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24/11/15

Política Nacional - Há 40 anos, era fundado o “arco da governação”, esse mesmo que está, agora, por um fio e que se tornou mais alargado à esquerda...



«O Novembro quente de 1975

Há 40 anos, era fundado o “arco da governação”, esse mesmo que está, agora, por um fio. Recorde as imagens desse período e relembre, em seis pontos, como tudo aconteceu e descubra as diferenças entre aquele mês fervilhante e este novembro escaldante...

Em 1975, António Costa, atual líder do PS, tinha 14 anos e iniciava-se na atividade política. A 25 de novembro desse ano, forças moderadas e radicais defrontaram-se numa luta de morte. Ganharam os moderados. O arco da governação, composto por PS, PSD e CDS, iniciava o seu longo ciclo e os comunistas eram banidos do poder. Até hoje. Se tem menos de 40 anos e não percebe o que tem de tão especial e histórico o acordo recente que o PS fez com os partidos à sua esquerda, leia este texto. Se viveu os acontecimentos, recorde este clássico a preto e branco que nos espreita de um outro século, e confira, em seis perguntas e respostas, como tudo aconteceu.


1 - O QUE ERA A FUR?

Com a liderança do PCP, criada a 25 de agosto, a Frente de Unidade Revolucionária (FUR) tinha sido constituída, para preparar, nas ruas, o golpe que aniquilaria as forças da «reação» e colocaria no poder um governo da vanguarda revolucionária. O PCP deixaria cair o primeiro-ministro Vasco Gonçalves, seu compagnont de route, mas já esgotado por mais de um ano de sucessivos governos provisórios, cada vez menos populares. Sucedeu-lhe o almirante Pinheiro de Azevedo, aceite pelos comunistas mas que rapidamente lhes fez frente. A FUR incluía a LCI, movimento trotskista, onde militava Francisco Louçã, hoje no Bloco de Esquerda; o MDP (partido satélite do PCP, equivalente ao que são hoje os Verdes); a FSP (dissidentes do PS); o PRP-BR, de Isabel do Carmo e Carlos Antunes (mais tarde indiciados por atos terroristas); a Organização 1.º de Maio; e a LUAR, movimento autor de ações espetaculares contra a ditadura de Salazar e Marcelo Caetano. Os diversos partidos inscreviam-se nas correntes mais díspares – e rivais – e faziam a síntese impossível: havia leninistas, trotskistas, não alinhados, católicos progressistas e até alguns maoistas. Só a UDP, da linha albanesa, corria em pista própria. A junção de todos estes movimentos inconciliáveis só se percebia à luz da preparação de uma frente comum contra todos os que defendiam um regime parlamentar, pluralista, alinhado com a Europa Ocidental, a CEE e a NATO. A FUR tinha um braço-armado clandestino nas Forças Armadas, os SUV (Soldados Unidos Vencerão), encarregado de espalhar propaganda e promover a agitação nos quartéis, à margem da tr adicional disciplina militar.


2 - COMO AGIRAM OS COMUNISTAS?

Os comunistas recuaram no último momento. O todo-poderoso secretário-geral do PCP, Álvaro Cunhal, percebeu que, numa guerra civil, os revolucionários perderiam contra as forças moderadas, que detinham as principais unidades militares do País e tinham a grande maioria da população a seu favor. Em caso de conflito, e derrota, o PCP seria arrastado e corria o risco de desagregação, carregando o ónus da eclosão de uma guerra civil. Na composição parlamentar da Assembleia Constituinte, eleita a 25 de abril desse ano, as forças revolucionárias tinham 36 dos 250 deputados e as forças moderadas 214... Nas vésperas de 25 de novembro, no maior secretismo, elementos do MES, partido de socialistas radicais mas não totalitários, convencem Cunhal para um encontro secreto com o líder dos militares moderados, o prestigiado ideólogo do 25 de Abril, coronel Ernesto Melo Antunes.


3 - O QUE FOI O ENCONTRO SECRETO?

O encontro secreto entre Cunhal e Melo Antunes (negado, até ao fim da vida, pelo líder histórico comunista, mas hoje inequivocamente comprovado...) dá-se em casa de Nuno Brederode Santos, um dos melhores amigos de Jorge Sampaio, cofundador do MES e depois aderente ao PS (em 1978, com Sampaio e outros socialistas independentes). O encontro, na residência situada na Estrada das Laranjeiras, em Lisboa, é narrado pelo anfitrião ao jornalista José Pedro Castanheira, no livro Jorge Sampaio, uma biografia: "Primeiro, apareceu o Melo Antunes, sozinho. Depois o Cunhal. Após as cortesias normais, retirei-me. Tomei banho, estive na cama a ler, até que ouvi o Melo Antunes a chamar. Fui até à sala e conduzi o Cunhal ao elevador. Melo Antunes ficou mais meia hora comigo. Não revelou nada de concreto, mas disse o suficiente para eu perceber que estava a tirar ilações corretas da conversa." Nenhum dos protagonistas jamais assumiu o encontro, mas o que parece é que, em troca da não participação do PCP em qualquer golpe, os moderados garantiam a sua sobrevivência, após a clarificação militar iminente e no quadro da nova recomposição política do País.


4 - QUEM ERA MELO ANTUNES?

Melo Antunes era um militar antimilitarão, intelectual, que preferia o fato e gravata à farda e que percebia mais de política do que de táticas castrenses. Ele já havia sido o ideólogo político do 25 de Abril e redator do programa do MFA (Movimento das Forças Armadas), e tinha sido, também, o redator do famoso Documento Melo Antunes, ou Documento dos Nove, por ser subscrito por nove oficiais do MFA e membros do Conselho da Revolução. Nesse texto de 9 de agosto, no auge da revolução, os signatários defendem uma via democrática e pluralista e, numa alusão aos revolucionários e ao PCP, rejeitam “qualquer tipo de totalitarismo”. A 10 de agosto o PCP reagia com uma reunião secreta do Comité Central, em Alhandra, onde Álvaro Cunhal não põe de lado a tomada do poder por meios não pacíficos. Esta reunião precede a criação da FUR, a 25 de agosto. Os vanguardistas querem levar a revolução marxista às últimas consequências. Os moderados têm em conta a vontade da população e os resultados eleitorais. A 25 de novembro os primeiros dão o primeiro passo militar que se salda pela vitória dos segundos. Fecha-se o ciclo revolucionário e acaba o PREC. Abre-se o caminho à democracia parlamentar e à integração europeia.


5 - QUEM FORAM OS PROTAGONISTAS?

Quando o golpe se dá, na madrugada de 25 de novembro, a ordem da direção do PCP aos seus militantes é para que "ninguém saia à rua!". Outra das figuras militares conotada com os golpistas, o poderoso comandante do COPCON (Comando Operacional do Continente) é também convencido a ficar quieto e é neutralizado. Otelo Saraiva de Carvalho passa a maior parte do tempo incontactável, fechado no Palácio de Belém, onde o Presidente Costa Gomes representa um papel crucial de moderação e de defesa da legalidade. Está evitada a guerra civil.

