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29/11/22

Arte Poesia - Numa tarde de Outono, de vento e de chuva, bateu à porta o pintor Eduardo Malta, muito novo, e ainda desconhecido de todos nós.



«Pascoaes foi sempre procurado por gente nova. Nas férias enchia-se o escritório de rapazes que ele recebia com todo o carinho. Alguns eram mesmo muito novos e, as suas atitudes tímidas e caladas, diante do mestre, davam  um ambiente encantador àquelas reuniões.

Numa tarde de Outono, de vento e de chuva, bateu à porta o pintor Eduardo Malta, muito novo, e ainda desconhecido de todos nós. Entrou e ficou duas semanas. Fez o retrato de Pascoaes que está no seu escritório e também a «Aparição de Eleonor a Marânus» que o Pascoaes me deu e que eu tenho religiosamente guardada no meu pequeno museu da Casa da Cerca.» in "Olhando para trás vejo Pascoaes" de Maria da Glória Teixeira de Vasconcellos.

#amarante    #gatão    #eduardomalta    #teixeiradepascoaes

14/10/22

Amarante Literatura - Um episódio que ilustra a fabulosa memória do grande parlamentar de Amarante, o Conselheiro António Cândido.


«Um dos primeiros salões que houve em Lisboa foi o de Maria Amália Vaz de Carvalho, muito frequentado por políticos, jornalistas e alguns poetas. Lembro-me de ouvir dizer, que o Gonçalves Crespo estava a recitar um soneto que tinha feito nesse dia quando o António Cândido vinha a entrar. Parou, e ainda detrás da porta, sem ser visto, esperou que o Crespo acabasse. Depois entrou cumprimentou as pessoas presentes e ofereceu-se à dona da casa para dizer um soneto que tinha acabado de fazer. Ouvindo-o, o pobre do Crespo ia desmaiando, porque era o seu soneto palavra por palavra. António Cândido, vendo-o tão aflito, abraçou-o e disse-lhe: «quem o fez não fui eu, foi a minha memória». Só então avaliaram a memória prodigiosa do grande parlamentar.» in Olhando para trás vejo Pascoaes, de Maria da Glória Teixeira de Vasconcellos.

#amarante    #conselheiroantóniocândido

12/10/22

Amarante Literatura - António Patrício era um espírito muito fino e mordaz, a quem a carreira diplomática o afastou de Portugal.


«António Patrício era um espírito muito fino e mordaz, a quem a carreira diplomática afastou de Portugal. Um rapaz cheio de valor e muito interessante. A diplomacia cortou-lhe o caminho das letras: passava férias em Manhufe, em casa do Francisco Cardoso, pessoa muito dada à arte, que no Verão tinha a casa sempre cheia de poetas e pintores, e como ficava a meia dúzia de quilómetros de Pascoaes, o António Patrício ia lá jantar muitas vezes, com o seu grande amigo, no «Terreiro Pequeno», debaixo da ramada, com os cachos de uvas a dar-lhes na cabeça! Foram grandes frequentadores da casa do Poeta.» in "Olhando para trás vejo Pascoaes" de maria José Teixeira de Vasconcelos.

#amarante    #casadepascoaes    #casademanhufe    #teixeiradepascoaes    #franciscocardoso    #antóniopatrício

24/08/22

Amarante Literatura - Quando Pascoaes publicou As Sombras, Unamuno ficou tão entusiasmado, que a primeira vez que veio ao Porto, quis visitá-lo em Amarante, onde se demorou quinze dias, em Gatão, na Casa de Pascoaes.


«Quando Pascoaes publicou As Sombras, Unamuno ficou tão entusiasmado, que a primeira vez que veio ao Porto, quis visitá-lo em Amarante, onde se demorou quinze dias. Lembro-me de lhe ouvir dizes esta linda frase: «As Sombras foram feitas com palavras cujas letras andavam há muito no ar à procura de se casarem.» Devia ter sido em 1908. Unamuno era um homem extraordinário e um espantoso conversador. Tinha um aspeto sério, sereno, nobre e um ar luminoso sem nunca se rir. Recitava versos de todos os poetas que admirava no seu próprio idioma. Uma vez ouvi-lhe um soneto dum poeta italiano Antonio Fogarazo, rapaz que se estreava na poesia, de que eu muito gostei. Procurei depois, em todas as livrarias, um livro dele e nunca encontrei! Fiquei a pensar que talvez fosse um desses poetas que tantas vezes aparecem prometendo muito e partem sem deixar nada.» in "Olhando para trás vejo Pascoaes" de Maria da Glória Teixeira de Vasconcelos.

