«Nas políticas e nas práticas educativas vivemos excessivamente da figura do corpo presente: não interessa o que se faz (ou fez), nem o como se faz, nem o impacto que teve na vida dos alunos; o que interessa é que se esteja presente não importa a fazer o que quer que seja.
Este tese pode sustentar-se em múltiplas evidências: o que interessa é que se esteja na escola e se assine o livro de ponto; o que interessa é que se cumpra o programa sumariando a matéria organizada pelo manual; o que interessa é que se relate (por escrito) o que é suposto fazer; o que interessa não é o que é mas o que parece ser; o que interessa é a imagem, a marca, o embrulho, a aparência; o que interessa é o lugar no ranking ainda que isso que se consiga à custa de práticas eticamente condenáveis e educacionalmente insustentáveis.
Vivemos pois no reino da aparência, do simulacro e do faz de conta. No jogo do gato e do rato. Reino e jogo alimentados pela lógica do iluminado centralismo burocrático que protege e desresponsabiliza; pelas maquinações do poder e das influências; pelos medos ancestrais de existir na liberdade, na autonomia, e na responsabilidade que poderia fazer de nós autores da nossa existência profissional; pelo recurso sistemático ao bode expiatório e à culpabilização sempre do outro (assuma ele a forma que assumir…).
Neste complexo quadro, defende-se que os professores deveriam estar nas escolas para além do corpo presente. Que até poderiam estar não estando. Que até poderiam e deveriam ocupar a inativa presença de outro modo (um modo mais colaborativo, mais produtivo, mais construtivo e menos solitário do estar à espera de ser chamado para…).
Mas isso só será imaginável quando se olhar para o professor como um profissional. Que organiza o seu tempo e mobiliza o seu saber para servir o melhor possível os seus alunos.» in Correio da Educação N.º 313 12 de Novembro de 2007.
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Vou utilizar a frase "Que até poderiam estar não estando.", que de facto retrata bem o que é a vida da maioria dos docentes. Sim porque maus profissionais, existem em todas as profissões. Mas, pelo que conheço e já conheço muitos professores, a grande maioria são docentes, psicólogos, assistentes sociais, médicos, pais adotivos, tutores, amigos, sexólogos, psiquiatras, etc. E mais, a grande maioria dos professores leva muito trabalho para casa, pois as aulas têm que ser preparadas, os testes e trabalhos têm que ser criados e corrigidos, e toda a teia burocrática que o Ministério da Educação criou, ocupa muito do nosso tempo em tarefas burocráticas e administrativas. Quando chegamos a casa e como ainda temos direito a ter filhos, temos que guardar algum tempo para dedicar à família, enquanto conseguirmos. Para não falar que muitas vezes temos que imprimir testes, trabalhos, planificações e apontamentos em nossa casa, porque na escola nunca o conseguiríamos em tempo útil. Nós ainda não temos gabinetes como os professores universitários, nem como os ministros!
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