«Fotografias de João Silva no Afeganistão no CPF
Dez anos de fotografias de João Silva no Afeganistão, o país onde o fotógrafo luso-sul-africano ao serviço do “New York Times” perdeu as 2 pernas no rebentamento de uma mina, vão estar em exposição no Centro Português de Fotografia, no Porto. A inauguração é este sábado, às 16h30.
“Desde que fui lá em 1994, durante a guerra civil, apaixonei-me logo pelo país e a ironia é que, anos mais tarde, fiquei ferido e deixei uma parte de mim lá“, lembra o fotógrafo, de 45 anos, numa entrevista telefónica à Agência Lusa a partir de África do Sul, onde tem residência.
“Faz parte da vida, faz parte do trabalho que fazemos, é chato, mas agora avança-se”, diz.
Notabilizado pelo seu trabalho em cenários de guerra em países como o Líbano, o Iraque ou o Quénia, João Silva também ficou conhecido por pertencer ao Bang-Bang Club, um grupo de fotógrafos que reportou os momentos mais quentes do apartheid e que acabou por estar na origem de um livro de João Silva em co-autoria com Greg Marinovich e adaptado em 2010 ao cinema.
“Tive muita sorte”
Na manhã de 23 de Outubro de 2010, acompanhava uma patrulha de rotina da quarta divisão de infantaria norte-americana, na província de Kandahar, quando pisou uma mina que lhe causou ferimentos. Teve que amputar as 2 pernas.
“Eu costumo dizer que nesse dia tive pouca sorte, mas que também tive muita sorte”, afirma João Silva. A mina que pisou estava ligada a um barril com mais de 20 quilos de explosivos caseiros que não rebentou.
“Os técnicos do exército norte-americano disseram-me que, se aquilo tivesse acontecido, eles não tinham encontrado o suficiente de mim para pôr numa caixa de fósforos”, recorda.
Durante a reabilitação em Washington, recebeu a visita do vice-presidente Joe Biden e da primeira-dama Michele Obama e conseguiu fazer a primeira página do “New York Times”, com uma foto de veteranos observando um exercício de paraquedistas.
Regressado a casa ao fim de 14 meses, na companhia da mulher, dos filhos e dos pais emigrados na África do Sul, João Silva, que não parou de disparar a máquina mesmo depois de ferido, mostra-se incansável, repetindo: “eu quero começar a minha vida de novo, quero fotografar outra vez”. “Estou a fazer planos para regressar ao Iraque e também para o Afeganistão”.
Com 2 próteses, ainda não se sente com mobilidade total: “A verdade é que o corpo leva o seu tempo a recuperar”, admitiu, e “cobrir combate aberto vai ser difícil”, mas “um país em conflito tem muito mais para ver que só os soldados com armas”.
Uma homenagem
A exposição, que os portugueses poderão ver no Porto a partir de sábado e até 25 de Março, é o seu testemunho dos conflitos no Afeganistão entre 1999 e 2010. Comissariada por David Furst, editor de fotografia internacional do “New York Times”, para o Visa de L’ Images, em França, veio para Portugal graças ao esforço da Estação Imagem, de Mora.
Luís Vasconcelos, membro desta associação, diz que desde o acidente que “havia a vontade de homenagear” João Silva e esta exposição é a oportunidade.
João Silva, que deverá regressar aos Estados Unidos para continuar a sua reabilitação, afirma que é com pena que não pode vir agora a Portugal. “Eu primeiro nasci em Lisboa, serei sempre português”, afirmou. “Existe um lugar muito especial no meu coração que é Portugal”.
Da sua casa na África do Sul, João Silva não se mostra derrotado pelo que lhe aconteceu: “Eu estou com os meus putos, estou com a minha mulher, vou conseguir fotografar. Pronto, não tenho pernas, é uma f…, mas a vida é assim e agora continua-se”.» in
(Fotojornalista português do New York Times expõe no Centro Português de Fotografia, no Porto)
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