16/07/22

Amarante Literatura - Joaquim, que depois foi o Pascoaes, era o mais velho, o mais contemplativo e o maior de todos.


«Éramos seis irmãos, nascidos e criados no mesmo ambiente e todos tão diferentes! O que depois foi o Pascoaes era o mais velho e o maior de todos. Cresceu tanto que muita gente não o viu! É por essa razão que muitos críticos falam d'Ele sem nunca o terem conhecido. Um grande poeta suíço, Albert Talhoff, dizia, depois de ter lido São Paulo, traduzido em alemão: «Pascoaes veio fora do tempo. Não se admirem que o homem vulgar do Ocidente o não compreenda.» in "Olhando para trás vejo Pascoaes" de Maria da Glória Teixeira de Vasconcellos. 

https://aviagemdosargonautas.net/2015/03/02/a-ideia-8/


«Albert Talhoff (1888-1956), escritor suíço, que entendeu fazer uma síntese entre o teatro grego e a antroposofia de Rudolfo Steiner, interessou-se muito pelas traduções que Albert Vigoleis Thelen fez das obras de Teixeira de Pascoaes. Na homenagem de 1951 da academia de Coimbra ao autor de A minha cartilha foi publicada uma carta de Talhoff: “Carta a Albert Thelen sobre Teixeira de Pascoaes” (Via Latina, Coimbra, Ano XI, n.º52, Maio, 1951). [ACF]» in https://aviagemdosargonautas.net/2015/03/02/a-ideia-8/

#amarante    #gatão    #teixeiradepascoaes    #alberttalhoff    #sãopaulo

04/01/21

Amarante Literatura - Um júri constituído por Clara Rocha, Isabel Cristina Mateus e José Tolentino Mendonça decidiu, por unanimidade, atribuir o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE/C.M. de Amarante ao livro Poemas Reunidos, de Luís Filipe Castro Mendes (Assírio & Alvim).


«Atribuição do vencedor do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes

Um júri constituído por Clara Rocha, Isabel Cristina Mateus e José Tolentino Mendonça decidiu, por unanimidade, atribuir o Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE/C.M. de Amarante ao livro Poemas Reunidos, de Luís Filipe Castro Mendes (Assírio & Alvim).

Da acta destaca-se: “O júri teve em conta a revisitação e renovação das formas clássicas, elegia e soneto, e, em especial, a relação com a tradição camoniana (…) Valorizou ainda o jogo dialógico com os autores do cânone cultural ocidental, bem como a ponte intercultural com o Oriente e o Brasil. Mereceu igualmente destaque uma visão irónica e auto-irónica relativamente à contemporaneidade.”

O Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes, bienal, da Associação Portuguesa de Escritores  com o patrocínio da Câmara Municipal de Amarante, admitiu a concurso obras completas de poesia ou antologias poéticas de autor publicadas nos anos 2018 e 2019, em português e de autor português.

O valor deste Grande Prémio é de € 12.500,00 (doze mil e quinhentos euros).

A cerimónia pública de entrega do Grande Prémio de Poesia Teixeira de Pascoaes APE/C. M. de Amarante será oportunamente anunciada.» in https://culturadeborla.blogs.sapo.pt/atribuicao-do-vencedor-do-grande-premio-7515888

03/08/20

Amarante Literatura - Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, que mais tarde iria usar o nome literário de Teixeira de Pascoaes, nasceu em Amarante, numa casa alugada, contígua à de seus Avós, a 2 de Novembro de 1877.



«Joaquim - O Poeta

Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos, que mais tarde iria usar o nome literário de Teixeira de Pascoaes, nasceu em Amarante, numa casa alugada, contígua à de seus Avós, a 2 de Novembro de 1877.

E havia de cantar na «Terra Proibida»:

«Nasci ao pôr do sol dum dia de Novembro,
O meu berço o crepúsculo embalou...
E até parece, às vezes, que me lembro,
Porque essa tarde, triste, em mim ficou.»

Tinha dois anos quando toda a família foi viver para a Casa de Pascoaes - em São João de Gatão -, «Uma casa para a Poesia» chamou-lhe Eugénio de Andrade.

E a casa e a paisagem circundante iam ter a maior influência na sua personalidade e na formação do seu espírito, como se pode ver por este poema lindíssimo das «Sombras».


"Canção de uma sombra

Ai, se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela onde me vou
Debruçar para ouvir a voz das cousas,
Eu não era o que sou.

Se não fosse esta fonte que chorava
E como nós cantava, e que secou...
E este sol que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.

Ai, se não fosse este luar que chama
Os espectros à vida, e se infiltrou
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.

E se a estrela da tarde não brilhasse,
E se não fosse o vento que embalou
Meu coração e as nuvens nos seus braços
Eu não era o que sou.

