13/12/17

Amarante Fregim - Pretendo aqui falar da minha terra, Fregim, que não o é de nascença, mas de vivência.




«Fregim, nobre Freguesia
12 dez 2017 11:25
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Helder Barros

A Minha Terra Fregim

Pretendo aqui falar da minha terra, que não o é de nascença, mas de vivência. Costuma-se dizer que pai não é só quem faz um filho, mas, mais importante, quem o cria. Assim, não tendo nascido em Fregim, tenho fortes raízes familiares nesta terra, que me acolheu desde muito miúdo. Pude assim passar os anos mais belos da minha vida, os da minha mocidade, nesta terra, percorrendo os seus caminhos, montes e campos, a pé ou de bicicleta, sempre em bandos de rapazes que passavam os dias a jogar à bola, enquanto acompanhávamos o pastoreio das ovelhas e cabras.

Esta terra foi sempre um local de passagem e de encruzilhada de viajantes, por muitos anos as estradas que a atravessaram, designadamente a estrada pombalina, que liga o Alto Douro à cidade do Porto e que foi igualmente, por décadas, uma via alternativa à estrada nacional n.º 15, entre Amarante e Vila Meã, que fazia a ligação de Trás-os-Montes ao Porto e vice-versa, traziam à freguesia um movimento importante, mormente, nos anos oitenta, que recordo com muita saudade.

Além disso, por ter sido por ter sido uma comenda da Ordem do Hospital de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, teve em tempos remotos uma tradição de apoio aos peregrinos de São Tiago e de apoio a doentes e famintos, com a existência presumível de uma gafaria ou hospital da respetiva Ordem de Malta no Lugar de Fregim, da freguesia com o mesmo nome. Por isso, os cidadãos de Fregim, ou fregueses de Fregim são conhecidos como “malteses”.

Consta que na história administrativa/biográfica, “a freguesia de Santa Maria de Fregim era Vigararia e Comenda da Ordem de Malta, no antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, na antiga comarca de Guimarães, passando mais tarde a reitoria. Pertenceu ao antigo concelho de Santa Cruz de Riba Tâmega, extinto pelo Decreto de 24 de Outubro de 1855, tendo passado para o de Amarante pelo Decreto de 31 de Dezembro de 1853. Da diocese de Braga passou para a do Porto em 1882. Comarca eclesiástica de Amarante - 4º distrito (1907). Primeira Vigararia de Amarante (1916; 1970).”

 
créditos: Hélder Barros

Camilo Castelo Branco na sua obra literária - “20 horas de liteira” - fala das suas passagens por Fregim e da personagem do Zé da Mó, que teria emigrado para o Brasil no final do século XIX na ânsia de ficar rico e que regressou ainda mais pobre.

É remota a povoação por humanos nesta freguesia, como se pode comprovar pelo castro da serra de São Jorge.

A festa anual é em meados de agosto, quando Fregim é invadida pelos seus filhos emigrados um pouco por todo o mundo, com uma bela procissão em homenagem à Imaculada Conceição, mais uma das muitas freguesias ligadas a Nossa Senhora, Santa Maria de Fregim.

Fregim foi igualmente palco da passagem das tropas de Napoleão, que invadiram a Casa da Capela pertencente à família do Capitão Augusto Casimiro e a incendiaram à partida. Capela que já não foi reconstruída por ter sido considerada profanada.

Os malteses de Fregim também ficaram conhecidos por montarem algumas emboscadas aos franceses que atravessaram a freguesia, rumo ao cerco da ponte de Amarante.

Esta freguesia possui inúmeras casas com interesse arquitetónico, tais como as já referidas Casas da Capela e da Mó, da Lage, da Obra, da Pedra, do Amarantinho, de São Miguel e as de Pousada, a do Visconde da Granja e a da Dona Emília de Sousa Ribeiro. Este nome, Pousada, tem a ver com o facto de este ser um local de paragem das antigas diligências e viajantes a cavalo, que pretendiam um excelente local de repasto e de repouso.


Na Casa da Pousada, originalmente do Comendador da Granja, viveu durante largos anos, o Comendador José de Abreu, dono das antigas fábricas do Tabopan e nessa casa existia um enorme jardim, pomares de maças, de laranjas, vinhas, com produção própria de vinhos e aguardentes em lagares e alambiques da quinta. Em Fregim existem grandes empresas na área da metalurgia, como a Metalocardoso, a Metalúrgica do Tâmega e a Bertim. Existe também uma das maiores fábricas de fabrico de urnas funerárias, a Joricastro. Temos também um centro de abate de veículos motorizados em fim de vida, a Resource.

A freguesia é delimitada a sudeste pelo rio Tâmega e é atravessada pela ribeira de Fregim, conferindo-lhe uma frescura única nos dias de verão, pelo vale onde ela corre em curvas e contracurvas sinuosas, por entre penedias e saltando nas rochas alisadas pelo desgaste das correntes de inverno em degraus nas zonas de declive.

Junto ao Rio Tâmega existe um dos maiores e mais reputados parques aquáticos de toda a península ibérica, o RTA. Lá existe também o conceito de “A Aldeia do Tâmega” que está inserida no complexo RTA Tâmega Clube, situado num local privilegiado da freguesia de Fregim, sobre a margem do Rio Tâmega, situada a cerca de 5Km do centro da cidade de Amarante. Existe igualmente a Casa do Rio, que é um local fantástico para a realização de festas e grandes eventos, embora seja também um restaurante reputado. No mesmo complexo, está um dos mais famosos campos de golfe de montanha do país, pelo que é mais uma possibilidade de praticar desporto, em ótimas condições, na nossa freguesia.

Além disso, em Fregim há inúmeros locais onde se come muito bem: Tony, Aposta Delirante, Cala o Bico, o Picadeiro, Casa do Rio, Varandas do Tâmega, o Mirante, o Reis, Restaurante do Campo de Golfe. Assim, a nossa freguesia poderá ser uma bela aposta gastronómica para passar uns bons momentos de lazer e de contraponto com o passado. De referir que Fregim é conhecida pela qualidade do seu vinho verde branco e pelos tintos de Ribeira de Cabra, outro curso de água da freguesia.

Sintam-se convidados!

Para terminar um poema do Poeta Popular de Fregim, José Diniz, que dedicou à sua freguesia:



À minha aldeia

Na minha aldeia solitária e triste,
Que o sol beija por entre os pinheirais,
Sagrado é para mim tudo o que existe,
E vós meus tristes olhos contemplais.

Sagrada é a paz da tarde que declina,
Pela vertente íngreme do Outeiro,
Sagrado é o terno rouxinol que trina,
Sobre o galho franzino do amieiro.

Sagrado é o chão que piso em passos leves,
Dentro e fora do povo e dos casais,
E aquelas orações doces e breves,
No silêncio das tardes outonais.

Sagrados são os raios de luar,
Que a enchem de luz em noites calmas,
E das fontes o doce murmurar,
Na solidão que envolve as nossas almas.

É a canção do regato cristalino,
Na melindrosa e eterna melodia,
E no alto da torre lá no cimo,
A cruz que o sol afaga todo o dia.”

José Diniz, Poeta

A Minha Terra é uma rubrica do SAPO 24 onde os leitores são desafiados a escrever sobre o sítio onde vivem, as suas particularidades, desafios e mais-valias. Está interessado/a em participar? Envie o seu texto para 24@sapo.pt» in http://24.sapo.pt/vida/artigos/fregim-nobre-freguesia


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