As forças moderadas, mais numerosas, organizadas e disciplinadas, são coordenados pelo até então obscuro coronel António Ramalho Eanes (que seria depois eleito Presidente da República, nas primeiras eleições presidenciais por sufrágio universal, em 1976, e reeleito em 1980), e anulam, com profissionalismo militar, a aventura dos revoltosos, mal organizados e pouco disciplinados. Pires Veloso, comandante da Região Militar Norte, Franco Charais, seu congénere do Centro e Vasco Lourenço, homólogo em Lisboa, são homens dos nove ou próximos do grupo. Têm o Exército na mão. Jaime Neves, líder dos Comandos da Amadora, protagoniza as ações mais espetaculares, ao expulsar os ocupantes do emissor de Monsanto da RTP e ao cercar o poderoso quartel de Lanceiros 2, na Ajuda, onde está a força revolucionária da Polícia Militar (PM) liderada pelo major Mário Tomé, mais tarde deputado da UDP (partido hoje absorvido pelo Bloco de Esquerda). Esta ação provoca os únicos mortos – três – do 25 de novembro, todos militares da PM. Não é, propriamente, o temido banho de sangue...


6 - COMO SE SAFOU O PCP?

No dia seguinte, Melo Antunes cumpre a sua parte do acordo com o líder comunista e trava as aspirações de uma certa direita revanchista. Ele sabe que é, nesse momento, o homem mais influente do País. Num instante, e em 35 palavras fundadoras, condiciona, através das câmaras da RTP, o que será o regime nas próximas décadas: "Eu quero dizer, neste momento, e considero isso muito importante, que a participação do Partido Comunista Português na construção do socialismo é indispensável. Não me parece que seja possível, sem o PCP, construir o socialismo”. Esta terminologia parece algo anacrónica mas, traduzida para linguagem atual, a "construção do socialismo" é o equivalente à "estabilização da democracia".

O Verão Quente, entre 11 de março e 25 de novembro, fora longo – oito meses de constante tensão político-militar e um clima de guerra civil latente. Pelo meio, o primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo chegou a ser cercado, com o seu Governo, em São Bento, por elementos da FUR e o Governo chegou a entrar em greve! O cerco repetir-se-ia, poucas semanas antes do 25 de novembro, em torno do Parlamento, pelos sindicatos da construção civil, apoiados pela FUR. Os deputados da Assembleia Constituinte estiveram sequestrados 48 horas, enquanto operários em fato de macaco ocupavam o vetustos sofás dos corredores, numa reconstituição lusitana da tomada do Palácio de Inverno, pelos bolcheviques, na revolução russa de 1917... O 25 de novembro normaliza o esquizofrénico clima político nacional. A estabilização surge com a aprovação da Constituição, em 1976, com os votos de todos os partidos à exceção do CDS, e com a eleição do I Governo Constitucional, chefiado por Mário Soares (PS).

O arco da governação durará 40 anos. António Costa tinha 14 anos e, embora filho de um militante comunista, começa a fazer política ao lado dos moderados. Aos 14 anos, é, também, um vencedor. Mas o líder socialista sempre conheceu bem os dois lados da barricada. Será ele, quatro décadas depois, a reabilitar os derrotados do 25 de novembro. Se Cavaco Silva, que começava, em 1975, a simpatizar com Sá Carneiro e com o PPD, o consentir. Uma ironia da História pode empurrar a decisão para... 25 de novembro. É já daqui a seis dias. fluis@visao.impresa.pt» in http://visao.sapo.pt/actualidade/portugal/2015-11-24-O-Novembro-Quente-de-1975


(25 de Novembro de 1975)


Do 25 de Abril ao 25 de Novembro - (versão integral)



25/10/15

História - Quer haja ou não um tesouro escondido na Quinta da Moita Longa (Toxofal de Cima, Lourinhã), no sentido de um monte de riquezas materiais como nas histórias de aventuras, aquele local é decerto morada de outro tipo de tesouro: o legado da presença da Ordem dos Templários naquela região, há oito séculos.



«Quando os templários andavam pela Lourinhã

Uma obra lançada há uns meses parte de indícios de uma quinta familiar para investigar a História de Portugal e da Europa.

Quer haja ou não um tesouro escondido na Quinta da Moita Longa (Toxofal de Cima, Lourinhã), no sentido de um monte de riquezas materiais como nas histórias de aventuras, aquele local é decerto morada de outro tipo de tesouro: o legado da presença da Ordem dos Templários naquela região, há oito séculos. É esse o motor da investigação de António Botto Quintans, cuja família é proprietária da Quinta.

É a partir de um fresco na capela da Quinta da Moita Longa que o autor inicia a pesquisa de “Quinto império – testemunhos de uma história verídica”. Lançado em julho, o livro promete guiar o leitor através das “marcas inéditas da presença templária em toda a zona envolvente, inclusive um campo de sepultura e registos escritos que sugerem que algo de muito importante foi escondido nesta zona durante o reinado de D. Dinis”. O Toxofal de Cima foi também poiso dos monges de Cister, cujo couto incluía parte da Quinta.

“Não há subterfúgios nem ideais subconscientes. Tudo é límpido como as águas que correm na Fonte Divina da Quinta da Moita Longa”, afirma António Botto Quintans, que dá conta da sua investigação no blogue, onde promete prosseguir este trabalho. Trabalho que é, segundo o historiador Pedro Silva – autor do prefácio da obra –, imbuído de um sentido de missão e movido pelo “apelo do conhecimento”. Acrescentaríamos outro fator encorajador: a paixão de Quintans pelo local onde cresceu, e que evoca num tom pessoal ao longo do livro, incluindo memórias e até lendas familiares.

DA “BÍBLIA” AOS “LUSÍADAS”

Profusamente ilustrado, o volume sustenta a informação com mapas, esquemas e fotos. Prestando especial atenção à localização geográfica da Quinta – hoje local de turismo rural – e à disposição das casas que a compõem, insere-as numa geometria que se expande a todo o continente europeu, enquadrada nas rotas dos templários e no caminho de Santiago. E vai entretecendo estes indícios de um significado místico, plasmado em triângulos, cruzes e pentagramas – com factos da História de Portugal e da Europa.

Centrada na Quinta da Moita Longa, a pesquisa de Quintans alarga-se a vilas e aldeias das redondezas (Lourinhã, São Bartolomeu dos Galegos, Atouguia da Baleia) e mais além, perscrutando igrejas, azulejos, frescos e brasões. A heráldica desempenha, aliás, um papel importante na decifração de simbolismos ocultos, tarefa em que o autor não poupa esforços. Entre as fontes onde vai beber – além daquela cujas águas correm no Toxofal de Cima – contam-se a “Bíblia”, “Os Lusíadas” e “A Peregrinação”.