Sem esta terra funda e fundo rio
Que ergue as asas e sobe em claro voo;
Sem estes ermos montes e arvoredos
Eu não era o que sou."» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos

26/05/20

Amarante Literatura - No dia 10 de junho, a União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo, Cepelos, Madalena e Gatão) irá anunciar os vencedores da II edição do Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira, após a última reunião do júri, presidida pelo escritor António Mota, no dia 9 de junho.

Leiria, Fundão, Amarante e Coimbra vão liderar redes de cidades no programa Urbact
«Amarante: Vencedores do Prémio Ilídio Sardoeiro anunciados no Dia de Camões

Os vencedores da II edição do Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira serão anunciados a 10 de junho.

No dia 10 de junho, a União de Freguesias de Amarante (S. Gonçalo, Cepelos, Madalena e Gatão) irá anunciar os vencedores da II edição do Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira, após a última reunião do júri, presidida pelo escritor António Mota, no dia 9 de junho.

A data prevista para o anúncio dos vencedores era a 23 de abril, dia de abertura da Festa do Livro. No entanto, devido à COVID-19, ambas se tornaram impossíveis de realizar.

Em relação à cerimónia de entrega do prémio, Joaquim Pinheiro, Presidente da União de Freguesias de Amarante, salientou que estão a fazer os possíveis para que esta seja realizada na abertura do ano letivo 2020/2021. "Estamos a desenvolver todos os esforços para realizarmos a cerimonia da entrega de prémios no início do próximo ano letivo, procurando que ela tenha lugar num estabelecimento de ensino, em simultâneo com a apresentação dos livros vencedores e com o anúncio da IIIª edição do Prémio. Queremos que este seja um momento de festa e de incentivo à leitura e à escrita, a única fonte inesgotável de saber”, explicou.

O Prémio Ilídio Sardoeiro está a tomar “caminhos apelativos” na vertente cultural e escolar e o autarca afirma que tudo será feito para que o evento continue a crescer, “nomeadamente no escalão B, que diz diretamente respeito às escolas no concelho de concelho”. Para além disso, o número de concorrentes aumentou para o dobro, tendo-se registado “um aumento exponencial de concorrentes do Brasil”, referiu.

O género literário do prémio em questão trata-se do conto e, no concurso, existem dois escalões: o escalão A, para escritores maiores de 18 anos; e o escalão B, para estudantes com idades compreendidas entre os 15 e os 18 anos, que frequentem o ensino secundário nas escolas do concelho de Amarante.

As vencedoras da I edição do Prémio de Literatura Infantojuvenil Ilídio Sardoeira foram Anabela Borges, no escalão A, autora do conto “Os Dias Pequenos”, e Maria Freitas, com “Mudança de Estação”, no escalão B.» in https://averdade.com/tamega-e-sousa/amarante/2020-05-25-Amarante-Vencedores-do-Premio-Ilidio-Sardoeiro-anunciados-no-Dia-de-Camoes

05/05/20

Língua Portuguesa - No dia Mundial da Língua Portuguesa, lanço aqui um texto de Teixeira de Pascoaes, com a atualidade perene que só os grandes escritores conseguem alcançar...



«A Mentira é a Base da Civilização Moderna

É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático.

Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.

A mentira reina sobre o mundo! Quase todos os homens são súbditos desta omnipotente Majestade. Derrubá-la do trono; arrancar-lhe das mãos o ceptro ensaguentado, é a obra bendita que o Povo, virgem de corpo e alma, vai realizando dia a dia, sob a direcção dos grandes mestres de obras, que se chamam Jesus, Buda, Pascal, Spartacus, Voltaire, Rousseau, Hugo, Zola, Tolstoi, Reclus, Bakounine, etc. etc. ...

E os operários que têm trabalhado na obra da Justiça e do Bem, foram os párias da Índia, os escravos de Roma, os miseráveis do bairro de Santo António, os Gavroches, e os moujiks da Rússia nos tempos de hoje. Porque é que só a gente sincera, inculta e bárbara sabe realizar a obra que o génio anuncia? Que intimidade existirá entre Jesus e os rudes pescadores da Galileia? Entre S. Paulo e os escravos de Roma? Entre Danton e os famintos do bairro de Santo António? Entre os párias e Buda? Entre Tolstoi e os selvagens moujiks? A enxada será irmã da pena? A fome de pão paracer-se-à com a fome de luz?...»

Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"


25/12/19

Amarante Literatura - "Sejamos nós, que a nossa pessoa, quanto mais destacada, mais perfeita”, Teixeira de Pascoaes!



