ponto: Valdivieso não chorou na cabina, por termos perdido. Limitou-se a regressar a Lisboa com o dinheiro"...» In Jornal de Notícias» In Jornal de Notícias


A RTPN decidiu realizar o último programa do “Trio da Ataque” a partir da estação ferroviária do Maputo em Moçambique. Naturalmente tratava-se de um momento oportuno para, em termos de homenagem, se recordarem algumas glórias do Futebol Moçambicano que fizeram carreira e sucesso em Portugal, das quais se destacaram Eusébio e Mário Coluna.

Ambos os jogadores são figuras incontornáveis e “responsáveis” dos sucessos e êxitos do Benfica na década de 60/70 e da Selecção Nacional, nomeadamente o 3º lugar alcançado por Portugal no Mundial 66. A presença ao vivo de Mário Coluna no referido programa, proporcionou ao moderador, Hugo Gilberto, o ensejo de o entrevistar e recordar a sua passagem pelo nosso Futebol.

Ficamos a saber que Mário Coluna era um jogador com grande personalidade e um líder inquestionável dentro do campo, sendo por esse facto capitão, de tal forma, que os colegas de equipa e da selecção não o tratavam por “tu”, mas sim por Senhor Coluna.

Grande surpresa para mim foi ouvir, de uma lenda viva do nosso futebol, a confirmação do “respeito” que lhe mereciam as forças vivas do antigo regime ditatorial de Salazar. Se alguma duvida ainda houvesse, Mário Coluna, encarregou-se de as desfazer.

Foi com muito orgulho que confirmou o “respeito” do anterior regime ao Benfica, ao ter sido convidado pessoalmente por Salazar para cortar a fita de inauguração da Ponte Salazar (agora 25 de Abril) em 1 966, uma das obras mais emblemáticas do anterior regime, pois tratava-se à data da 5ª maior ponte suspensa do mundo. Estiveram então presentes nessa inauguração os três grandes pilares do regime: Américo Tomas, António Salazar e o Cardeal Manuel Cerejeira.

O seu testemunho histórico, fica para a história. De viva voz foi a confirmação, às gerações seguintes, porque razão o Benfica era o Clube do Regime o que lhe permitiu durante décadas consolidar a sua supremacia no Futebol Português.

Por ironia ou não, quando a ponte mudou de nome, de Salazar para PONTE 25 de ABRIL, simultaneamente mudaram-se as vontades e aquilo que era a vontade do Regime deixou de o ser porque a Democracia impôs a legitimidade desportiva e enterrou definitivamente a burla que os tentáculos musculados da PIDE (Policia Politica) impunham a todos os níveis e em todos os quadrantes da vida social e da sociedade, nomeadamente desportivos.

Obrigado SENHOR MARIO COLUNA pelo seu testemunho histórico.

O seu testemunho será contado aos nossos filhos e aos nossos netos quando nos perguntarem, inocentemente, porque é que o Benfica há muitos anos atrás ganhava quase sempre. Carlos Daniel»

(O Caso Calabote)


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