Pelo inusitado desfecho, pela impensada derrota, as linhas habitualmente reservadas à crónica de jogo assumem hoje o formato de notícia. Assim mesmo: o F.C. Porto perdeu. Uma verdadeira raridade, praticamente um furo jornalístico para abrir telejornais e deixar boquiaberta a audiência, vacinada e já absolutamente indiferente aos sucessivos anúncios da subida do preço dos combustíveis.
Verdadeiramente bombástico é um desaire do Tricampeão. Mais ainda, se ele acontecer no Estádio do Dragão, onde o líder incontestado não perdia em jogos da Liga há mais de um ano.
A novidade alonga-se e prolonga-se no facto de os azuis e brancos não terem conseguido marcar, o que aconteceu pela primeira vez esta temporada jogando no seu ambiente.
Mas há mais. Com o primeiro golo de Fábio Coentrão, ficou encerrada uma sequência de 1264 minutos de inviolabilidade portista no seu estádio, contagem iniciada há sensivelmente meio ano, logo depois de Niang ter terminado os festejos de um golo que não evitou a derrota marselhesa.
Através da leitura de outros números, bem mais perceptíveis, se afere o grau da proeza, que só reforça a tese da notícia: o F.C. Porto esteve 21 horas e quatro minutos sem sofrer um golo no seu estádio, quase um dia de futebol ininterrupto.
Para a história e para os registos da Liga, indiferentes a questões da mais elementar justiça, às disposições e predisposições de equipas, ficam os golos de Fábio Coentrão e Juninho, que relegam para o esquecimento um punhado de pormenores de classe de Lucho e que, por acaso, aconteceram já depois de a equipa de arbitragem ter deixado escapar uma grande penalidade cometida sobre Lisandro.
Só para o Nacional, cujas intenções primárias estiveram longe de corresponder à fortuna que o jogo lhe trouxe, a derrota do F.C. Porto não foi um elemento totalmente novo. A equipa madeirense, fadada para surpreender no Dragão, já havia ganho ao Tricampeão no Funchal.
FICHA DE JOGO
Liga 2007/08, 29ª jornada
Estádio do Dragão, no Porto
3 de Maio de 2008
Assistência: 42.219 espectadores
Árbitro: Paulo Paraty (Porto)
Assistentes: Serafim Nogueira e Vítor Carvalho
4º Árbitro: Ricardo Moreira
F.C. PORTO: Helton, Bosingwa, Pedro Emanuel «cap», Bruno Alves e Lino; Lucho, Paulo Assunção e Raul Meireles; Mariano, Lisandro e Quaresma
Substituições: Mariano por Farías (46m), Lino por Tarik (57m), Raul Meireles por Bolatti (77m)
Não utilizados: Ventura, Stepanov, Fucile e Adriano
Treinador: Jesualdo Ferreira
NACIONAL: Rafael Bracalli; Patacas «cap», Felipe Lopes, Cardozo, Ricardo Fernandes e Alonso; Edson, Cléber e Juliano Spadacio; Rodrigo e Fábio Coentrão
Substituições: Fábio Coentrão por Pateiro (69m), Rodrigo por Juninho (72m) e Edson por João Coimbra (80m)
Não utilizados: Belman, Bruno Amaro, Adriano e Halliche
Treinador: Predrag Jokanovic
Ao intervalo: 0-2
Marcadores: Fábio Coentrão (21m e 45m) e Juninho (90m)
Disciplina: cartão amarelo a Paulo Assunção (55m), Ricardo Ferandes (77m), Rafael Bracalli (90m), Alonzo (90m) in site F.C. do Porto.
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Foi muito mau o que se passou hoje no Dragão. Não por não termos conseguido bater qualquer dos recordes tão falados durante a semana... não são os recordes que nos fazem correr, mas antes o respeito à nossa camisola e à nossa forma de ser; nós somos Dragões Campeões! A atitude apática da maioria dos jogadores que jogaram hoje é inadmissível. Se não queriam jogar para se pouparem para a Final da Taça de Portugal, pediam ao Mister Jesualdo para não jogarem. Muitos esquecem-se que, de tanto se pouparem, poderão jogar sem chama, sem raça, invadidos por uma anemia que não é própria de um Dragão! Alguns poderão pensar que isto é um exagero, que já somos campeões há muito e uma derrota não é um drama. Até posso concordar que a derrota seja indiferente; mas esta atitude passiva não, é antes preocupante. Outra aspecto não despiciendo, tem a ver com a falta de respeito, para com os sócios e adeptos do F.C. do Porto que encheram o Dragão, para uma despedida apoteótica... Parabéns ao Nacional da Madeira, única equipa a ganhar no Dragão, única equipa a quem não vencemos, única equipa que nos marcou três golos em casa... eles sim, bateram vários recordes, nesta noite!
Imagens deste jogo de má memória para os Portistas!
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