13/05/13

Amarante Cineclube - No próximo dia 17 de Maio, pelas 17H30M, o Cineclube de Amarante apresenta no Cinema Teixeira de Pascoaes o Filme: "Zero Dark Thirty"

 

«Nomeações para os Óscares 2013 (5)

* MELHOR FILME
* MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL (Jessica Chastain)
* MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
* MELHOR MONTAGEM
* MELHOR MONTAGEM DE SOM
 

Cinema Teixeira de Pascoaes
 
6ª Feira, dia 17 às 21: 30
00:30 Hora Negra
Título original: Zero Dark Thirty
De: Kathryn Bigelow
Com: Chris Pratt, Jessica Chastain, Joel Edgerton
Género:Drama, Acção
Classificação:M/16
EUA, 2012, Cores, 157 min.

Trailer: http://videos.sapo.pt/j3uA2By9uKjG1ZN1YvHQ

Site oficial: http://www.sonypictures.com/homevideo/zerodarkthirty/

Data de Estreia em Portugal: 17 de Janeiro de 2013

A 11 de Setembro de 2001, o mundo assistia em directo a um dos mais arrepiantes ataques terroristas de sempre. O acontecimento deu origem a uma época de instabilidade e medo sem precedentes e, por esse motivo, foram somados esforços para capturar Osama Bin Laden, o líder da Al Qaeda, organização responsável pelos ataques. Maya (Jessica Chastain), agente da CIA, é uma das responsáveis pela operação de mais de uma década, que levou militares americanos a entrar no Paquistão onde, em Maio de 2011, Bin Laden foi capturado e morto. O filme segue o seu trajecto.


Realizado por Kathryn Bigelow (Óscar de melhor realizadora por "Estado de Guerra"), um "thriller" de acção com argumento de Mark Boal que durante anos teve acesso privilegiado a informações relativas à luta antiterrorista dos EUA.


Apesar de muito elogiado pela crítica, o filme tem sido rodeado por polémica, especialmente após a carta aberta de Naomi Wolf a Kathryn Bigelow. Nela, a escritora definia o filme como "um anúncio publicitário de duas horas, muito bem filmado", destinado a manter fora da prisão os agentes dos serviços secretos que cometeram crimes em Guantánamo. Insinuava também que o financiamento da obra seria difícil sem a aprovação do sector militar e que, tal como Leni Riefenstahl legitimou e glorificou o regime nazi alemão, Bigelow subscreve as "mentiras do regime": a de que "esta brutalidade [a tortura] é de alguma forma necessária".
A título de curiosidade, "Zero Dark Thirty" - o título original do filme -, refere um termo usado pelos militares americanos para referir uma hora não especificada da madrugada. PÚBLICO

João Lopes, Diário de Notícias, 16 de Janeiro de 2013


A guerra íntima de Kathryn Bigelow


Quem é a mulher, de nome Maya, que Kathryn Bigelow filma em «Zero Dark Thirty»? Em boa verdade, pouco sabemos da verdadeira personagem (mesmo o nome é falso). Mas a sua trajectória está longe de ser banal ou indiferente, ultrapassando os limites estreitos das descrições mais ou menos especulativas (a pose, os saltos altos, etc.) que começaram a circular sobre o seu modo de vestir. Maya é um segredo bem guardado pelos serviços secretos americanos: como uma das principais responsáveis pela investigação da CIA que conduziu à localização do refúgio de Ussama Ben Laden, ela encarna as memórias, os traumas e as interrogações de toda uma nação marcada pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.

Daí a dificuldade de definir «Zero Dark Thirty» como um típico filme de guerra ou um thriller (estreia portuguesa com o título «00:30 A Hora Negra»). Por um lado, é verdade que a composição de Maya, que já valeu a Jessica Chastain um Globo de Ouro (e uma nomeação para o Óscar de melhor actriz), joga num registo de desconcertante ambiguidade, apresentando-a como uma heroína cuja dimensão feminina desafia estilos de poder tradicionalmente associados aos homens. Por outro lado, através da sua aparência quase documental, o filme evolui no sentido de formular algumas questões muito íntimas sobre as práticas da guerra, o seu enquadramento ideológico e, em última instância, a identidade americana pós-11 de Setembro.