Redigido num tom nada académico e acessível a leigos, “Quinto Império” apoia-se numa vasta bibliografia e em horas de pesquisa em bibliotecas e arquivos diversos. O autor garante que a empreitada começou há duas décadas, orientada por uma citação de São Bernardo de Claraval: “Encontrarás mais nos bosques do que nos livros.” Ora, bosques é o que não falta em redor da Quinta da Moita Longa, e Quintans não quer deixar uma pedra por inspeccionar.» in http://expresso.sapo.pt/cultura/2015-10-25-Quando-os-templarios-andavam-pela-Lourinha-

21/08/15

História de Portugal - A 21 de agosto de 1415, uma armada portuguesa de 212 navios e 20 mil homens conquistou a cidade de Ceuta e marcou o início da expansão ultramarina portuguesa e europeia e o nascimento da globalização.


«A globalização foi inventada pelos portugueses há 600 anos

A 21 de agosto de 1415, uma armada portuguesa de 212 navios e 20 mil homens conquistou a cidade de Ceuta e marcou o início da expansão ultramarina portuguesa e europeia e o nascimento da globalização.

Portugal, um pequeno país da periferia da Europa, pobre e com uma população de apenas um milhão de habitantes, decidiu conquistar a 21 de agosto de 1415 a estratégica cidade portuária de Ceuta, situada no reino de Fez, no Magrebe. E iniciou um processo de expansão territorial, marítima, económica, política, militar e religiosa que o levou a afirmar-se como potência mundial e a controlar o comércio global durante mais de 100 anos, através da criação de um império marítimo em rede nos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico.

Não há um consenso académico sobre a principal motivação que levou o rei D. João I a tomar a decisão de conquistar Ceuta há 600 anos. Os historiadores apontam uma lista infindável de causas: os três filhos mais velhos do rei – D. Pedro, D. Duarte e D. Henrique – queriam ser armados cavaleiros em teatro de guerra e não num torneio; era preciso acabar com os ataques permanentes de piratas muçulmanos à costa portuguesa, nomeadamente no Algarve; Ceuta era um entreposto comercial estratégico onde afluíam especiarias, tecidos e outras riquezas do Oriente, os cereais de Marrocos e o ouro do Sudão; era uma base naval que dominava o estreito de Gibraltar, porta do Mediterrâneo, e a sua posse representava a continuação natural da reconquista de território aos muçulmanos iniciada na Península Ibérica; a sua ocupação era a primeira etapa do “Plano das Índias” do infante D. Henrique; o domínio do estreito de Gibraltar abria o acesso a novas áreas de pesca e ao comércio de escravos; D. João I e a Casa de Avis precisavam de se afirmar a nível nacional e internacional perante as ameaças de invasão de Castela, e queriam ganhar simpatia e credibilidade junto do Papa e da Cristandade na sua luta contra o Islão; havia uma nobreza feudal desocupada, irrequieta, conflituosa e com ideais religiosos, que podia ser colocada ao serviço do rei com a promessa de cargos públicos, benesses, terras e enriquecimento em África.

O mais provável é que todas estas causas tenham contribuído de algum modo para a invasão da cidade marroquina, sem que nenhuma delas se destacasse. Mas ainda hoje se tiram lições geoestratégicas muito atuais da Expansão e dos Descobrimentos portugueses que inauguraram a Era Moderna, numa altura em que Portugal continua confrontado, tal como há 600 anos, com a mesma questão identitária: qual é o seu lugar na Europa e na globalização?


AS LIÇÕES DOS DESCOBRIMENTOS

No seu livro “As Lições dos Descobrimentos” (Centro Atlântico, 2013), Jorge Nascimento Rodrigues (jornalista do Expresso) e Tessaleno Devezas (professor da Universidade da Beira Interior) defendem precisamente que os portugueses dos século XXI podem basear-se nos dez pontos fortes e diferenciadores dessa época – a que chamam a Matriz das Descobertas – “para traçarem o seu caminho profissional e coletivo”.

Esses pontos, “uma espécie de ADN do ser português”, são: o intento estratégico, a vocação universalista, o comprometimento científico, a gestão do conhecimento, o olhar para “fora da caixa” (out of the box) de modo a ser original e a surpreender, o domínio da informação assimétrica (deter informação superior aos rivais), o incrementalismo (tentativa/erro e correção pragmática), o espírito crítico, a “manha” geoestratégica e o improviso organizacional, isto é, o famoso “desenrascanço”, que hoje pode ser uma vantagem comparativa perante uma economia global em permanente mudança.

Hoje, tal como na época da conquista de Ceuta e das Descobertas, os portugueses têm de apostar naquilo em que são melhores e superar as suas contradições, para que o país possa encontrar um lugar na Europa e na globalização que inventou há 600 anos.

Comecemos pelas qualidades inscritas no nosso ADN, sintetizadas de forma bem esclarecedora pelo economista José Manuel Félix Ribeiro, no seu livro “Portugal, a Economia de uma Nação Rebelde” (Guerra e Paz Editores, 2014): somos uma nação que é um aliado leal, “capaz de lutar pela sua sobrevivência em situações de enorme desproporção de forças e com uma precoce compreensão da importância das alianças” e do relacionamento externo para a sua afirmação; somos também uma nação “que estiola no isolamento”, cujos momentos maiores “coincidiram com um intenso relacionamento com outras civilizações”, traduzindo uma grande capacidade “de fazer circular a informação entre elas”; e estamos abertos às inovações, disponíveis para aprender com o que é estrangeiro e capazes de o transformar no que é nacional.

Mas depois vêm as nossas contradições: somos uma nação marcada por um profundo individualismo e, ao mesmo tempo, “por uma aspiração nunca apagada a realizações coletivas que a engrandeçam perante o mundo”; temos uma grande reserva de gente com ambição, espírito de sacrifício e determinação individual de vencer, “coexistindo com outras matrizes socioculturais que produzem, periodicamente, um medo violento do risco e da diferença”, encontrando no pessimismo a ideologia que oculta esse medo.


HISTÓRIA MEDIEVAL OU HISTÓRIA MODERNA?

Não deixa de ser curioso que alguns historiadores, como António Oliveira Marques ou Luís Filipe Thomaz, defendam a tese de que Ceuta não foi o arranque da Era Moderna da Expansão e das Descobertas portuguesas e europeias, mas antes a continuação da reconquista de território aos muçulmanos. No seu livro “De Ceuta a Timor” (Difel, 1994), Luís Filipe Thomaz conclui que “pelas suas motivações como pelo seu carácter, pela sua continuidade com a Reconquista (processo de expulsão dos muçulmanos da Península Ibérica) como pela ideologia que a informa, pelo espaço geográfico em que se desenrola, pela base social”, a expansão portuguesa em Marrocos “é muito mais um derradeiro episódio da História Medieval do que o primeiro episódio da História Moderna”.

