«'i n R A S COMPLETA
E, em baixo, o alpendre, o eirado, a meda,
O sol, um passarinho que esvoaça,
Uma amplidão aberta sobre o vai'...
Vejo os grandes sobreiros, com ramagem
De bronze, imóveis quase ao doido vento
Que enche de vozes mortas a paisagem.
E entre eles, num secreto isolamento.
Junto a uma cruz de pedra, avisto a Capelinha,
Quando, já indecisos da noitinha.
Ermos vultos seguiam pela estrada,
A sacola nas mãos e aos ombros uma enxada...
E vejo o Crasto, Vai' d'lnfanle, Outeiro,
A casa das alminhas, a penar...
Labaredas de tinta... Qae braseiro!
Que aflitas mãos erguidas
A rezar !
Silhuetas abraçadas e lambidas
Pelas chamas do fogo expiador.
Outras almas, extáticas, sorriam...
À custa de orações, rezadas com fervor,
Já não sofriam...
Revelações escuras do Infinito,
Ingénuos cultos primitivos do meu Povo !
Ah, como tu, eu creio e me comovo!
Eu creio, sim, nas almas; acredito
Na dor sobrevivendo e no pecado,
Depois da vida, perdoado
Em virtude das nossas orações,
Quando, em nós, a Esperança inabalável reza,
Muito embora gelada de tristeza,
Crucificada em negras aflições !
Vejo Paredes e o seu grupo de pinheiros;
Luzes, Boco, Argaviça e Rocião, outeiros,
Tão sós, que o povo teme.
Se, às horas do silêncio, o vento geme...»
(Capelinha de Nossa Senhora dos Milagres, em Amarante Gatão, pertencente à excelentíssima afilhada do Poeta, Dona Maria Adelaide, a quem agradeço a permissão destas fotografias de uma Capela que adoro! Muito obrigado!)
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