Não admira que «Zero Dark Thirty» esteja a ser recebido nos EUA através de um amplo debate, não apenas sobre as estratégias militares e a utilização da tortura, mas também o lugar e o papel da nação americana num tempo em que persistem as mais diversas ameaças terroristas. Não é exactamente um filme que procure esse debate como uma espécie de "suplemento" político. Nada disso: o núcleo da sua narrativa (a descoberta da residência secreta de Ben Laden em Abottabad, Paquistão) fazem com que «Zero Dark Thirty» pertença a uma conjuntura em que a acção de Maya transcende, e muito, o âmbito específico dos serviços secretos. Num artigo da Newsweek (24 Dez. 2012), Daniel Klaidman destacou isso mesmo: "Será que ela exorcizou os seus demónios? Conseguirá libertar-se da marca da "guerra para sempre"? Estas perguntas são, afinal, tanto sobre Maya como sobre a América."

A importância do olhar feminino não é estranha à obra cinematográfica de Bigelow (ela que, em 2010, foi a primeira mulher a receber o Óscar de melhor realização, graças a «Estado de Guerra», sobre a guerra do Iraque). Há mesmo na sua filmografia um título, «Blue Steel/Aço Azul» (1989), com qualquer coisa de premonitório: aí se encena a tragédia de uma mulher-polícia, interpretada por Jamie Lee Curtis, que se torna objecto de fixação de um psicopata. Pelo tema e pela ambição, «Zero Dark Thirty» é bem diferente, mas reflecte essa qualidade essencial, referida pela própria Jessica Chastain ao receber o seu Globo de Ouro: Bigelow sabe filmar personagens de mulheres que escapam, ponto por ponto, às convenções de muitos olhares masculinos.

Eurico de Barros, Diário de Notícias, 16 de Janeiro de 2013


A rainha da acção, da tensão e da inacção


Todos aqueles que seguem fielmente a carreira de Kathryn Bigelow desde o seu primeiro filme, o quase invisível mas muito curioso biker movie «The Loveless» (1982), com Wilem Dafoe no líder de um gang de motociclistas, sabem que ela é, entre outras coisas, uma grande, uma enorme realizadora de acção, que mete no bolso muitos colegas masculinos que se reclamam dos mesmos pergaminhos. «Estado de Guerra», o filme que a consagrou nos Óscares e a tornou na primeira mulher a ganhar a estatueta de Melhor Realização, confirmou-a como uma grande, uma enorme realizadora de tensão. O suspense em «Estado de Guerra» vai para além dos limites do suportável - e nós ralados!

Em «00:30 A Hora Negra», a autora de «Ruptura Explosiva» mostra que, além da acção e da tensão, também sabe manejar a inacção como poucos oficiais do mesmo ofício. Se exceptuarmos a sequência final da recriação do assalto das forças especiais ao complexo de Abottabad, no Paquistão, onde Ben Laden foi morto, «00:30 A Hora Negra» é um filme seco, aparado até ao osso descritivo, sem ganga, emocionalmente fechado sobre si mesmo, sobre as rotinas, as minudências, as ansiedades, as perplexidades, as duplicidades, os perigos, os expedientes, as decepções e as frustrações da recolha de informações no mundo movediço da "guerra secreta" (e também muito suja, como o demonstram as sequências de tortura de prisioneiros) em que Bigelow não tem medo dos abrandamentos de ritmo, dos momentos em que não acontece nada, dos tempos mortos. E poucos como ela seriam capazes de nos pôr em ponto de rebuçado de nervoso miudinho com a longa sequência do raide dos SEALS a Abottabad, tendo em conta que sabemos como é que tudo acabou. Mas com Kathryn Bigelow é como se estivéssemos a ver, em vez de uma reconstituição ao mais ínfimo detalhe, uma transmissão em tempo real.» in http://ipsilon.publico.pt/cinema/filme.aspx?id=313429
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Elsa cerqueira
Cineclube de Amarante



(Zero Dark Thirty Official Final Trailer (2012) - Kathryn Bigelow Bin Laden

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