«A lenda da ponte da Misarela
APL 1038
Conta-se que há muitos anos, entre duas aldeias, Frades e Vila Nova, os moradores sentiam a necessidade de construir uma ponte, que serviria de passagem não só para eles mas também para os seus animais.
Após terminar, regressaram satisfeitos às suas casas. No dia seguinte, qual não foi o espanto, quando viram a ponte derrubada. Mas isto não foi motivo para desistirem e logo a reconstruíram novamente. Desta vez, enquanto a construíam, a ponte começou a estalar, a estalar, até que acabou por cair. Então as pessoas disseram umas para as outras:
– Isto só pode ser artimanha do diabo.
E de repente ouviram uma voz alta dizer:
− Nunca conseguireis segurá-la em pé.
Aflitos, correram a contar ao padre da freguesia o que ali se tinha passado. O padre, surpreendido e num tom animador, disse:
– Homens, voltai a reconstruí-la, porque desta vez não vai cair.
Pela trigésima vez, a ponte iria ser reconstruída, mas desta vez o padre acompanhou-os, levando um pão benzido debaixo do capote. Quando foi colocada a última pedra, a ponte começou a torcer-se, dando sinais de que iria cair. Então o padre lançou o pão a rebolar pela ponte e disse:
– Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
O diabo, ao ouvir as palavras de Deus, fugiu e a ponte ficou sempre torta como se tivesse o ombro do diabo marcado quando estava a empurrá-la.
Não só aconteceu o milagre do pão como também desde esse dia outro milagre aconteceu: que é o de salvar os filhos das mães que tanto os desejavam e que nunca conseguiram dar-lhes vida, pois estes nasciam mortos após os seis ou sete meses de gravidez.
Uma mulher que já tivesse passado pela situação descrita e estivesse novamente grávida, deveria ir até à ponte da Misarela levando consigo dois acompanhantes e deveriam à meia-noite em ponto estar em cima do arco da ponte. Os acompanhantes teriam de se colocar um em cada entrada da ponte para impedirem que nenhum animal passasse, ainda que fosse um rato, pois se assim fosse o milagre não se realizava.
A mulher grávida e os acompanhantes teriam de esperar em cima da ponte até que alguém passasse para baptizar a criança ainda dentro da barriga da mãe. Para o baptizado, levavam um jarro e uma corda comprida e, quando aparecesse a primeira pessoa, pediam-lhe para ser o padrinho ou madrinha da criança.
Então o padrinho ou a madrinha teriam de cortar ao lado da ponte um ramo de oliveira. De seguida lançava o jarro preso na corda abaixo da ponte e com a água que conseguisse colher molhava o ramo e fazia uma cruz na barriga da mãe dizendo:
Eu te baptizo
em nome do Pai,
do Filho,
e do Espírito Santo.
Se fores rapaz,
teu nome será Gervás;
e se fores rapariga,
teu nome será Senhorinha.
Pelo poder de Deus
e da Virgem Maria,
um pai-nosso
e uma avé-maria.
Após o baptizado, regressavam a casa e dali a nove meses o bebé nascia com saúde. E não só nascia o primeiro filho como também outros que o casal desejasse sem necessidade de um tratamento hospitalar.
(Esta lenda é um testemunho vivo de um caso que se passou na minha família. A minha tia, Ana Barqueiro Pereira, não conseguia ter filhos e, deixando-se levar pela crença na ponte da Misarela, actualmente tem uma filha chamada Senhorinha e mais quatro filhos.)» in http://www.lendarium.org/narrative/a-lenda-da-ponte-da-misarela/?category=2
«Lenda da Ponte de Misarela
"Havia um mau homem em terras de Além Douro, a quem a justiça encarniçadamente perseguia por vários crimes e que sempre escapava, como conhecedor que era dos esconderijos proporcionados pela natureza. Apertado, porém, muito de perto, embrenhou-se um dia no sertão e, transviado, achou-se de repente à borda de uma ribeira torrencial, em sítio alpestre e medonho, pelo alcantilado dos penedos e pelo fragor das águas que ali se despenhavam em furiosa catadupa. Apelou o malvado para o Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o Diabo lhe apareceu. 'Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma', disse-lhe. O Diabo aceitou o pacto e lançou uma ponte sobre a torrente. O réprobo passou e seguiu sem olhar para trás como lhe fora exigido, mas pouco depois sentiu grande estrépito, como de muitas pedras que se derrocavam, e ninguém mais ouviu falar da improvisada ponte. Os anos volveram e, enfim, chegou a hora do passamento. Moribundo e arrependido, confessou ao sacerdote o seu pacto. Este foi ao sítio da ponte e tratou igual pacto com o Diabo. A ponte reapareceu e o sacerdote passou, mas tirando rápido, um ramo de alecrim, molhou-o na caldeirinha que levava oculta, três vezes aspergiu, fazendo o sinal da cruz e pronunciando as palavras sacramentais dos exorcismos. O mesmo foi fazê-lo que sumir-se o Demónio, deixando o ar cheio de um vapor acre e espesso, de pez e resina, de envolta com cheiro sufocante de enxofre, ficando de pé a ponte."» in
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ponte_da_Mizarela
«Lenda da Misarela
"Um fidalgo duriense (há quem diga um criminoso) fugia desalmadamente aos beleguins do rei que injustamente o perseguiam e acusavam de traições. Quando chegou à Misarela o Regavão ia de monte a monte, medonhamente tempestuoso pelas chuvadas invernais. Vendo-se acossado e sem poder passar a corrente pediu a intervenção divina e de todos os santos que conhecia. Em vão. Não conseguia prosseguir a fuga. Lembrou-se então de invocar o poder do diabo em gritos desesperados:
-“Satanás! Satanás! Passa-me que te dou a alma!”
