«Crónica de Viagem: Uma Lisboeta no Porto
30 de Julho de 2011, 12:36
Inspirada pelas notícias de verão, decidi deixar as rivalidades de lado, colocar a mala às costas, pegar num guia velhinho, daqueles que saem nos suplementos dos jornais, e rumar ao Porto durante dois dias. Uma escapadela que fez uma alfacinha sentir-se em casa na Invicta.
Pouco passava das sete da manhã quando cheguei à Gare do Oriente, ainda meio a dormir das horas de sono perdidas a fazer sandes, a reunir os indispensáveis e a testar as tiras de borracha daqueles chinelos que, apesar de velhinhos, batem aos pontos qualquer outro quando a questão é conforto.
Aterrei em S. Bento e encontrei uma estação cheia de vida. A florista, o quiosque e o café pareciam suprir as necessidades imediatas de quem chegava ou partia rumo a qualquer outra cidade. Depressa o meu olhar foi atraído pelos tradicionais azulejos que vestem as paredes da estação com representações de alguns momentos da História de Portugal.
Ao sair de S. Bento, de imediato se reconhece a Sé do Porto, que se mostra imponente do lado esquerdo da estação. Em silêncio, porque estava a ser celebrada uma missa em italiano, andei pelos corredores da igreja-fortaleza, construída em forma de cruz, e deliciei-me com os pormenores do altar de prata, uma referência de ourivesaria portuguesa, com a tradicional talha dourada que reveste o altar principal e com o ambiente etéreo provocado pela luz rosada que entra pelos vitrais. Curiosa, paguei 3 euros para visitar os Claustros e o Tesouro.
Ao sair da Sé, era altura de reconfortar o estômago e aliviar as costas: sai um pacote de sumo, uma “sandocha” e uma fruta, o suficiente para me dar forças para seguir viagem. De regresso parei num dos vários postos de turismo da zona. O empregado saudou-me em espanhol, franzi o sobrolho e perguntei – Quanto custa um mapa?. Com um sorriso nos lábios, respondeu-me: – Quanto quer pagar? Tirou um do balcão, pegou numa caneta e mostrou-me onde ficam todos os locais de interesse da cidade. Depressa descobri que onde os pés não me levassem, o metro, ou melhor, o Andante, me faria chegar. Guardei o meu mapa grátis e pus-me a caminho dos Clérigos.
Malfadada sorte, quando lá cheguei o responsável estava a fechar para o almoço. Era a dica ideal para seguir pelo sítio onde marquei alojamento e deixar as malas. Já mais leve, segui para o famoso Mercado do Bolhão, a coisa de dois minutos a pé da Avenida dos Aliados. O Desaire foi rei nesta minha incursão. O espaço, em recuperação, alia bancas decrepitas ou abandonadas a um cheiro que não convida a comprar fruta. Um ponto a menos para a cidade, com a promessa, porém, de vir a ser resolvido dada a quantidade de andaimes que condicionam a visita.
Como o almoço foi volante, ficou a faltar o café expresso, ou melhor, um “cimbalino”. Que melhor sítio senão o famoso Café Magestic? Apanhei a rua de Santa Catarina, cheia de gentes e cores. Para quem está habituado à arrumação lisboeta da baixa pombalina, o centro do porto respira liberdade e a criatividade. Cada casa tem seu tamanho, sua cor, pode ter azulejos ou estar pintada, pode ter janelas verdes ou remeter-se ao cinza imposto pelo passar do tempo.
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