O historiador argumenta que a aventura marroquina oferecia aos nobres cargos públicos, oportunidades de enriquecerem pela pilhagem ou de receberem do rei, devido às suas proezas, benesses variadas ou mesmo terras, se a conquista territorial se concretizasse. Assim, “é em geral a nobreza que se mostra entusiasta das conquistas em Marrocos, enquanto a classe mercadora se lhe mostra hostil”. Aliás, em certa medida, esta classe foi muito mais vítima do que autora moral da conquista de Ceuta, porque para custear este projeto o rei D. João I apoderou-se de todas as mercadorias e navios disponíveis em Portugal, “explorando durante dois anos por sua própria conta todo o comércio com a Inglaterra e Flandres”.

As motivações não foram, por isso, essencialmente económicas, e põem em causa a tese de que o móbil de conquista teria sido a obtenção de um entreposto comercial, “equiparando a sua função à que seria, volvido um século, a de Malaca ou de Ormuz, peças de uma rede marítima coerente”. De qualquer maneira, Filipe Thomaz reconhece que a posse de Ceuta conferia à navegação de comércio pelo estreito de Gibraltar e às pescas muito maior segurança. “Isso explica que os mercadores de Lisboa e Porto tenham cedido de bom grado os seus navios para transportar tropas para a conquista”.

Alexandra Pelúcia, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, adianta mesmo, no seu livro “Corsários e Piratas Portugueses” (A Esfera dos Livros, 2010), que o arranque do processo expansionista português marcado pela conquista de Ceuta em 1415 “foi em parte moldado em função dos interesses ligados ao corso” (assalto autorizado pelos reinos locais a barcos estrangeiros) nos mares da região, porque o domínio da cidade “permitiu a automática substituição dos assaltantes muçulmanos, que costumavam operar a partir dela, por outros portugueses”.» in http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-08-21-A-globalizacao-foi-inventada-pelos-portugueses-ha-600-anos


(Conquista de Ceuta)


(A Conquista de Ceuta D.Joao I - Canal História)


História de Portugal - De D.Dinis à conquista de Ceuta 2 (1248-1415)

08/05/15

História de Portugal - Como anda muita gente com saudosismo da Monarquia Tradicional Absoluta, eis aqui um contributo eloquente, do nosso Grande Escritor, Camilo Castelo Branco, no seu livro "Perfil do Marquês do Pombal".



"(...) E a rainha, então, comovida pelo seu confessor, assinou o seguinte decreto, que é a página mais aviltante da vida do marquês do Pombal:

Por justos motivos que me foram presentes, julguei não convir ao meu real serviço que nele continuasse o marquês do Pombal no exercício de secretário de estado dos negócios do reino, ordenando-lhe que saísse da minha corte, e fizesse a sua assistência na vila de Pombal; não esperando que depois desta demonstração se atrevesse com afectada e frívola ocasião a formar uma contrariedade em um pleito civil que se lhe movia a fazer uma apologia do seu passado ministério, a qual fui servida desaprovar pelo meu real decreto de 3 de Setembro de 1779. E, mandando-o ouvir e interrogar sobre vários e cargos que contra ele resultaram, não só se não exonerou deles, mas antes com as suas respostas e diferentes averiguações a que mandei proceder, se qualificaram e agravaram mais as suas culpas:

O que, sendo examinado por uma junta de ministros a que me pareceu encarregar este negócio, foi vencido que o dito Marquês do Pombal ERA RÉU E MERECEDOR DE EXEMPLARES CASTIGOS; a o que porém não mandei proceder atendendo às graves moléstias e decrepidez em que se acha, lembrando-me mais da clemência do que da justiça, e também porque o mesmo marquês me PEDIU PERDÃO, DETESTANDO O TEMERÁRIO EXCESSO QUE COMETERA

Pelo que sou servida perdoar-lhe as PENAS CORPORAIS QUE LHE DEVIAM SER IMPOSTAS, ordenando-lhe que se conserve fora da corte na distância de vinte léguas enquanto por mim não for determinado o contrário, deixando porém ilesos e salvos todos os direitos e justas pretensões que possa ter a minha coroa, e fazendo igualmente os que deviam ter alguns dos meus vassalos para que em juízos competentes possam conseguir e serem indemnizados das perdas, danos, e interesses em que o dito Marquês os tiver prejudicado; porque a minha real intenção é só PERDOAR-LHE A PENA AFLITIVA DA SATISFAÇÃO DA JUSTIÇA, e não a satisfatória das partes, e do meu património real; podendo as mesmas partes, e os meus procuradores régios usarem dos meios que forem legitimamente competentes contra a casa do referido Marquês assim em sua vida  como depois da sua morte. A mesa do desembargo do paço o tenha assim entendido.

Queluz, 16 de Agosto de 1781.

COM A RUBRICA DA RAINHA. (...)"
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A corrupção dos valores e dos costumes, parece-me que foi transversal a todos os regimes políticos que tivemos e isso não nos enobrece enquanto povo... assusta bastante, é a defesa do corporativismo que a ditadura de Salazar tanto defendeu...


(Marquês de Pombal)

11/03/15

História de Portugal - Nos dias seguintes ao 11 de Março de 1975, o coronel João Varela Gomes foi acusado de "usurpação de funções" por ter lançado por rádio e televisão apelos à luta do povo contra o golpe spinolista, perante a RTP, assume: foi uma "usurpação revolucionária".



«O 11 de Março 40 anos depois: entrevista com João Varela Gomes
António Louçã/Pedro Pina/Nuno Patrício

Nos dias seguintes ao 11 de Março de 1975, o coronel João Varela Gomes foi acusado de "usurpação de funções" por ter lançado por rádio e televisão apelos à luta do povo contra o golpe spinolista. Perante a RTP, assume: foi uma "usurpação revolucionária".

Em 11 de Março de 1975, a primeira resposta ao golpe veio do regimento atacado. Quase em simultâneo, a Vª Divisão, sob o impulso do coronel Varela Gomes, tomou o controlo de emissões de rádio e televisão para lançar apelos à mobilização popular.

O golpe e a falta de resposta

Em vários livros publicados nos anos seguintes, relatou as várias diligências que fez, às primeiras notícias da existência de um golpe, no sentido de mover os responsáveis políticos e militares a actuarem rapidamente. E aí relata igualmente as respostas dilatórias com que se foi deparando.

Em entrevista concedida ao online da RTP, 40 anos depois da tentativa golpista, Varela Gomes evoca também as iniciativas que, perante a inércia generalizada, se decidiu a tomar, com a participação de militares da Vª Divisão, na sua maioria muito jovens, mas também os coronéis Robin de Andrade, Ribeiro Simões, Vicente da Silva.

A "usurpação revolucionária"

Entre essas iniciativas contou-se a de mandar assumir por um grupo da Vª Divisão, às ordens de Bargão dos Santos, a emissão da RTP. Esta, recorda Varela Gomes, continuava preenchida com um programa infantil, como se nada se passasse. A circunstância ocasionou depois fortes reservas ao papel que desempenhava o tenente coronel Ramalho Eanes à frente da televisão pública.

Uma outra iniciativa consistiu em fazer assumir por um grupo da mesma Vª Divisão, às ordens de Duran Clemente, a programação da Emissora Nacional.

