26/12/17

Amarante Pintura - "- Uma das personalidades amarantinas mais em destaque, que honra não só a terra em que nasceu, como o paiz a que pertence, é António Carneiro, pintor.", Teixeira de Pascoaes, 1917.




«Há tempos, no Club, em interessante cavaqueira com o nosso grande poeta e filosofo Teixeira de Pascoaes, passando em revista as individualidades amarantinas, antigas e modernas, que se tornaram notáveis, disse-me o poeta:

- Uma das personalidades amarantinas mais em destaque, que honra não só a terra em que nasceu, como o paiz a que pertence, é António Carneiro, pintor.

Em seguida, com a convicção d'um apaixonado, deu-me uma ideia da obra que este artista realizou nos últimos anos, obra que define o temperamento pessoalíssimo de A. Carneiro; temperamento de uma grande emotividade, toda alma, vendo sempre a realidade atravez da concepção do seu espírito.

Quem rabisca estas linhas não tem elementos para fazer critica à obra do grande pintor; mal a conhece. Ainda assim, algumas telas de pequenas paizagens que vi executar em Amarante, ha muitos anos, deram-me a impressão tão bem definida pelo nosso poeta. Paizagens em que tudo era vago, d'uma iluminação dolente, melancolica, indeciza, quasi tristes - talvez como a sua alma - tendo apenas umas tonalidades claras, longicuas, como raios d'alegria a quererem afuguentar a melancolia do conjunto, mas conseguindo apenas fazer entristecer mais o motivo principal. Eram pedaços da realidade vistos atravez do seu temperamento d'artista?

Quasi nada conheço de pintura; o meio e as luctas rasteiramente prosaicas da vida não me facultaram entrada nos dominios da arte; por isso, talvez só como herança ancestral o meu espirito se comove com a boa musica, com bons versos e com o desenho nas suas multiplas variantes.

Prosaica como me parece ser a  minha psicologia, o pintor Carneiro teve ocasião de me impressionar quandi vi a fotogravura d'uma sanguinea o «Baptismo» em que a figura toda ideal do Christo contrasta com as formas atleticas, masculas, pebeias do rude Baptista.

Quem o conhece em Amarante?

Poucos, muito poucos. É que... ninguém é profeta na sua terra. Quando o vemos passar nas ruas da vila, nas raras vizitas que nos faz, com o seu perfil nazareno, poucos calculam quanta tenacidade, quanta preserverança reprezenta esse rapaz velho - terá quarenta anos? - que confiado no seu valor e na sua boa estrela, venceu tantas contrariedades, e que o tornará uma glória nacional.» Editor Flor do Tâmega, Agenda - Almanach para Amarante 1917.



António Carneiro - "Contemplação"


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