«VILAR DE MAÇADA E A ORDEM DE MALTA
Tem este singelo artigo a modesta intenção de rever um pouco da história da freguesia donde sou natural e a sua forte e antiga ligação à Ordem de Malta, também conhecida como Ordem do Hospital ou dos Hospitalários ( oficialmente Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta ) e em simultâneo – até por estar com essa ligação relacionada - vir publicamente a defender uma ideia que tenho sobre a origem do nome da minha terra. Ainda corre a ideia de que o nome de Vilar de Maçada tenha origem no maço de guerra de um herói de Aljubarrota, o fidalgo vilarmaçadense Martim Gonçalves de Macedo Só que esta ideia vem da coincidência e da parecença de nomes, pois a batalha foi em 1385 e já em 1253 D. Afonso III atribui foral a Villar de Massada, lavrado nesse ano em Lamas de Orelhão, aquando de uma visita do Rei e sua côrte a Trás-os-Montes. A minha teoria é outra: o nome de Vilar de Maçada poderá ter origem no nome de uma mítica cidadela da Terra Santa que se denomina precisamente Massada. Esta cidadela fora importante no ano de 66 aquando de uma rebelião contra o domínio romano, liderada por Josephus e um grupo de zelotas e que as hostes romanas tiveram imensa dificuldade em dominar, dada a posição alcantilada e quase inacessível daquela cidadela judaica, havendo um filme de 1983 com Peter OToole e Peter Strauss, denominado Masada, que relata esse episódio histórico. Em que me fundamento para defender que o nome da minha freguesia provém desta cidadela? Na conhecida grande ligação já muito antiga desta povoação à Ordem de Malta, comprovada documentalmente : «…item as cincoenta e três folhas do dito livro foi achado o Julgado de Panoyas, em o qual foi achada a Inquiriçom das Parroquias a saber de São Salvador de Boucoos,e de Santa Maria de Villar de Massada,e de São Miguel de Poyares, com as quais o Hospital tem suas possessões…», excerto do «Livro dos Forais, Escrituras, Doações, Privilégios e Inquirições » do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças. Neste texto Hospital significa Ordem dos Hospitalários, sendo o texto anterior a 1530, pois só nesta data se passou a denominar Ordem de Malta. Essa ligação está também assinalada no brasão da vila, onde figura a cruz de Malta e onde também figura, logicamente, o maço de guerra do herói de Aljubarrota, aliás sepultado no Mosteiro da Batalha por deferência especial do Rei D. João I. Outro forte indicador da ligação a esta Ordem é a existência de dois marcos de comendas desta mesma Ordem em duas quintas desta freguesia. Dá-se também a circunstâncias de haver alguma semelhança na origem do seu nome com outra terra transmontana que também foi pertença de Cavaleiros desta Ordem que é Jerusalém do Romeu. Os Cavaleiros da Ordem de Malta deram a estas duas povoações, seus condomínios, digamos assim, Romeu e Vilar, nomes de locais da Terra Santa a que estiveram ligados nas cruzadas. Já vimos que Poiares, actualmente no concelho do Peso da Régua e Mouçós, em terminologia antiga Boucoos, no concelho de Vila Real, também foram pertença dos seus vastos domínios, havendo pelo país fora muitíssimas outra povoações, cidades, vilas e aldeias ligadas historicamente a esta Ordem, como também existem outras ligadas à Ordem de Cristo – antiga Ordem dos Templários - ou à Ordem de Santiago. Quanto à de Malta, também denominada dos Hospitalários ou de S. João de Jerusalém ou ainda de S. João de Rodes, podemos referir as seguintes: Crato, vila e sede de concelho no distrito de Portalegre, sendo o prior da Ordem e por inerência o próprio prior do Crato; Malta, no concelho de Vila do Conde; Malta no de Macedo de Cavaleiros; Guilheiro no de Trancoso; Falagueira no da Amadora; Alcafache no de Mangualde; Santa Eulália no de Lousada; Granja-da-Paradela no de Odivelas; Cortegaça no de Mortágua; Figueiró-da-Serra no de Gouveia; Frossos no de Abergaria-a-Velha; Pontével no concelho do Cartaxo e, para além de muitas outras, Oliveira do Hospital. Quanto a esta cidade do distrito de Coimbra, o nome provém precisamente de Hospitalários, designação mais antiga desta Ordem. Já agora um resumo da sua história : foi fundada em 1099 em Jerusalém, na época das cruzadas, como congregação beneditina e esteve