19/06/10

Arte Poesia - O Meu Amigo Ângelo Ôchoa, interpela-nos com "As Cidades de Israel"!




"As Casas de Israel 

 Seguindo o casario,

qual lençol,

o rio deslizando.

The white Chagall:

MA JOIE.

-

Gotas de água

por escorridos vidros;

a rubro raiado poente.

-

Semblantes sumidos

sob chapéus-de-chuva.

-

Repetidamente

a paragem do eléctrico,

imagem mesma

repassada,

sonho nada.

-

Madame Maar,

olhos tortos

esgotando-se;

sons prolongando-se;

um rosto maior

do que um livro;

uma torneira ininterrupta.

-

P’lo tempo revolvido no olvido,

contarei as loucuras possíveis,

os enredos, p’los teus dedos, sim,

p’los teus dedos lã.

Ficaremos os dois, os sons, os ossos,

em arco abrindo-se-nos os braços.

-

Ah,

teu devastado olhar

fixa o demorado mar,

revolto o vento.

-

Os jogos infinitos,

borboletas adejando

vãs tonturas.

-

Teia de aranha

na parede esburacada,

um canto, desperdícios,

uma aldeia em Trás-os-Montes.

As bicicletas não andam.

A humildade é um verme familiar.

Com cerveja e fadiga ideamos vadiar.

-

Sombra intocada

num papel

sem nada,

bermas à luz falsa,

as costelas partidas,

publicação a se7e cores.

-

Nem o abandono inútil,

os pés adormecidos ao peso,

a desolação imensamente plana,

a apatia sem nenhuma saída,

o travesseiro dos bons dias

muito obrigados,

os dedos na queda,

os tectos para o pavor;

as crianças não têm culpa

d’entrementes cabecearem tontos sonos.

-

A periferia dos tubos,

e um peixe.

Os círculos fechados,

o ateado cristal.

-

Para a mulher povo, que não é notícia,

queria uma canção com as mãos dadas.

Quem me cerrou numa esfera de azedeza?

Deixassem-me ignorante, saberia uma canção,

sem nome uma canção, braços, ancinhos,

arados em riste.

-

Acontece-me ficar sentado a tarde toda,

a refazer os gestos gastos.

-

Páscoa

a morrer flores,

ecoando vãos por grandes casas.

-

Mulher,

levei toda a manhã

a sonhar tua viagem.

Tu és o meu poema" Poeta, Ângelo Ôchoa

MOV03191_As Cidades de Israel_Manuel Pedra_Ângelo Ochôa (1)


2 comentários:

  1. ...Parte de um trabalho com cerca de 50 aninhos de duração, Amigo!
    ...Não esqueço que o saudoso João Vilaret, que disse tão bem como poucos (ou nenhuns) poesia, lembrou um dia dito de um poeta de traquejo e nome: Escreve mil vezes teu poema...(Goethe diriaa: faz de tua dor o poema...)… -- Pois não é para gabar-me -- porque pura verdadinha, meu livro leva -- só de 98 (data em que passou para a Internet) a esta parte -- umas boas dez mil leituras... Trabalho diário, amigo, trabalho diário... E não é pelo público reconhecimento que tal digo, mas porque «para Deus trabalhamos» nós poetas (como os pedreiros dos pináculos das medievais catedrais). E porque o patrão é Deus, salário há, que baste.
    Abraço, amigo, e até outra, que será... SEMPRE!!!

    ResponderEliminar
  2. Bem Haja, Amigo, Poeta Humanista, Ângelo Ôchoa!

    ResponderEliminar