Num caso e noutro, foram difundidos apelos à mobilização popular contra o golpe. Esses apelos contribuíram para o afluxo de civis ao regimento atacado, o RAL-1, no sentido de participarem na sua defesa. Também em torno das instalações da Vª Divisão, na Cova da Moura, se concentrou uma multidão que pretendia participar na resistência ao golpe.

Não tendo acesso a armamento, Varela Gomes mandou nessa circunstância arrombar as portas do paiol e assinou uma requisição para o Depósito Geral de Material de Guerra, em Beirolas - apenas para aí ser dito ao oficial por si enviado que havia instruções do chefe do Estado Maior do Exército, general Fabião, para nada ser entregue à Vª Divisão.

Mais tarde, seria insinuada contra ele a acusação, já recorrente, de "usurpação de funções", por não ter ficado à espera de ordens que tardavam contra o golpe. No depoimento agora prestado à RTP, assume que levou a cabo uma "usurpação revolucionária", para impedir o triunfo de um golpe de Estado sangrento.

A chamada "assembleia selvagem"

Outro relato importante contido no depoimento diz respeito à Assembleia levada a cabo na noite de 11 para 12 de Março. Na assembleia houve alguém que chamou a atenção de Varela Gomes para a obrigação de moderar a posição da Vª Divisão, por respeito ao presidente da República, general Costa Gomes, aí presente também.

A isto respondeu Varela Gomes - aludindo ao seu passado antifascista - que ninguém, nem mesmo o presidente, tinha tanta autoridade para falar na assembleia como ele próprio.

Igualmente importante é o reconhecimento de Costa Gomes como "um adversário de respeito". Este reconhecimento surge relacionado com a constatação de que o presidente, de forma astuta, guardou para o final da assembleia a decisão relativa à realização de eleições no prazo de pouco mais de um mês, em circunstâncias que seriam favoráveis às forças ditas "moderadas".

E, nesse final, a desmobilização e o cansaço dos participantes da assembleia facilitaram a aprovação de um calendário indesejado do ponto de vista que defendia a Vª Divisão.

O primeiro ministro Vasco Gonçalves viria a manter esse compromisso e até a fazer dele um argumento demonstrativo da normalidade da situação portuguesa.

O papel de Carlucci.

Em todo o caso, Varela Gomes comenta a intentona como expressão de certa incompetência dos "saloios portugueses", golpistas desastrados, que deveriam forçosamente ceder passo a uma direcção muito mais experimentada e profissional. Esta iria exercer-se sob a batuta do embaixador norte-americano Frank Carlucci, no âmbito de uma internacionalização do confronto entre revolução e contra-revolução que o nosso entrevistado identifica já em episódios e vínculos anteriores (foto à dir.).

Do ponto de vista sustentado na entrevista, entrava-se, na própria noite de 11 para 12 de Março, numa nova etapa, com objectivos mais claros por parte das potências ocidentais envolvidas no cenário ibérico, e também com uma noção muito mais clara das suas apostas - em primeiro lugar na personalidade de Mário Soares, que Carlucci, ao contrário de Kissinger, soube identificar como potencial protagonista de uma campanha pelo controlo da situação revolucionária.» in http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=811101&tm=209&layout=123&visual=61

03/02/15

História de Portugal - Aurélio Paz dos Reis (Porto, 28 de Julho de 1862 — Porto, 18 de setembro de 1931) foi um comerciante português, revolucionário republicano e maçom convicto, considerado o pioneiro do cinema em Portugal por ter realizado e produzido o primeiro filme, "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança", réplica do primeiro da história do cinema, rodado em França pelos irmãos Lumière, em (1894 – 1895) La Sortie de l'usine Lumière à Lyon.





«Aurélio Paz dos Reis

Aurélio Paz dos Reis (Porto, 28 de Julho de 1862 — Porto, 18 de setembro de 1931) foi um comerciante português, revolucionário republicano e maçom convicto, considerado o pioneiro do cinema em Portugal por ter realizado e produzido o primeiro filme, A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, réplica do primeiro da história do cinema, rodado em França pelos irmãos Lumière, em (1894 – 1895) La Sortie de l'usine Lumière à Lyon.

O chamado Kinematografo Portuguez – designação usada por Paz dos Reis para referir o cinematógrafo inventado pela família Lumière – foi apresentado em sessão pública no Porto, junto com outros onze «quadros», sete nacionais e onze estrangeiros, no Teatro do Príncipe Real, mais tarde chamado Teatro Sá da Bandeira, em 12 de Novembro de 1896. Eram filmes com a duração de cerca de um minuto.

Não foi, no entanto, Paz dos Reis o autor das primeiras imagens animadas filmadas em Portugal. As primeiras são de um operador inglês com o nome de Henry W. Short, que acompanhava Edwin Rousby, um agente comercial do produtor e fabricante de equipamento de cinema Robert William Paul. Rousby percorria vários países europeus com o intuito de dar a conhecer e de promover a venda do material fabricado pelo pioneiro inglês, em particular uma máquina de projectar com o nome de Theatrograph que em português poderá ser chamada teatrógrafo ou animatógrafo.

A projecção dos primeiros filmes rodados em Portugal tinha sido feita pouco tempo antes no Real Colyseu de Lisboa, na Rua da Palma, em várias sessões organizadas por Rousby, que duraram até ao dia 15 de Julho de 1896. Para isso teve o apoio técnico do lisboeta Manuel Maria da Costa Veiga que, como Paz dos Reis, se interessou pelo invento. Tornar-se-ia ele assim o segundo português a produzir e realizar filmes de actualidades e documentários em Portugal.

A cidade do Porto foi entretanto visitada por Edwin Rousby, que nela apresentou o teatógrafo em sessões públicas às quais Aurélio Paz dos Reis assistiu, a 17 de Julho, que tiveram lugar entre 7 de Julho e 10 de Agosto. É este evento que o entusiasma e o leva a decidir adquirir a curto prazo uma máquina de filmar, o que ele consegue numa deslocação que faz a França.

Boografia

Aurélio Paz dos Reis, o astuto comerciante do Porto, era floricultor. Tinha um palacete fino no nº 125 da Rua de Nova Sintra em cujo jardim criava as suas flores. Explorava ele a «Flora Portuense» na então Praça de D. Pedro, mais tarde Praça da Liberdade. Era também fotógrafo amador e gostava de tirar retratos a gentes do teatro. Explorava a estereoscopia, a fotografia em relevo. O gosto pela imagem levou-o a explorar o negócio e começou a vender película da marca Lumière & Jougla. Vendia também máquinas de escrever Yast e automóveis franceses da marca Minerva.




Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança

A Fábrica Confiança – em frente da qual «um senhor de porte distinto postado ao lado de uma caixa de madeira envernizada sustentada por um vulgar tripé de fotógrafo profissional» se poria a dar à manivela no exacto momento em que operários da fábrica de um velho amigo saíam para o almoço numa serena manhã de Setembro – era do outro lado do passeio da Camisaria Confiança, «acreditado estabelecimento comercial de roupa branca, propriedade do tal amigo de longa data de Aurélio Paz dos Reis»: António da Silva Cunha, com loja aberta no nª 181 da Rua de Santa Catarina.