E o diabo, aparecendo num estarrinco do trovão, respondeu:
-“Passarás, passarás, sem olhar para trás!”
No mesmo instante estendeu-se à sua frente uma ponte que o fidalgo (ou criminoso) atravessou. Mal pôs o pé na encosta fronteira, atrás de si, a ponte ruía com enormíssimo estrondo no abismo vertiginoso. E assim fugiu à ira do monarca o tal fidalgo (ou criminoso) que decidira exilar-se em Barroso. Por aí viveu muitos anos ainda mas sempre roído de remorsos e angústias por ter dado a alma ao diabo.
Quando chegou a hora da morte mandou chamar o padre para se confessar. E contou-lhe o seu pecado. O padre absolveu-o, depois de exigir que confessasse toda a verdade e pensou que talvez fosse possível refazer a ponte sem grandes sacrifícios…
Tomou a caldeirinha da água benta e o hissope (há quem diga que foi uma laranja onde meteu água benta depois de lhe tirar do interior os favos por um orifício) e dirigiu-se uma noite ao local indicado pelo moribundo, invocando o diabo:
-“Satanás! Satanás! Passa-me que te dou a alma!”
E repetiu-se a cena: o diabo (ao ribombar o trovão) apareceu e respondeu-lhe:
-“Passarás, passarás, sem olhar para trás!’’
Num ápice reaparece entre dois penedões enormes a ponte. O padre começou a atravessar aspergindo água benta sobre a construção! (Também se diz que largou a laranja a rolar pela ponte!
Eduardo Noronha, na sua obra “A marqueza de Chaves” diz que o padre aspergiu água benta da caldeirinha com um ramo de alecrim).
E assim ficou benzida a ponte! Nesse mesmo instante o diabo desapareceu como aparecera deixando no ar fortíssimo cheiro a enxofre, pez e incenso (Noronha diz enxofre e salitre)… mas a ponte ficou de pé. Por isso há quem lhe chame Ponte do Diabo e Ponte do Salvador, mas para este povo é a Ponte de Misarela, lugar mítico, mágico e sagrado.
As mulheres grávidas, com medo de abortar, dirigiam-se à ponte ao anoitecer e esperavam pacientemente que se verificassem duas coisas: que não passasse animal algum depois do pôr-do-sol e que a primeira pessoa a passar se dispusesse a baptizar o feto que trazia na barriga. Se tais condições se verificassem, a pessoa passante colheria das profundezas, com uma vasilha segura por uma corda, um pouco de água e, logo ali, regava o ventre da mulher desenhando cruzes e pronunciando ao mesmo tempo o ensalmo:
“Eu te baptizo pelo poder de Deus e da Virgem Maria!
Padre-Nosso e Avé-Maria!
Se fores meninha (menina)
Serás Senhorinha;
Se fores rapaz
Serás Gervás (Gervásio)”.
A verdade é que são ainda muitas as pessoas que carregam esses chamadouros, saídos das noites passadas na ponte da Misarela!
As numerosas forças napoleónicas foram aqui acossadas, na muito tempestosa noite de dezasseis de Maio de 1809, às mãos de 800 paisanos barrosões, que esperaram em vão a chegada de reforços, porque as tropas anglo – portuguesas de Wellesley nunca chegaram. Desse facto há ecos no cancioneiro popular:
“Chorai meninas de França,
Chorai por vossos maridos,
Na ponte da Misarela
eram mais mortos que vivos!”
A ponte deve também ser recordada porque lá se deu, em 25 de Janeiro de 1827, um recontro importante entre as tropas realistas do general Silveira e as tropas constitucionais do coronel Zagalo.
Ainda na Misarela, no dia 18 de Setembro de 1838, se feriu a cruenta batalha em que os liberais, liderados pelo General Antas, derrotaram as tropas cartistas do marechal Saldanha, do duque da Terceira e do barão de Leiria. " (livro de Montalegre, 2006)» in http://aventurasdeouro.blogspot.pt/2009/08/ponte-da-misarela-sidros-geres.html
(Ponte da Misarela)
(Ponte da Misarela)
(Reportagem da TV Barroso sobre o evento Ponte da Misarela 2014)
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