Milhões de euros de fundos europeus e dinheiro público foram investidos para lidar com os resíduos de mármore no Alentejo, mas o projeto está praticamente ao abandono.
Há já várias décadas, resíduos de mármore têm vindo a acumular-se nos concelhos de Alandroal, Borba, Estremoz e Vila Viçosa, onde é feita a exploração de uma rocha que muitos chamam de “ouro branco” do Alentejo.
A solução para combater isto surgiu em 2008, altura em que se falou de criar as chamadas Áreas de Deposição Comum (ADC) para os resíduos. Estavam previstas oito destas áreas, segundo a CNN Portugal, depois de identificadas 178 escombreiras que personificavam um problema ambiental grave para a região.
O projeto reuniu financiamento público e fundos europeus, tendo-se gastado cerca de 5,6 milhões de euros na primeira ADC em Borba.
“A execução da ADC3, junto à Zona Industrial do Alto dos Bacelos, em Borba, constitui um marco referenciador muito importante para o desenvolvimento do cluster dos mármores nos concelhos de Borba, Estremoz, Vila Viçosa e Alandroal”, lê-se no site do Município de Borba, numa nota divulgada em 2007.
“Depois de tanta despesa, gorou-se o objetivo e nem se notou o efeito nas escombreiras”, resumiu António Paixão, ex-presidente da Junta de Freguesia de Rio de Moinhos, que salienta que os problemas ambientais persistem.
O relatório do administrador de insolvência que tratou da falência da empresa dona da ADC confirma o relato do antigo autarca: “Um ano após a abertura não existia qualquer empresa a entregar os seus subprodutos do mármore, estando a ADC num estado de semi-abandono”.
A ADC esteve vários anos ao abandono, tendo até sido vandalizada. Em 2019, no âmbito do processo de insolvência, a área de 30 hectares foi leiloada. A empresa responsável era a Edc Mármores.
De acordo com a TVI/CNN Portugal, apesar dos relatos que confirmam a rápida paragem no funcionamento da ADC, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, uma das donas da empresa, garante que o projeto esteve a funcionar até final de 2016.
A data vai de encontro ao contratualizado para receber os fundos comunitários, mas a garantia da CCDR do Alentejo vai contra os relatos ouvidos em Borba e contra a própria associação do setor, que detinha 43% da Edc Mármores.
A Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais (ASSIMAGRA) afiança que a concessão da ADC só esteve a funcionar entre julho de 2009 e o final de 2010.
Os proprietários dos terrenos em que a ADC foi instalada dizem ter saído prejudicados há 15 anos. Os donos ouvidos pela TVI disseram ter recebido apenas 50 cêntimos por metro quadrado, um valor muito abaixo do valor de mercado na altura.
“A expropriação era para um bem comum, mas ao fim de um tempo tudo ficou assim como está lá agora [abandonado]. As pessoas sem os terrenos e aquilo sem trabalhar”, refere Joaquim Anjinho, um dos antigos proprietários dos terrenos.
ZAP //» in https://zap.aeiou.pt/problema-do-ouro-branco-do-alentejo-512285
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