«Neve em Palmela? O que aconteceu em 20 de janeiro de 2020?
Foi documentada nas redes sociais e comunicação social a ocorrência de neve na região de Palmela na manhã de 20 de janeiro de 2020.
Embora na generalidade do território o céu se tenha apresentado em geral pouco nublado ou limpo neste dia, entre as 8 e as 11 horas locais, a Península de Setúbal foi afetada por nebulosidade média organizada no seio de um vale em altitude e que deu origem a precipitação fraca. Esta precipitação foi identificada através das imagens de radar, tendo na região apenas sido registado o valor de 0.1 mm de precipitação entre as 9 e 10h locais na estação de superfície do IPMA em Setúbal.
Nesta estação (a 35 m de altitude), a temperatura do ar era de 7.0 °C às 8 horas locais, tendo diminuído para 6.6 °C até às 10 horas locais, i.e., durante o período de aumento de nebulosidade e da ocorrência de precipitação fraca. Como a altitude máxima na região de Palmela é de 378 m, considerando que os dados de modelação numérica são compatíveis com uma diminuição da temperatura de 1 ºC por cada 100 m, é possível assumir que a temperatura do ar possa ter tido valores próximos ou até inferiores a 5 °C na região de Palmela, no referido período da manhã.
Com base nos relatos e vídeos que foi possível consultar, o episódio de precipitação ocorrido terá correspondido a graupel. Trata-se de um tipo de hidrometeoro caraterizado por partículas de aspeto esférico, por vezes cónico, geralmente esbranquiçado e opaco. Resulta da colisão, verificada em altitude, entre cristais de neve e água líquida que se encontre a temperatura negativa, processo do qual resulta a adesão e imediata congelação da água sobre os cristais de neve. As partículas de graupel correspondem, portanto, a um aglomerado de cristais de neve rodeados por gelo, daí o referido aspeto esbranquiçado e opaco do seu interior. O graupel é referido em inglês como snow pellets ou tapioca snow.
Por outro lado, a neve corresponde à precipitação de cristais de gelo isolados ou aglomerados que caem de uma nuvem atingindo o solo. Sabe-se que é possível verificar-se a queda de neve com temperatura do ar ligeiramente positiva em níveis próximos da superfície. Este aspeto ainda é mais pronunciado no caso do graupel o qual, dadas as suas caraterísticas, derrete mais lentamente do que a neve, podendo ser observado com temperaturas do ar claramente acima de 0 ⁰C.
Faz-se assim notar que a ocorrência de hidrometeoros na forma sólida não depende exclusivamente da temperatura do ar a que estes se encontram, dependendo também da sua estrutura e de outras características do ambiente relacionadas com a humidade e com o vento.
Refere-se como enquadramento que de acordo com um estudo realizado em 2011 com dados de estações meteorológicas em Portugal Continental no período entre 1941 e 2009, identificou-se que 99.3% dos casos de neve se verificou com valores de temperatura do ar entre -7 °C e +5 °C, sendo que metade dos episódios tiveram lugar entre -1 °C e +1 °C. Um outro estudo no Reino Unido sugere uma probabilidade de 10% de ocorrência de neve para valores de temperatura do ar de 4 °C. Contudo, como referido, a queda de neve não terá correspondido ao episódio observado em Palmela em 20 de janeiro de 2020.
Para melhor caracterizar a presente situação todos os utilizadores da informação meteorológica do IPMA são convidados a partilhar relatos relativos a este evento através do endereço https://observar.ipma.pt/ (ou área “OBSERVAR” em www.ipma.pt ou através da APP do IPMA em “ENVIAR OBSERVAÇÃO”).
A informação partilhada deverá incluir a localização, o instante, o tipo de precipitação observada e, se disponível, a temperatura do ar, com o maior detalhe possível.
Caso existam filmes da ocorrência estes deverão ser enviados para o endereço info@ipma.pt.» in http://www.ipma.pt/pt/media/noticias/news.detail.jsp?f=/pt/media/noticias/textos/Graupel_Palmela_janeiro.html
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