20/08/08

A mediocridade da participação Olímpica Portuguesa!

«QUEM PENSA ELE QUE É PARA ME PEDIR DESCULPA?

Ontem, estivesse eu ao pé, ele haveria de ouvir das boas. O tolo! Mas quem pensa ele que é para ousar fazer o que fez? Virar-se para mim e dizer: "Peço desculpa!!!" A frase inteira até é assim: "Agradeço a todos, porque estiveram a ver-me na televisão, e peço desculpa." Eu estive a ver televisão e tomo a frase para mim: Francis Obikwelu pede-me desculpa!
Ele ainda há-de engolir essas palavras. Não perde pela demora. Aproveitou dizer isso agora que estamos com meio mundo a separar-nos, mas hei-de encontrá-lo. E bem pode ele ter mais um palmo de altura, mais bíceps e várias décadas menos. Vou--me a ele e espeto-lhe o dedo no peito: "Oiça lá, meta as desculpas onde quiser. Eu não as admito, ouviu?! Eu de si só quero que aceite o que tenho a agradecer-lhe." E, depois, desbobino tudo.
Desde logo aquele dia de Atenas em que fiquei sentado no estádio muito mais tempo do que ele levou a fazer - a uma vintena de metros dos meus olhos - os seus 100 metros de prata. Varreu-se-me o rapaz que lhe ficou à frente e todos os outros. Só ele contava não porque fosse belo a correr - todos os velocistas são belos a correr - mas dele sabia-lhe a história. Claro que o isco era ele ser do meu país, mas os iscos servem para fascinar, não para cativar. E eu de Francis Obikwelu, estava, estou cativo. Toda a minha vida foi feita para saber admirar homens assim. Ele ia na volta de honra, com uma bandeirinha, e eu sentado, sem gritos, nem aplausos, com o silêncio que me dou quando pratico a minha religião. A minha religião são os homens.
Eu já vivi, de casa montada e cultura bebida, em três países, sou filho e neto de emigrantes, sei que as pátrias mudam. E que ele há homens e ele há homens e que os primeiros são-me os preferidos: os que fazem seu o lugar onde estão. O africano Francis Obikwelu veio para Portugal aos 16 anos (o meu pai foi com um ano mais para Angola com um irmão mais novo, só os dois). Obikwelu trabalhou nas obras - e, diz-se, acarretando os sacos de cimento arranjou a estrutura muscular que haveria de o prejudicar nos arranques das corridas (ser pobre paga-se). Para fazer aquilo que queria, atletismo, chegou a dormir sob as bancadas do estádio do Belenenses.
Aconteceu que Francis Obikwelu encontrou uma família portuguesa que lhe deu a mão e aconteceu que a essa família ele deu aquele sorriso com que brindou o Ninho de Pássaro, ontem, antes de sabermos que era a sua derradeira corrida. Com Portugal, Obikwelu fez o mesmo, um contrato. Coisa entre iguais: eu dou e tu dás.
Sendo assim, porque digo que lhe estou agradecido? Porque são raros os que, como Obikwelu, não pedem, trocam. Ou, melhor, não são raros, fala-se de mais é dos outros. Ontem, lamentando não ter dado o que os portugueses esperavam, Obikwelu disse: "Este é o meu trabalho e queria pelo menos dar uma final aos portugueses."
Repararam na palavra? Trabalho. É a palavra dos homens. Obrigado, Obikwelu.» in http://dn.sapo.pt/2008/08/17/opiniao/quem_pensa_que_e_para_pedir_desculpa.html

«Nem me vou esforçar, tenho de ser solidário com o atleta olímpico que, sem o saber, criou um novo conceito e que solução milagrosa para a crise.
Este texto no blogue do nunogomes.org (http://nowhereland.nunonunes.org/) dá-me aqui uma ajuda, façam o favor de ler que eu vou ali pra caminha!!!
Eu sei que é comprido, mas em nome de um bom soninho a seguir vale a pena:

