«Mário Beirão era outro hóspede assíduo da Casa de Pascoaes.
Nascido em Beja, trazia consigo a tristeza alentejana. Franzino, olhar vivíssimo velado por grossas lentes, o passo curto, a voz murmurada, era tímido e delicadíssimo. Tinha uma alma muito bonita e versos do mais puro lirismo. Havia na sua conversa uma espécie de magia.
Foi para Teixeira de Pascoaes um verdadeiro irmão.
Mário Beirão, também passava temporadas em Porto Manso, em casa do visconde de Vila Moura, de quem era amigo. E, como era perto, vinham os dois a Pascoaes constantemente.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
(Porto Manso)
"Ausência
Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
- pastores das ascéticas planuras –
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
- Que é dele, o eterno Ausente,
- Cantor da nossa melancolia?
Nas tardes duma luz de íntimo fogo,
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
- Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!
- Ventos, que novas me trazeis das rosas,
Que acendiam clarões no meu jardim?
- Pastores, que é do vosso companheiro?
- Saudades minhas, que sabeis de mim?"
Mário Beirão, in 'Antologia Poética'
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