09/10/07

Política Nacional - Algo vai muito mal, na República de Portugal!




ALGO ESTÁ PODRE NO REINO (E NINGUÉM QUER SABER)
João Miguel Tavares, jornalista

«Não há nada como umas leituras de fim-de-semana para o pessoal ficar animado. Catalina Pestana ao semanário Sol: "Hoje eu sei que no tribunal de Monsanto [onde está a ser julgado o processo Casa Pia] está apenas a guarda avançada - o grosso da coluna está cá fora. Não tenho dúvida nenhuma de que ainda existem abusadores internos na Casa Pia. E tenho fortes suspeitas de que redes externas continuam a usar miúdos para abusos sexuais." E, de seguida, esta extraordinária confissão: "Depois de ver o sofrimento por que passaram os que falaram, se um dos meus netos fosse abusado eu aconselharia os meus filhos a não apresentarem queixa." João Cravinho à Visão, a partir do seu retiro londrino: "Penso que [a corrupção] é um fenómeno grave, extenso e sem mecanismos de contenção. Alguns dos meus camaradas não são dessa opinião. Foi dos maiores choques da minha vida ver que aquela matéria causava um profundo mal-estar, era como um corpo estranho no corpo ético do PS." José Rodrigues dos Santos ao Público: "Na minha experiência, os governos contactam as administrações e depois estas passam, ou não, os recados. Ver o poder interferir despudoradamente na informação como eu vi é algo que desmotiva."Tudo isto concentrado num espaço de três dias é obra - e provoca um arrepio na espinha mesmo em quem está habituado a zurzir nos males da pátria. É certo que a gente desconfia que o processo Casa Pia tem mais buracos do que um queijo suíço; que a corrupção está instalada em Portugal; que os governos interferem na RTP. Mas uma coisa é saber vagamente, desconfiar que deve ser assim, perorar sobre o assunto no café, outra coisa, bem diferente, é ter as pessoas que meteram a mão na massa a garantir que o cozinhado cheira muito mal - e que mesmo assim continua a ser servido. Catalina Pestana foi provedora da Casa Pia. João Cravinho foi deputado e ministro. José Rodrigues dos Santos é um dos mais populares jornalistas da televisão portuguesa. Que esta gente, hoje mais ou menos emprateleirada, venha apontar publicamente os podres do sistema é um sinal deveras preocupante. Não vale a pena estar com paninhos quentes. Num único fim-de-semana, e em três entrevistas diferentes, ficámos a saber quê: 1) Os abusos na Casa Pia continuam. 2) A corrupção está tão embrenhada no nosso sistema político que já nem se dá por ela. 3) A independência da RTP é uma ficção. E para isto só há duas alternativas: continuar a assobiar para o ar ou começarmo-nos a preocupar seriamente com a saúde do regime e da nossa democracia. Se entrevistas destas passam por "coisa natural" é porque, de alguma forma, já chegámos a um ponto de não retorno.»
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Este resumido, mas muito pertinente texto de João Miguel Tavares, que o meu colega e amigo, Professor Pedro Carvalho me enviou, merece mais do que a nossa reflexão. Acho que está mais que na hora de passarmos à acção, ou qualquer dia será mesmo tarde demais! Obrigado Pedro, deu para inquietar ainda mais o meu espírito e acho que precisamos bem de nos inquietar!

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