"O Marco Fortes é o máior (sim, leva assento no ‘a’, é mesmo assim).
Senão vejamos o que disse este nosso possante atleta de alta competição após a sua brilhante prova nos jogos olímpicos: “Ah e tal, isto correu mal porque era muito cedo, eu de manhã estou bem é na caminha”.
Ah grande homem! Desculpem, “Ah Grande Homem!”, assim é que está bem.
Aliás, eu também acho, de manhã está-se bem é na caminha.
Esta coisa de ir até ao outro lado do mundo em representação de Portugal, porque os ditos portugueses acharam que ele é tão bom atleta que vai dar o seu melhor e conseguir uma prestação minimamente condigna, e ainda por cima fazerem-nos saltar da cama cedo para ir atirar o raio dos pesos campo fora é vergonhosa!! Um abuso!!
Estão loucos ou quê? Atleta que é atleta faz as coisas ao seu tempo, no seu ritmo, ao seu bel-prazer!
‘tugal esteve bem aqui. Sinto-me orgulhoso de ser representado de forma tão condigna por este belo espécimen. Obrigado, pá!
Aliás, vamos lá registar aqui algumas das pérolas que este iluminado decidiu partilhar com o mundo:
“Já tenho uma experiência dos Campeonatos do Mundo de pista coberta, em que comecei muito bem, mas cheguei à prova e deixei-me deslumbrar por aquela atmosfera e esqueci-me do que é que lá fui fazer.”
(Isto prometia, já sabíamos que tinhamos aqui potencial para uma boa representação. No mínimo para uma representação do papel de bôbo, mas adiante, que o melhor ainda está para vir…)
[Disse o Marco que] o seu maior desejo é que os atletas com “melhores marcas estejam de rastos e que não possam com o peso na sexta-feira, que durmam mal, comam qualquer coisa que lhes faça mal, que não queiram ir para a pista, coisas assim”.
(Snif! Desculpem-me, mas este espírito desportivo —especialmente nas olimpiadas— deixa-me sempre emocionado.)
“Cheguei à conclusão que de manhã só estou bem na “caminha”. Lançar a esta hora foi muito complicado. Apesar de ter entrado bem na prova, com dois lançamentos longos com mais de 19 metros, no último lançamento as pernas queriam era estar esticadas na cama”, disse o atleta, em declarações à RTP.
(Tá tudo dito. Tuga Powa!)
Mas (e há sempre um mas) nem tudo na nossa representação nos jogos olímpicos corre bem, infelizmente para nós, desgraçadinhos.
E a culpa é de quem?
Bom, a culpa é de pessoas como a Vanessa Fernandes que, imagine-se, fala antes da prova de forma comedida e, até, com sensatez e depois, para cúmulo da desgraça, ainda ganha uma medalha.
Uma medalha!! Como foi ela capaz de tamanha ousadia? Uma atleta que demonstra humildade e inteligência? Uma atleta que se esforça, que dá o seu melhor quando lhe pedem para o fazer, não quando lhe apetece e ainda por cima ganha algo?!?
Que é lá isto? Quem se julga essa mulher para tentar arruinar a imagem que o seu colega tão árduamente trabalhou para conseguir? Que coisa pretende ela afinal? Demonstrar que em Portugal existem atletas com cabeça? Pessoas com noção da responsabilidade? Pessoas com carácter? Pessoas que se esforçam?
Corram já com ela, digo eu! Não pode ser, o mundo ainda pode pensar que valorizamos pessoas dessas. É uma vergonha. Proponho a abertura da caça à bruxa Vanessa e seus semelhantes. Queremos mais Marcos Fortes. Eu, enquanto contribuinte e financiador da nossa comitiva olímpica assim o exijo!
Quem faz o favor de criar para aí um daqueles abaixo-assinados da Internet para começarmos a fazer pressão?
Eu não posso que estou um bocado cansado. É que isto logo depois do almoço não pode ser, hein? Depois do almoço é mais dormir a sesta (aliás já fui ali dizer ao chefe que eu agora vou é esticar os neurónios para a caminha e talvez volte mais tarde ao trabalho, se me apetecer). Mas se alguém quiser fazê-lo eu até fecho os olhos ao esforço desmesurado que dispenderam e assino a coisa. Ah e obrigadinho!"