desde logo ligada ao apoio aos peregrinos que demandavam a Terra Santa e ao hospital de S. João Baptista fundado naquela cidade. No início do século XII, mais precisamente em 1113, foi instituída pelo Papa Pascoal II como ordem militar e religiosa com a designação de Ordem de S. João de Jerusalém. Ficou sediada e passou a operar a partir da ilha de Rodes em 1312 - daí o nome que também usa de Ordem de S. João de Rodes - passando a designar-se Ordem de Malta, apenas a partir de 1530, ano em que se estabeleceu na ilha de Malta, doada pelo imperador e Rei de Espanha Carlos V, casado com Dona Isabel, uma princesa portuguesa filha de D. Manuel I. No nosso país, dentre muitos outros patrimónios, foi desta ordem o Castelo de Belver, o Mosteiro de Leça do Balio e o Priorado do Crato. Aliás o Prior da Ordem era por inerência o Prior do Crato e há aqui que relembrar a importância na nossa história de D. António Prior do Crato, neto de D. Manuel I, filho do Infante D. Luís, que também tinha sido Prior do Crato. É que D. António fora pretendente ao trono na crise sucessória de 1580 e lutou bastante por tal, chegando a ser proclamado Rei em Santarém em Julho de 1580. Se tivesse conseguido esse seu patriótico objectivo o nosso país teria escapado ao domínio castelhano de 1580 a 1640.
Quanto aos marcos que referimos no início deste artigo, são denominados marcos de comendas e assinalavam os domínios que a Ordem como Instituição, ou seus altos dignitários, possuíam ou neles detinham direitos a foros ou rendas. No Alto Douro Vinhateiro são muitas vezes confundidos com os marcos pombalinos, mas geralmente não apresentam a data e são típicas as cruzes que os identificam, havendo marcos com a cruz de Cristo – a cruz das caravelas – assinalando domínios da Ordem de Cristo, antiga Ordem dos Templários, transformada em Ordem de Cristo por D. Dinis em 1319 – e outros têm gravada a cruz de oito pontas, bem característica da Ordem de Malta, sendo essa que está bem visível nos dois marcos de comendas da freguesia de Vilar de Maçada, curiosamente num em baixo relevo, noutro entalhada no granito, sendo neste último bem visíveis as referidas oito pontas da cruz de Malta A origem mais provável da forma desta cruz com oito pontas é que seria tirada de uma sigla muito usada pelos primeiros cristãos como identificação e gravada em inúmeros locais, igrejas, capelas e outros monumentos por todo o Médio Oriente por onde os cavaleiros iam campeando na saga das cruzadas, sigla essa de que anexo uma foto tirada em Efeso, na actual Turquia. Por coincidência, ou talvez não, também são oito as províncias ou «línguas» em se organiza a Ordem na Europa, três francesas, duas espanholas, uma italiana, uma alemã e uma inglesa. Também há quem relacione com as oito bem aventuranças do sermão da montanha mas deverão ser tudo meras coincidências. Em anexo seguem as fotos do brasão da vila, dos dois marcos de comendas existentes na freguesia e do cartaz do filme sobre a história da cidadela de Massada na Judeia, onde Herodes, o Grande, o reconstrutor do famoso Templo de Jerusalém (mais tarde destruído pelas legiões do Imperador romano Tito no ano de 70) mandou construir uma fortaleza e um palácio de que ainda restam algumas ruínas, como se pode observar nas fotos anexas.
Esperando que estas notas possam ser um tema para um possível debate, fico à disposição dos nossos leitores.
José Alves Ribeiro, Outubro de 2008»
Documento completo no seguinte link: http://docs.google.com/Doc?id=dhm8zjzb_5c92t2pc3
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Agradeço ao Eng. José Alves Ribeiro por ter a amabilidade de aumentar os nossos conhecimentos, sobre uma temática que a mim, em particular, diz muito! A segunda imagem retrata: Massada – Cartaz do filme e aspectos da fortaleza e do palácio de Herodes, o Grande. Nota a terceira imagem representa uma Sigla dos antigos cristãos gravada numa pedra calcária em Efeso. A quarta e quinta imagem representam: Marcos de comendas da Ordem de Malta na freguesia de Vilar de Maçada concelho de Alijó: Q.ta dos Marinhos em Cabêda e Q.ta da Gaiteira na Sanradela.
Bem haja pela sua amabilidade e gentileza, Eng. José Alves Ribeiro!
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