Paz dos Reis forma uma sociedade com ele e com o seu próprio cunhado, fotógrafo de profissão, Francisco Bastos Júnior. A ideia dele é comprar um cinematógrafo aos irmãos Lumière. Ele e Silva Cunha metem-se então a caminho e vão até Lyon. Os irmãos franceses porém, que de dinheiro não precisam - basta o que lhes dá o negócio paterno da fotografia – e que respeitam os desígnios do augusto pai de não alienar o invento, não lho vendem. Não o vendem também ao ilustre ilusionista Georges Méliès, o iluminado do Théatre Robert Houdin, o inventor do cinema de ficção. Paz dos Reis não desiste e decide simplesmente fazer aquilo que todos fazem.

M. Félix Ribeiro, que conta esta história, suspeita, com boas razões, que os dois atribulados viajantes dão a volta ao infortúnio comprando uma máquina de filmar a outros dois irmãos. São eles os Werner, estabelecidos na Cidade da Luz. Tinham eles lançado no mercado um aparelho cronofotográfico, uma variante do cinematógrafo, com diferente mecânica mas capaz de filmar tão bem como a máquina dos célebres inventores de Lyon. Tinham registado a patente a 4 de Fevereiro de 1896 com o n.º 253.708, como um processo de tracção de película com o nome de quadros oscilantes. O aparelho dos Lumière tinha sido registado a 13 de Fevereiro de 1895, sob a patente n.º 245.032.

É com esta maravilha que Paz dos Reis se põe a filmar em frente da loja do fiel amigo, mal chegam da França. Fascinado com as imagens vistas na tela e vendo aquilo que com elas pode conseguir, o feliz horticultor não pára de dar à manivela. Os «Tripeiros de Ontem», os «Vencidos do 31 de Fevereiro» haviam de ser os senhores do amanhã.

Sente-se entretanto feliz Félix Ribeiro por ter podido observar um dos exemplares da engenhoca numa exposição, uma dezena de anos antes de ele ter escrito essa história nos Filmes Figuras e Factos do Cinema Português – 1896-1949 (ed. Cinemateca Portuguesa, 1983). Diz que viu a velha máquina exposta na Cinemateca Francesa, instituição fundada por Henri Langlois no Palais de Chaillot, no Trocadero, em Paris, obra generosa que Jacques Chirac desdenhosamente havia de desmantelar, a partir de 2003.

É com esta primeira obra de referência que, com as outras que se seguem, Paz dos Reis dá início a uma longa série «de variados e assinaláveis quadros kinematográficos».



Tripeiros de Ontem

O espectáculo de apresentação decorreu a 12 de Novembro de 1896 (Porto, Teatro do Príncipe Real). Notícias na imprensa:

Dia 12 – Jornal de Notícias:

«O espectáculo de hoje apresenta o Kinetógrafo Português, sendo exibidos 12 perfeitíssimos quadros, 7 nacionais e 5 estrangeiros. Os quadros portugueses representam o seguinte: «Jogo do Pau» (Santo Tyrso), «Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança», «Chegada de um Comboio Americano a Cadouços», «O Zé Pereira nas Romarias do Minho», «A Feira de S. Bento», «A Rua do Ouro» (Lisboa), «Marinha». O espectáculo é completado com a companhia de Zarzuela que se fará ouvir nas peças Música Clássica, Las Campanelas (primeira apresentação) e «Os Africanistas». O kinetógrapho português funciona no intervalo do 2º para o 3º acto».
Dia 13 – Comércio do Porto:

«Num dos intervalos, o Sr. Aurélio Paz dos Reis exibiu no kinematógrapho vários quadros, algumas dos quais muito engraçados e que tiveram intensos aplausos».
Dia 13 – O Primeiro de Janeiro:

«Hontem apresentação do kinetórgrapho português, pelo Sr. Aurélio Paz dos Reis teve êxito completo. Tanto as vistas estrangeiras como as nacionais, d'estes principalmente «O jogo do Pau» e a «Saída das Costureiras da Fábrica Confiança» foram acolhidas com grandes salvas de palmas».
As projecções são retomadas em Braga, no Teatro São Gerardo (onde hoje se localiza o Banco Portugal), a 20 e 23 de Novembro, espectáculo melhorado com outras fitas, quase todas francesas, e com a intervenção de um ilusionista de Braga chamado José Maria Avelino. Em Dezembro volta a ser exibido no Porto.

A deriva brasileira[editar | editar código-fonte]
Crente de que o Brasil seria terreno fértil para a dar a ver a um público virgem um espectáculo inédito, Paz dos Reis embarca de armas e bagagens, levando o equipamento consigo. Irá apresentar no Rio de Janeiro a sua «surpreendente colecção de quadros reproduzindo cenas e episódios da vida portuguesa, com vista de Portugal, e outros de actual interesse».

Chega ao grande país no princípio de Janeiro. A apresentação do Kinetógrafo Português é programada para começar no dia 15, no Teatro Lucinda, sala independente do Rio. Mas, segundo os relatos da imprensa portuguesa que comenta o evento, a coisa corre mal, Paz dos Reis confronta-se com problemas técnicos inesperados, a projecção é má. As sessões terminam a 20 de Janeiro. Regressa desalentado, é sério o desaire financeiro, e ele deixa-se de aventuras, deixando de uma vez por todas de fabricar imagens animadas.

Resta-lhe a fama de ter filmado também no Brasil as primeiras, na avenida Rio Novo, no Rio de Janeiro.

Filmografia

Feira do Gado na Corujeira
Chegada de um Comboio Americano a Cadouços
O Zé Pereira na Romaria de Santo Tirso
Azenhas do Rio Ave
O Jogo do Pau
Rio Douro
Mercado do Porto
Cortejo Eclesiástico saindo da Sé do Porto no Aniversário da Sagração do Eminentíssimo Cardeal D. Américo
O Vira
A Rua do Ouro
Marinha no Tejo
Saída de dois Vapores
Torre de Belém
Avenida da Liberdade
A Dança Serpentina (com a brasileira Cirina Polónio, dançarina internacionalmente famosa)» in http://pt.wikipedia.org/wiki/Aur%C3%A9lio_Paz_dos_Reis


Aurélio Paz dos Reis - Um Olhar Actual (Completo)


Primeiros Filmes Portugueses (1896)


(Invicta Filmes a Morte de um Sonho)

07/08/14

História de Portugal - Especialistas portugueses e angolanos estão a levar a cabo a elaboração da História do Café de Angola, produto que colocou o país africano, ao tempo colónia portuguesa, em terceiro lugar na lista dos principais produtores mundiais, nos anos 70.



