13/10/07

Mais reflexões sobre a Educação em Portugal!

«Círculo Aberto
Do empobrecimento das práticas docentes
José Matias Alves
O título da crónica de hoje enuncia um programa de pesquisa: as práticas educativas prevalecentes nas nossas escolas estão mais ricas ou mais pobres por efeito das medidas de política que têm vindo a ser tomadas? Isto é, as interacções pedagógicas são mais fecundas, o diálogo com as famílias mais frutífero, os resultados educativos (na sua tripla dimensão da instrução, da socialização e da estimulação…) melhoraram em termos gerais? Numa palavra, as promessas educativas estão a ser mais bem realizadas? Ou, pelo contrário, menos bem?
Em rigor, ninguém pode responder as estas difíceis (mas necessárias) questões. Da parte do poder instituído, é óbvia a resposta: tudo está a melhorar. Da parte das oposições, óbvio o registo negativo. Já se sabe que a realidade não é a preto e branco. Que se não pode universalizar a resposta. Que há situações e situações. Que. Que. Certo. Mas deve poder ser possível definir com rigor a tendência, os prós e os contras, os ganhos e as perdas. Mas isso, só através da produção de conhecimento…
Para início do estudo, poder-se-iam colocar duas hipóteses antagónicas: as práticas docentes estão mais pobres; as práticas docentes estão mais ricas. E o resultado diria para que lado iria a verdade.
Arrisco a hipótese paradoxal do empobrecimento - para além da óbvia intensificação e complexificação - (e desafio os meus futuros mestrandos a fazerem desta hipótese o ponto de partida de uma investigação empírica - para a confirmarem ou negarem….). E arrisco-a baseado no seguinte: os docentes estão hoje muito mais tempo nas escolas; têm hoje, muitos deles, mais tempo lectivo; esta maior permanência é factor de desperdício porque não têm espaços, nem condições de trabalho individual e colectivo nas nossas escolas; estando mais ocupados e desperdiçando o (escasso) tempo terão depois menos tempo para o trabalho individual. Menos tempo para a preparação de aulas, menos tempo para avaliar formativamente os trabalhos dos seus alunos, menos tempo para ler, para investigar, menos tempo até para corrigir em casa os trabalhos produzidos nas turmas.
A confirmar-se esta hipótese (que pessoal e profissionalmente não desejo) será uma desgraça. Que nos obrigará a pensar nas políticas. E a ir para além das aparências. E é esta viagem que poderá fazer diariamente no Terrearin Correio da Educação, Edição Online.

«Franceses querem professores com mais autoridade
Uma sondagem do jornal Le Figaro/RTL indica que os franceses desejam o regresso da autoridade à escola e um maior respeito por parte dos alunos em relação a essa autoridade. Esta vontade, que parece transcender divergências políticas, é maior entre os pais mais jovens e traduz-se num desejo de maior disciplina na aula, como a obrigação de os alunos se levantarem quando o professor entra. Contudo, na globalidade, os franceses parecem satisfeitos com a escola actual, tanto na qualidade ensino, como na integração social e carga de trabalho.» in "Le Figaro".

Cada vez que leio esta publicação fico sempre mais rico. Digo isto, porque considero o nível das participações muito elevado, com contributos sempre proficientes, actuais e relevantes. Eu só coloquei estas duas referências, quer o "empobrecimento das práticas docentes" e o facto dos "franceses quererem professores com mais autoridade". A realidade, de facto, não é estática, tem uma dinâmica brutal e nós, pobres humanos, somos apenas peças da mesma engrenagem. O que consideramos verdades absolutamente incontornáveis e incontestáveis num dado momento, será posto em prática pela realidade factual, no instante seguinte. Se isto é assim com toda a matéria que constitui o Universo, com o ser humano, "bicho complicado", ainda o é mais. Não queiram fazer de nós meros tecnocratas, nem das Escolas organizações empresariais. A Escola é a instituição das instituições, pois numa sociedade humanizada e humanizante, ela terá que ser o estribo, de toda a construção e dinâmica sociais. Excelentíssimos Governantes da Republica Portuguesa; não deixem que a obsessão orçamental, destrua o nosso património humano. Pobre país este, que não estima a Educação e os Educadores, Pais e Professores!

2 comentários:

  1. Não se consegue alterar o estado das coisas na Escola de hoje para amanhã, e mente quem diz o contrário.

    Antes de mais, precisamos de corrigir as disparates pedagógicas, introduzidas no nosso Ensino há 30 anos. Mas os resultados apenas aparecerão daqui a 10 anos, o que não se admira: também levamos 20 anos para desmontar o Ensino que funcionava, pois foi necessário de se reformarem os professores competentes, com a sua substituição gradual pelos produtos incompetentes do ensino "reformado".

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  2. Gostei de ler os dois comentários que o colega produziu: professor aposentado que agora sou, continuo a viver o drama das escolas, sobretudo da desumanização das escolas. Eu ensinava filosofia. Pensava e penso que a filosofia ensina a viver bem... e a bem morrer. Mas o facto é que o impacto tecnológico fez em parte esquecer o humano - o humano demasiado humano ( do título de Nietzsche...) Só uma pergunta que sempre me feriu fazê-la e repeti-la: Quando será que os alunos em Portugal adquirirão um mínimo que seja de conhecimento da História das Religiões? Há que conhecer para cultivar o respeito das diferenças do diferente que és tu e sou eu.

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