«Há só milagres. Façamos o milagre da nossa libertação espiritual. Eis a grande questão, não hamlética, mas quixotesca, ibérica. Não se trata de ser ou de não ser, mas de ser absolutamente. E ser é querer ser. Sejamos nós, que a nossa pessoa, quanto mais destacada, mais perfeita”.» in (Pascoaes, “Duplo Passeio”, Parte I, I, colecção “Obras Completas de Teixeira de Pascoaes”, organização de Jacinto do Prado Coelho, volume X, Livraria Bertrand, 1975 - Parte I, IV)


24/12/19

Amarante Poesia - O respeito que todos tinham na Casa de Pascoaes, pelo silêncio, pelo ser introspetivo e contemplativo, que era o Grande Poeta de Amarante, Teixeira de Pascoaes.




«Foi sempre um contemplativo. Não era triste, era um silencioso. Eu tive, mesmo depois de crescida, um respeito enorme pelo seu silêncio. Nunca o quebrava; esperava sempre que ele me interrogasse. Meu irmão não gostava - mesmo como criança - de ouvir berrar, rir alto, nem sequer o atraía o ruído cantante da filarmónica, que vinha tocar ao terreiro, em dias de festa da freguesia, o que nos sobressaltava a todos. Os ruídos metálicos irritavam-no. Talvez para não despertar o sonho que já vivia na sua alma...» in "Olhando para trás vejo Pascoaes" de Maria da Glória Teixeira de Vasconcelos


03/06/19

Amarante Literatura - Dois Grandes escritores de Portugal, do Mundo e de Amarante... no dia da partida de Agustina!



«Foi pouco depois que Pascoaes leu o primeiro livro que Bessa Luís lhe oferecera.
-«O Mundo Fechado». Gostou e quis dizer-lho. Escreveu-lhe uma carta a agradecer e a falar-lhe da sua admiração. Mas não sabia a morada nem o sexo do escritor, nesse tempo,  a Maria Agustina assinava apenas Bessa Luís. Meu Tio não sabia quem era. Entregou-me a carta e disse-me: «Vê se descobres a direcção e manda esta carta para o correio. Deve tratar-se de um homem porque só um homem poderia escrever com esta força.»

Pedi a morada ao editor, de Coimbra. Respondeu que não sabia. Soube depois que não estavam de boas relações. Guardei a carta e esperei uma melhor oportunidade. O tempo  passou. O Poeta morreu e a carta continuava nas minhas mãos.

Por fim, um dia, fui almoçar a casa de meu tio João. Encontrei lá um rapaz que eu conhecia há muito - o José Bessa, de Vila Meã.

Durante o almoço, a mulher dele, que ficara a meu lado, perguntou-me:
«Gosta da minha cunhada?» De início não percebi a pergunta. Indaguei: eu conheço a sua cunhada? Respondeu-me: «Pelo menos os livros deve conhecer.» Insisti: como se chama  a sua cunhada? - «Bessa  Luís» - foi a resposta.

Fiquei tão emocionada que quase não podia falar. Quando me recompus, pedi a morada e o telefone da Bessa Luís. Logo que cheguei a casa, liguei para a Maria Agustina e pus a  carta nas suas mãos.

Agradeceu-me  com  uma  carta  e  ficámos  amigas  para  sempre:

«Porto, 2 de  Dezembro de 1953

Ex.ma Senhora

«Chegou às minhas mãos há poucos dias a carta que o seu ilustre Tio, Teixeira de Pascoaes, me tinha escrito. Venho agradecer-lhe a si a gentilíssima maneira como me comunicou a existência dessa carta tão bela e inestimável. De certo pelo telefone lhe pareci fria e incompreensiva, tanto é certo que a notícia mais admirável ou estranha me deixa impassível à superfície. Mas eu desde logo senti o que havia de precioso nesse legado tornado mais especial ainda pela morte.

«Perdoe-me se o meu longo silêncio lhe deu ocasião para me julgar ingrata ou grosseira. Às vezes, de facto, sou ambas as coisas; mas sei redimir-me com rigor . As nossas faltas têm apenas um sentido, que é o de nos elevar pela expiação; são portanto indispensáveis ao nosso progresso moral. É pois de coração mais sincero, com mais veemência e convicção que me dirijo a si só agora. Podia ter-lhe agradecido há muito­ tempo. Mas só agora compreendo quanto lhe estou grata.

«Com os meus cordiais cumprimentos, creia-me ao seu dispor em tudo quanto possa ser da minha parte testemunho de amizade.»

Maria  Agustina  Bessa  Luís» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos


(Noites da 2 Agustina Bessa Luis RTP2 JPL TVRIP)

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