23/11/18

Ambiente e Ecologia - Um estudo levado a cabo pela investigadora Joana Castro Pereira, da Universidade Lusíada e IPRI-NOVA, aponta para um aumento do fosso entre a ciência e a ação política, e expõe razões de ordem cognitiva, cultural, institucional e política que levam a humanidade a negligenciar e a não agir perante o risco de catástrofe climática.



«ESTUDO PORTUGUÊS ALERTA QUE RISCO DE CATÁSTROFE CLIMÁTICA É MAIS PROVÁVEL DO QUE SE SUPÕE
23 nov 2018 13:29

Um estudo levado a cabo pela investigadora Joana Castro Pereira, da Universidade Lusíada e IPRI-NOVA, aponta para um aumento do fosso entre a ciência e a ação política, e expõe razões de ordem cognitiva, cultural, institucional e política que levam a humanidade a negligenciar e a não agir perante o risco de catástrofe climática.

Estudo português alerta que risco de catástrofe climática é mais provável do que se supõe.

Um novo estudo científico publicado na revista Global Policy conclui que o risco de catástrofe climática (RCC) é mais sério e provável do que usualmente se supõe. O estudo, da autoria de Joana Castro Pereira (Universidade Lusíada e IPRI-NOVA) e Eduardo Viola (Universidade de Brasília), assinala a degradação da resiliência das florestas tropicais e boreais, e como a perda de grande parte destes biomas poderá conduzir o planeta a uma catástrofe climática durante este século.

O estudo aponta ainda para um aumento do fosso entre a ciência e a ação política, e expõe razões de ordem cognitiva, cultural, institucional e política que levam a humanidade a negligenciar e a não agir perante o RCC.

Os autores procuram igualmente alertar para a negligência destas questões na política internacional e apresentam um conjunto de recomendações para lidar com a problemática: a) mais pesquisa sobre alterações climáticas catastróficas por parte das ciências sociais, o que contribuirá para avaliações mais robustas do IPCC (Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) e para uma melhor comunicação destes riscos às elites políticas e ao público em geral; b) a criação de um fórum internacional envolvendo as principais potências climáticas, de forma a promover a cooperação ao nível de pesquisa avançada sobre alterações climáticas catastróficas; c) e um maior enfoque científico e político na promoção da resiliência das florestas boreais e tropicais, nomeadamente da floresta amazónica, como ação basilar para evitar um cenário de catástrofe climática.

Falta de ferramentas para agir
No estudo, o conceito de catástrofe global foi definido como um "evento ou processo que, a acontecer, reduziria a população mundial em 10% ou mais (…) ou teria um impacto equivalente", segundo o "Global Catastrophic Risks Report" da "Global Challenges Foundation", publicado em 2016.

Para Pereira e Viola, a humanidade encontra-se ainda desprovida de ferramentas que lhe permitam perceber, aceitar e gerir o RCC. Tal, concluem os investigadores, tem quatro causas principais:

1. Limitações cognitivas e políticas: o cérebro humano está mais capacitado para perceber fenómenos lineares, em correlação, e não mudanças súbitas e exponenciais. Os indivíduos, bem como os sistemas político-legais existentes na maioria das sociedades, estão mais habituados a mudanças climáticas estáveis e previsíveis, e adaptam o seu conhecimento e práticas a essa realidade. Contudo, as alterações climáticas estão a acelerar e resultam de processos espontâneos e não-lineares, o que desafia as estruturas mentais e políticas existentes.

2. Predomínio da dicotomia natureza-sociedade: a perceção de que o clima é algo externo ao ser humano insiste em manter-se, ao mesmo tempo que essa realidade se altera. De acordo com o estudo de Crutzen e Stoermer (2000), o homem é agora um “agente geológico”, e a perceção da indissociabilidade dos mundos natural e social exige a criação de novas ideias e práticas que repensem e mitiguem a nossa influência sobre o clima.

3. Ausência de disponibilidade psicológica: o estudo argumenta que as gerações atuais precisam de melhores incentivos para adotarem novas práticas. O conceito de “gerações futuras” é demasiado distante e abstrato, criando pouca empatia às gerações de hoje para mudarem os seus comportamentos. O mesmo se aplica à relação entre as atuais gerações e o ambiente: as
pessoas tendem a relacionar-se mais com desastres/riscos ambientais concretos e experienciáveis do que com cenários catastróficos futuros.

4. Desafios à cooperação global: impedir uma catástrofe climática implica uma cooperação global profunda, complexa e estruturada. Mas historicamente, a cooperação só tende a acontecer depois de uma crise, não antes. A incerteza climática do futuro gera efetivamente um incentivo coletivo à ação, mas um desincentivo individual pelo preço que cada país tem de pagar para se adaptar à nova realidade. Se todos os países cooperarem por igual, o RCC reduz-se, mas pelo contributo que cada país tem de dar nesta matéria, o incentivo individual reduz-se, e os países começam a empenhar-se de forma diferente no esforço de redução do RCC.

O estudo, intitulado “Catastrophic Climate Change and Forest Tipping Points: Blind Spots in International Politics and Policy”, foi publicado na revista Global Policy. Os autores, Joana Castro Pereira e Eduardo Viola, fazem investigação sobre alterações climáticas e relações internacionais.» in https://lifestyle.sapo.pt/saude/noticias-saude/artigos/estudo-portugues-alerta-que-risco-de-catastrofe-climatica-e-mais-provavel-do-que-o-que-se-supoe

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