«Angolanos e portugueses cooperam na elaboração da História do Café de Angola
07 de Agosto de 2014, 21:43

Especialistas portugueses e angolanos estão a levar a cabo a elaboração da História do Café de Angola, produto que colocou o país africano, ao tempo colónia portuguesa, em terceiro lugar na lista dos principais produtores mundiais, nos anos 70.

A informação foi esta quinta-feira, dia 07 de Agosto, avançada à agência Lusa pelo director do Instituto Nacional do Café de Angola (INCA), João Neto, à margem da Oficina do Café e da Soja, uma iniciativa do Instituto do Fomento Empresarial angolano.

Segundo João Neto, a elaboração do referido documento está a cargo de especialistas portugueses do Instituto Superior de Agronomia, com o qual também cooperam na área da formação de quadros angolanos.

O responsável referiu ainda que com Portugal existe igualmente cooperação com o Instituto de Investigação Científica Tropical, para a recuperação do acervo bibliográfico sobre a cafeicultura angolana.

Angola produzia na era colonial cerca de 210 mil toneladas de café comercial anual, mas os efeitos de mais de três décadas de guerra civil baixou os níveis de produção para as actuais cerca de 12,6 mil toneladas por ano, que representam cerca de 5% da produção colonial.

Com o fim da guerra, em 2002, Angola produzia três mil toneladas.

O nível de produção vem aumentando, contudo, João Neto considera "muito baixa" a produtividade.

Actualmente, as províncias do Cuanza Sul e do Uíge concentram cerca de 77% da produção nacional de café.

João Neto referiu que o Uíge, norte de Angola, liderava na era colonial o sector cafeicultor angolano, mas neste momento assiste-se a uma deslocação da produção da região norte para o centro sul.

O director do INCA frisou que a nova cafeicultura está a ser realizada num eixo que integra o corredor Ganda/ Cubal, na província de Benguela, e Caluquembe, Chicuma e Chongoroi, na província da Huíla, zonas onde há grande dinamismo na plantação de café arábica.

Ainda este ano, o INCA tem planificada a produção de mais de 20 milhões de mudas de produção de café, para serem distribuídas gratuitamente a todos os produtores, cerca de 50 mil pequenos produtores.

Em Angola, o café mais produzido (95%) é do tipo robusta e a maioria da produção cafeícola é exportada para Espanha, Alemanha, Portugal, e parte residual para a Itália.

Além de Portugal, o INCA mantém cooperação com o Brasil, a Organização Internacional do Café e a Organização Africana do Café.

A falta de incentivos económicos, sublinhou João Neto, é a maior dificuldade que se enfrenta para a dinamização do setor, considerando que com o investimento de 200 milhões de dólares se poderia atingir nos próximos dez anos a produção anual de cem mil toneladas.

Lusa» in http://noticias.sapo.ao/vida/noticias/artigo/1402140.html


(Angola Magazine: Produção do Café na Província do Kwanza Sul)

28/07/14

História - As “Damas Enfermeiras” são algumas das heroínas portuguesas da Primeira Grande Guerra, mas uma em particular captou o coração do país, Maria Francisca Machado, filha do então presidente da República, Bernardino Machado, era uma delas, talvez a mais conhecida de todas.






«As “Damas Enfermeiras” da Primeira Guerra Mundial

Foram para a guerra sem armas e viram os horrores de um dos piores conflitos do século XX. O seu exemplo levou à criação das escolas de enfermagem de Lisboa e do Porto.

Foi há precisamente 100 anos que começou a Primeira Guerra Mundial.  

Portugal entrou no conflito só em 1916, mas entre os quase 90 mil homens que partiram para as trincheiras, encontravam-se dezenas de mulheres que lutavam, também, mas pela saúde dos seus conterrâneos. 

As “Damas Enfermeiras” são algumas das heroínas portuguesas da Primeira Grande Guerra, mas uma em particular captou o coração do país. Maria Francisca Machado, filha do então presidente da República, Bernardino Machado, era uma delas, talvez a mais conhecida de todas. 

Morreu em 1918, já longe da frente de batalha, quando acompanhava o seu pai no exílio, em Hendaye. 

“A morte dela comoveu a comunidade”, explica o seu sobrinho, Manuel Sá Marques, que nunca conheceu a “Tia Maria” e que hoje é médico. 

O apoio das mulheres ao Corpo Expedicionário Português em França, sobretudo no hospital de Ambleteuse, levou o governo a criar, em 1918, as escolas de enfermagem de Lisboa e do Porto. 

Portugal em duas frentes

O historiador Nuno Severiano Teixeira, autor de livros sobre a Primeira Guerra Mundial, explica que o Governo português participou neste conflito em duas frentes distintas. 

Por um lado havia a necessidade de preservar as colónias, o que levou ao envio de tropas para Angola e Moçambique. 

Mas a grande polémica foi o envio dos cerca de 90 mil soldados para a frente europeia, na Flandres, que se saldou numa derrota que mostrou a inexperiência dos militares portugueses e nunca foi bem aceite ou compreendida pelo povo.» in http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=25&did=157043


(Primeira Guerra.Mundial o fim de uma era dublado)


(A Primeira Guerra Mundial)


(História da Primeira Guerra Mundial)

27/07/14

História - O Desastre Ferroviário de Custóias, igualmente conhecido como Desastre de Custóias, foi um acidente ferroviário ocorrido em 26 de Julho de 1964, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, em Portugal, que resultou em 90 mortos e 105 feridos.


«Desastre Ferroviário de Custóias

O Desastre Ferroviário de Custóias, igualmente conhecido como Desastre de Custóias, foi um acidente ferroviário ocorrido em 26 de Julho de 1964, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, em Portugal, que resultou em 90 mortos e 105 feridos.

Na noite de 26 de Julho de 19641 , um comboio, composto pela automotora 9309 e por um reboque, estava a viajar da Póvoa de Varzim para o Porto, na Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, com um grande número de passageiros, que regressavam de um fim de semana na praia. Quando a automotora estava a passar pela zona de Custóias, a cerca de 9 quilómetros de distância do Porto, o reboque soltou-se e descarrilou, tendo chocado contra o paredão de uma ponte, e incendiado-se em seguida. O comboio encontrava-se a circular a uma velocidade de cerca de 80 quilómetros por hora. O reboque estava completo, com todos os 68 lugares sentados ocupados, e os restantes passageiros a pé.

Foi, até à data, o pior acidente ferroviário em Portugal, tendo falecido 90 pessoas , e ficado feridas outras 1051 , tendo 74 ficado hospitalizadas.

No local, estiveram os Bombeiros Voluntários de Leixões.

Logo após a ocorrência, foi organizada uma comissão de três engenheiros da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, auxiliados por três técnicos da Direcção-Geral de Transportes Terrestres, para realizar um inquérito, e apurar as responsabilidades. O relatório produzido pela comissão foi entregue à Direcção-Geral, e apresentado ao Ministério das Comunicações, tendo sido, por sua vez, revisto por uma outra comissão da Direcção-Geral.

