Pai de Teixeira de Pascoaes, desenho de António Carneiro
Justino de Montalvão, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes, 1926. Fotografia de Fernandes Tomás. © Sociedade Martins Sarmento, Guimarães
Fontes da Casa de Pascoaes
Fonte de Pascoaes XVII (Fonte dos Golfinhos)
«A 3 de Janeiro de 1922 morreu meu avô. Foi um golpe terrível na família. A casa parecia vazia. O silêncio era impressionante. Mas o tempo passa e Pascoaes publica a «Conferência» e «A Caridade».
Pascoaes falava de outros poetas com admiração. De António Nobre, por exemplo. Dizia: «É a nossa maior poetisa!»
Raul Brandão e a mulher, Maria Angelina, vinham passar grandes temporadas à Casa de Pascoaes. Era em Setembro. Raul fazia mesmo uma cura de águas na Fonte dos Golfinhos. Tinha albumina que desaparecia com este tratamento.
Era um homem magro, alto e forte, rosto pálido e expressivo, olhos encharcados de azul, temperamento vivo e entusiasta, gesto acendido, amplo, a sublinhar a palavra irónica e mordaz.
Sempre de cigarro aceso, com meio tubo de cartão para iludir o vício que o médico proibia.
Usava bengala e fatos escuros a que o colete de esgrima dava uma nota fresca de impecável brancura. Cobria-se com um chapéu preto de abas erguidas só dos lados e uma capa negra, até aos pés, com gola de veludo.
Ao cair da tarde, não dispensava um passeio obrigatório à roda dos pinhais que cercam a casa e os vinhedos, e que ele crismou de «Volta da Melancolia».
Como minha mão ia pintar. Ele resistia dizendo que nunca tinha pintado. Minha mãe afirmava que quem pinta com a palavra como só ele sabia fazer, também poderia pintar com os pincéis. Então, Raul Brandão decide-se. Pintou a fonte do século XVII, com a água a jorrar da boca de dois golfinhos, pintou o vale de Gatão com a igrejinha românica, o rio miniatural, onde hoje repousa o corpo arrefecido de Pascoaes.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.
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