«História de Amarante (excerto)
E já que falei de Simão Soriano, não quero que me escape o ensejo de me referir ao autor da curiosa e interessante História de Amarante. Não lhe sei o nome. Pronunciá-lo-ia, se o soubesse, com simpatia e respeito. É ingénuo o seu livro. O autor não tinha a mente predisposta, nem a mão preparada, para os labores da história; nem disso estava convencido. Mas, testemunha presencial dos grandes e pequenos actos que se praticaram nesta vila e concelho, a lição, que êle deixou, não é inútil a quem estuda minuciosamente a invasão francesa.
A sua inteligência, educada nas clássicas recordações romanas e gregas, só aí achava justa comparação e símile condigno aos varões insignes da sua terra e do seu tempo. E dum dêles deixou palavras que, se foram ditas, merecem especial menção e glorioso registo. Foram de D. Gaspar Teixeira de Queiroz, tenente-coronel de milícias de Basto. Estava êste fidalgo no sítio do Calvário, em Fregim, lendo uma proclamação do inimigo, pouco antes arrancada ao pelourinho de Vila-Caiz. Tinha a seu lado o juiz vereador. Daquele ponto elevado via-se a sua nobre casa do Pinheiro, nas imediações desta vila. De repente, aparece a casa envolvida em chamas. O incêndio alastra-se, cresce, sobe, envolve tudo em ingentes rolos de fumo e em rubras labaredas de fogo...
Avisado do que sucedia, D. Gaspar de Queiroz olha, e limita-se a dizer: -«Ainda bem. Alegro-me. Se me não fizessem aquilo, sentia-me desacreditado. E até, para não sofrer a vergonha de ter sido especializado com favor pelo inimigo - eu mesmo, pelas minhas mãos, deitaria fogo à minha casa.»
E continuou, sossegado, lendo...
É belo, como um rasgo de heroísmo antigo; e quero crer que fôsse verdadeiro...» in Portugal Económico Monumental e Artístico da Editorial Lusitana, Fascículo LIV, Concelho e vila de Amarante.
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