Apurou-se que o reboque circulava com excesso de peso, uma vez que a sua capacidade máxima era de 100 passageiros, embora viajassem no seu interior, na altura do acidente, cerca de 300 pessoas; este factor, aliado a um possível excesso de velocidade, provocou a quebra dos engates entre o reboque e a automotora, e o consequente descarrilamento do reboque. O motorista negou que a sua velocidade era superior a 50 quilómetros, embora alguns passageiros e o revisor tenham afirmado que o comboio circulava em excesso de velocidade.» in http://pt.wikipedia.org/wiki/Desastre_Ferrovi%C3%A1rio_de_Cust%C3%B3ias


25/02/13

História de Portugal - Analisar o coração de Dom Pedro I, que está na cidade do Porto, em Portugal, é o próximo passo do estudo conduzido pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel!



«Historiadora brasileira quer analisar o coração de D. Pedro

Depois da exumação dos cadáveres de membros da família real no Brasil ter revelado o excelente estado de conservação do corpo da imperatriz D. Amélia, segunda mulher de D. Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), a análise do coração do imperador pode ser a etapa seguinte.

Analisar o coração de Dom Pedro I, que está na cidade do Porto, em Portugal, é o próximo passo do estudo conduzido pela historiadora e arqueóloga Valdirene do Carmo Ambiel. 

Depois da recente exumação dos cadáveres do primeiro imperador do Brasil, D.Pedro I, e das imperatrizes Leopoldina e Amélia, os médicos envolvidos esperam conseguir pormenores sobre a causa da morte do imperador. Para isso será enviado, em breve, um pedido formal, solicitando a Portugal a devida colaboração, já que por decisão testamentária o coração foi doado à Igreja da Lapa, onde se encontra conservado, como relíquia.

Qualquer que seja a conclusão, as surpresas já começaram. "Trabalho com arqueologia há sete anos mas nunca vi nada igual", disse ao Expresso a historiadora e arqueóloga brasileira Valdirene do Carmo Ambiel, sobre o excelente estado de conservação do corpo de D. Amélia de Leuchtenberg, a segunda mulher de D.Pedro I (D. Pedro IV de Portugal), que foi recentemente desenterrado do subsolo do Monumento à Independência, em São Paulo, e submetido a sessões de tomografia e ressonânia magnética.

Valdirene Ambiel foi responsável pela recente exumação dos cadáveres das três personagens da história brasileira e portuguesa, após ter conseguido, em 2010, autorização dos descendentes da família real para analisar os seus restos mortais, que estão guardados na cripta do Parque da Independência, na zona sul da cidade, desde 1972.

Retrato nunca visto dos imperadores

Os exames, cujos resultados foram divulgados na semana passada, realizaram-se no Brasil com o apoio do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o maior complexo hospitalar do Brasil. O trabalho foi realizado em sigilo absoluto, entre fevereiro e setembro de 2012.

O objetivo da exumação, segundo Valdirene Ambiel, era verificar as causas de morte, descobrir factos até então desconhecidos dos imperadores e, também, contribuir para a preservação dos corpos. Na passada segunda-feira, a investigadora apresentou a sua tese de mestrado no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP: "Estudos de Arqueologia Forense Aplicados nos Remanescentes Humanos dos Primeiros Imperadores do Brasil depositados no Monumento à Independência".

Segundo a arqueóloga brasileira - que sempre morou perto do Monumento à Independência e tinha apenas 11 anos quando o corpo de D. Amélia chegou ao Brasil em 1982, guardando consigo até hoje os recortes de jornais da época -, dos três corpos tomografados só o de D. Amélia, que morreu em Lisboa, estava quase perfeito. 

Ao longo de três madrugadas, os restos mortais da família real (um de cada vez) foram transportados para a Faculdade e submetidos a cinco horas de sessões de tomografia e ressonância magnética.

"Pedrão", "Léo" e "Melinha"

Para manter em sigilo a identidade dos cadáveres transportados para a faculdade, os caixões foram identificados com as alcunhas de "Pedrão" (D. Pedro), "Leó"(D. Leopoldina) e "Melinha (D. Amélia).

O primeiro cadáver examinado foi a de D. Leopoldina. "Só encontramos ossos. Não havia sinal de qualquer tipo de embalsamamento. O que pode sustentar a versão - encontrada por Valdirene num Tratado de Embalsamamento do Séc.XVII - de que embalsamar mulheres não era uma tradição em Portugal. No entanto, não podemos deixar de considerar que o corpo dessa imperatriz, ao contrário do de D. Amélia, foi trasladado por três vezes, sendo levado numa carruagem, em 1911, do Convento da Ajuda, que foi demolido, para o Concento de Santo António, ambos no Rio de Janeiro, e daí, em 1954, de comboio, para São Paulo. Há um inventário sobre a trasladação, mas não constam informações sobre o estado do corpo".

No caixão de D. Pedro, nova surpresa. De acordo com a arqueóloga, veem-se sinais de embalsamamento, como "a ausência de pulmões, substituídos por um enchimento à base de serradura",  do mesmo modo que foram encontradas  costelas com marcas de cortes de lâmina,estando uma delas com uma ponta partida, comprovando que foi por ali que foi retirado o coração. Verifica-se, também, que sofreu uma incisão para a retirada do encéfalo. Na tomografia, encontramos a parte do cránio que foi retirada (para subtrair o cérebro) junto ao corpo".

Corpo de D. Amélia voltou a ser embalsamado

Os corpos de D. Pedro e das imperatrizes Leopoldina e Amélia estão devidamente acondicionados em novas urnas (manteve-se uma das três, em pinho de Portugal, de D. Pedro, que recebeu tratamento contra a humidade) mais resistentes. O cadáver de D. Amélia voltou a ser embalsamado por Valdirene.

Botões e comendas portuguesas do imperador encontrados dentro da urna do imperador foram entregues ao Departamento de Património Histórico da Prefeitura do Rio de Janeiro. Foi feito um inventário para o Instituto do Património Histórico e Artístico do Governo Federal, com cópia para a família Orleans e Bragança (descendentes da família imperial, no Brasil).

Todas as amostras recolhidas para novos exames - de modo a apurar as causas de morte e também permitir uma melhor preservação dos restos mortais -, sofreram higienização e estão acondicionadas em caixas individuais, lacradas, guardadas na USP. "O material material coletado será útil para que as pesquisas continuem em diversas áreas ao longo dos próximos anos", afirmou a investigadora. 

A segunda fase  da investigação dará origem à tese de doutoramento da arqueóloga brasileira. Em breve, as peças encontradas junto ao esqueleto do imperador vão ser expostas ao público.» in http://expresso.sapo.pt/historiadora-brasileira-quer-analisar-o-coracao-de-d-pedro=f788789#ixzz2Lx8Cpvr


(Exumação dos restos mortais de Dom Pedro IV)

   
(Dom Pedro I e as duas imperatrizes exumados)

  (EXUMAÇÃO DOS RESTOS MORTAIS DE DOM PEDRO 1º E SUAS MULHERES)
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