«Investigadores identificam padrões atuais na capacidade de infecção.
Dois grupos de investigação, do Instituto Gulbenkian de Ciência e Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e do Instituto Pasteur, França, acabam de desvendar por que razão bastam dez células de Mycobacterium tuberculosis para causar tuberculose, enquanto são necessárias dezenas de milhões de células de Vibrio cholera para causar cólera.
O estudo, publicado na última edição da revista PLoS Pathogens, ajudou os investigadores a caracterizar dois grandes grupos de bactérias: as mais infecciosas que são capazes de invadir e/ou destruir células do sistema imune do hospedeiro e as menos infecciosas que se multiplicam mais rapidamente e que comunicam umas com as outras.
“Com este trabalho compreendemos algo muito ‘antigo’: porque é que algumas espécies têm uma dose infecciosa tão alta e outras tão baixa”, afirma Francisco Dionísio ao Ciência Hoje.
O investigador da FCUL, líder da equipa portuguesa de investigação, explica que a literatura científica médica refere muitas vezes que uma espécie bacteriana tem dose infecciosa baixa enquanto outra espécie tem dose infecciosa alta, sem nunca proceder a uma definição científica do que é um valor baixo ou alto.
“Se para a espécie Orientia tsutsugamushi bastam três células bacterianas para causar sintomas e para outras espécies como Gardnerella vaginalis precisamos de milhares de milhões de células para que causem doença, podemos facilmente caracterizar O. tsutsugamushi como sendo de dose infecciosa baixa e G. vaginalis como sendo de dose infecciosa alta”, exemplifica.
O cientista diz que ao recorrer a métodos estatísticos compreendeu que não existem dois grupos, um de valores baixos e um outro de valores altos, mas sim um contínuo de valores. “Então, perguntámos nós, o que explica esta enorme diversidade se o hospedeiro é sempre o mesmo, o Homem?”.
Colónias de bactérias em cultura no laboratório (Crédito: João Gama e Francisco Dionísio)
As grandes diferenças, compreenderam, são que "as espécies bacterianas de dose infecciosa baixa matam ou inserem-se em células do nosso sistema imunitário e dividem-se devagar; por outro lado, as de dose infecciosa alta são rápidas a multiplicar-se e têm maior probabilidade de conter sistemas para comunicarem entre si e têm sistemas de mobilidade”.
Estas conclusões têm implicações em saúde pública pois ajudam a identificar padrões actuais na capacidade de infecção das bactérias e contribuem para prever a evolução da infectividade dessas bactérias no futuro.
“O que fizemos foi relacionar informação e perceber que as bactérias têm alguma lógica: se não têm um alvo muito específico têm de entrar no ser humano em grande quantidade e ter uma taxa de replicação muito alta para coordenarem bem o seu ataque”. Esta é, de acordo com o investigador, “uma estratégia militar bem ‘pensada’!”.
Apesar de haver dois grupos distintos (um dose alta versus dose baixa) os investigadores ainda detectam uma enorme diversidade em cada um deles. Assim, os próximos passos na investigação serão perceber porque existe essa diversidade e se terá alguma relação com os sistemas de resistência a antibióticos mais encontrados em cada uma das bactérias destes grupos.» in http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=53248&op=all
(Globo Repórter, o mundo invisível das bactérias)
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