Afinal há mais....
Nem sei se é para rir ou outra coisa qualquer.... mas é deixar os olhos em bico!
Aqui ficam mais umas pérolas dos nosso atletas olímpicos.
Ressalvo que não está aqui em causa a prestação de qualquer um deles, mas sim os seus comentários que tanto nos enternecem e demonstram o valor que dão às oportunidades que eles ganharam e o país lhes concedeu...

Jogos Olímpicos
Vânia Silva classificou-se em 46.ª nos Jogos Olímpicos de Pequim, na prova de lançamento do martelo. A atleta ficou desolada com a “marca muito baixa” de 59,42 metros e admitiu que não é “muito dada a este tipo de competições”.

“Estava bem, fiz o aquecimento bem. A única explicação é que, infelizmente, não sou muito dada a este tipo de competições. Em campeonatos da Europa, campeonatos do Mundo e Jogos Olímpicos, o melhor que fiz foi 63 metros nos últimos Jogos Olímpicos”, lamentou.
Jogos Olímpicos
Marco Fortes (lançamento do peso) disse, após a eliminação, que não se adaptou ao horário matinal da sua prova. “De manhã só é bom é na caminha, pelo menos comigo”, disse o lançador do Sporting, de 25 anos, eliminado no passado dia 15, com dois lançamentos nulos e um lançamento a 18,05m, bem longe do seu melhor (20,13m).
Jogos Olímpicos
No mesmo dia, também Jéssica Augusto, após a eliminação na prova dos 3.000 obstáculos, anunciou que iria de férias, justificando o abandono da corrida dos 5.000 metros dizendo que não participaria porque “não vale a pena”, dada a forte concorrência africana.
Jogos Olímpicos
Hoje mesmo, Arnaldo Abrantes, eliminado nos 200m com um dos piores tempos,(…) Abrantes justificou a sua fraca prestação com o facto de ter “bloqueado” quando viu o estádio olímpico cheio(…)»
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Este texto foi-me enviado pelo meu ex-colega e amigo José Edgar Guerra de Vila Real e é demonstrativo da leviandade com que os atletas reagem aos maus resultados, depois de 14 milhões de Euros gastos nesta participação olímpica. Vencer ninguém é obrigado, até porque os atletas dos outros países têm uma grande qualidade; mas dignidade na derrota, como nas vitórias é essencial... triste figura a de muitos atletas portugueses. Vicente Moura assumiu o desaire com muita dignidade, prometendo demitir-se e não poupou as palavras, mostrando que por ele os maus resultados e comportamentos, foram bem sentidos! Os atletas com pretensões olímpicas é bom que se inspirem no espírito de sacrifício e de humildade de Vanessa Fernandes...

2 comentários:

  1. É claro que o meu caro Helder Barros é um reputado especialista em desporto olímpico para subscrever este texto.

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  2. Caro Nuno:

    É claro que o senhor não me conhece, caro Nuno!
    É claro que não sou especialista em desporto olímpico, mas sou um cidadão pagador de impostos e como tal, tenho o direito de me pronunciar, sobre a participação olímpica portuguesa. E muito do que crítico, aliás, até o camandante Vicente Moura (reputado), não são os resultados em si, nem exijo medalhas a ninguém. São as afirmações aligeiradas de atletas que tem uma responsabilidade, a camisola que defendem. Disso posso falar, porque fui futebolista federado amador, não recebia dinheiro, jogava por amor ao desporto. Mas gosto de quase todas as modalidades desportivas, embora só pratique como amador, futebol, ciclismo, ténis, natação, entre outros. A Naíde Gomes, por exemplo, não a critico, sabe ganhar e sabe perder; agora atletas que não vão aos duzentos metros não se sabe bem porquê, merece no minimo alguma estranheza. Como outros dizerem que estavam melhor na caminha... O desporto também é emoção por parte de quem pratica e de quem aprecia. Admito que o texto possa ser exagerado, mas o reboliço que anda na comitiva, com o comandante a anunciar desde já que abandona, é, no minimo estranho...
    Caro Nuno, acho que queríamos todos mais dignidade, não são as medalhas que me fazem criticar, porque sempre ganhámos poucas... Além disso a Vanessa, o bronzer que escapou por pouco na vela e na canoagem deixam-me muito feliz! Até porque estes atletas também estiveram bem nas palavras!

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