«O vídeo da agressão à professora na Escola Carolina Michaelis é um murro na nossa consciência colectiva. Todos temos culpa por ter deixado degradar a disciplina na escola democrática, a autoridade dos professores e por negligenciarmos as crianças que os pais não têm tempo, nem capacidades, para educar.
Eu sinto culpa, por nunca me ter interessado pelas implicações das mudanças sociais na degradação do ensino em Portugal, por nunca me ter incomodado em demasiada com a qualidade política de quem ficava com a pasta da Educação a seu cargo em sucessivos governos. E sinto ainda mais culpa por ter obrigação de ter ouvido professores e alunos na familia e nas amizades mais próximas.
Claro que há quem tenha muito mais responsabilidades do que eu. E há sobretudo quem deva intervir politica e disciplinarmente, quando é imperioso intervir. (...)
E sobretudo não compreendo que perante actos de delinquência conhecidos, ocorridos em várias escolas e cometidos pelos mesmos alunos - maxime as agressões repetidas na escola de Tarouca - responsáveis do ME venham encolher os ombros, dizendo que nada se pode fazer porque os responsáveis são menores, não podem ser privados da escola, não podem ser expulsos da escola, nem objecto de quaisquer sanções aplicadas pelas autoridades escolares.
Eu pasmo! Então os outros alunos, professores e funcionários da escola vão ter que aguentar quantas mais agressões e distúrbios certos alunos entendam perpetrar?
Como é obvio essas crianças e jovens perturbadas não podem ser privadas da escolaridade. Precisam até de acompanhamento especial, em escola ou instituição adequadas. Não podem, de maneira nenhuma, é continuar nas escolas normais a desinquietar toda a gente e a agredir quem lhes resista. Caso contrário, a sensação de impunidade alastra, e não haverá meio nenhum de restaurar disciplina e segurança nas escolas. (...)
Ele há limites para tudo. E momentos para intervir de forma exemplar. O Ministério da Educação precisa de mostrar que não é complacente com alguns e intransigente com outros. Que a lei e a disciplina é para todos e para fazer cumprir por todos. Pelos alunos também. Então o bom ambiente e a segurança na escola vai ficar dependente dos humores de algumas crianças deseducadas em familias disfuncionais, como admitia esta manhã à TSF o Secretário de Estado Valter Lemos serem os delinquentes de Tarouca?
Ana Gomes (Eurodeputada do PS)» in Blog Profavaliação.
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A Dra. Ana Gomes tocou num ponto crucial, falou abertamente sobre um problema que aflige grandemente a Escola Portuguesa, a crise de autoridade que nos assolou. E essa crise não é causada por qualquer pulsão geracional. Nós, famílias e escolas, estamos a pactuar com essa permissividade, porque sofremos do mal da moda, o facilitismo, e Escola de ocupação de tempos, em vez de uma escola de verdadeiro espaço de desenvolvimento de capacidades. Sem exigência, não há aprendizagem efectiva. Devolvam à escola a autoridade para exercer uma docência, em que os resultados escolares não determinem a avaliação da escola e dos docentes. Doutra forma, é um farsa, passa quase tudo, mas isso não é sinónimo de literacia e de saber efectivo maior. As sucessivas reformas que os políticos foram introduzindo no sentido de tornar a escola num local mais de recreio, do que aprendizagem, começam agora a dar de forma quase exponencial os seus nefastos resultados. Mas está tudo bem, o que é preciso é diplomar e não educar, nem formar. A moda é números, estatísticas, a literacia é secundária! Parabéns Dra. Ana Gomes, que nunca se deixa levar pela acefalia partidária! Estranho o silêncio do Poeta Deputado, Manuel Alegre, de Mário Soares, de Ana benavente, entre muitos... será que também já esqueceram o espírito de Abril, será que desistiram, será que se resignaram?
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