08/01/12

Arte Fotografia - Dez anos de fotografias de João Silva no Afeganistão, o país onde o fotógrafo luso-sul-africano ao serviço do “New York Times” perdeu as 2 pernas no rebentamento de uma mina, vão estar em exposição no Centro Português de Fotografia, no Porto!




«Fotografias de João Silva no Afeganistão no CPF


Dez anos de fotografias de João Silva no Afeganistão, o país onde o fotógrafo luso-sul-africano ao serviço do “New York Times” perdeu as 2 pernas no rebentamento de uma mina, vão estar em exposição no Centro Português de Fotografia, no Porto. A inauguração é este sábado, às 16h30.


“Desde que fui lá em 1994, durante a guerra civil, apaixonei-me logo pelo país e a ironia é que, anos mais tarde, fiquei ferido e deixei uma parte de mim lá“, lembra o fotógrafo, de 45 anos, numa entrevista telefónica à Agência Lusa a partir de África do Sul, onde tem residência.


“Faz parte da vida, faz parte do trabalho que fazemos, é chato, mas agora avança-se”, diz.


Notabilizado pelo seu trabalho em cenários de guerra em países como o Líbano, o Iraque ou o Quénia, João Silva também ficou conhecido por pertencer ao Bang-Bang Club, um grupo de fotógrafos que reportou os momentos mais quentes do apartheid e que acabou por estar na origem de um livro de João Silva em co-autoria com Greg Marinovich e adaptado em 2010 ao cinema.


“Tive muita sorte”


Na manhã de 23 de Outubro de 2010, acompanhava uma patrulha de rotina da quarta divisão de infantaria norte-americana, na província de Kandahar, quando pisou uma mina que lhe causou ferimentos. Teve que amputar as 2 pernas.


“Eu costumo dizer que nesse dia tive pouca sorte, mas que também tive muita sorte”, afirma João Silva. A mina que pisou estava ligada a um barril com mais de 20 quilos de explosivos caseiros que não rebentou.


“Os técnicos do exército norte-americano disseram-me que, se aquilo tivesse acontecido, eles não tinham encontrado o suficiente de mim para pôr numa caixa de fósforos”, recorda.


Durante a reabilitação em Washington, recebeu a visita do vice-presidente Joe Biden e da primeira-dama Michele Obama e conseguiu fazer a primeira página do “New York Times”, com uma foto de veteranos observando um exercício de paraquedistas.


Regressado a casa ao fim de 14 meses, na companhia da mulher, dos filhos e dos pais emigrados na África do Sul, João Silva, que não parou de disparar a máquina mesmo depois de ferido, mostra-se incansável, repetindo: “eu quero começar a minha vida de novo, quero fotografar outra vez”. “Estou a fazer planos para regressar ao Iraque e também para o Afeganistão”.


Com 2 próteses, ainda não se sente com mobilidade total: “A verdade é que o corpo leva o seu tempo a recuperar”, admitiu, e “cobrir combate aberto vai ser difícil”, mas “um país em conflito tem muito mais para ver que só os soldados com armas”.


Uma homenagem


A exposição, que os portugueses poderão ver no Porto a partir de sábado e até 25 de Março, é o seu testemunho dos conflitos no Afeganistão entre 1999 e 2010. Comissariada por David Furst, editor de fotografia internacional do “New York Times”, para o Visa de L’ Images, em França, veio para Portugal graças ao esforço da Estação Imagem, de Mora.


Luís Vasconcelos, membro desta associação, diz que desde o acidente que “havia a vontade de homenagear” João Silva e esta exposição é a oportunidade.


João Silva, que deverá regressar aos Estados Unidos para continuar a sua reabilitação, afirma que é com pena que não pode vir agora a Portugal. “Eu primeiro nasci em Lisboa, serei sempre português”, afirmou. “Existe um lugar muito especial no meu coração que é Portugal”.


Da sua casa na África do Sul, João Silva não se mostra derrotado pelo que lhe aconteceu: “Eu estou com os meus putos, estou com a minha mulher, vou conseguir fotografar. Pronto, não tenho pernas, é uma f…, mas a vida é assim e agora continua-se”.» in 



(Fotojornalista português do New York Times expõe no Centro Português de Fotografia, no Porto)

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