04/12/07



«Maldita avaliação!
Se for transformada num fim em si mesma; se consumir mais tempo do que a preparação, a realização e a avaliação das actividades lectivas; se reforçar as desconfianças entre os profissionais do mesmo ofício; se incrementar a solidão e o individualismo; se se centrar num acumular de papéis que têm de ser preparados apenas para mostrar as evidências do trabalho aos avaliadores; se preferir o controlo e a prestação de contas à securização, apoio e desenvolvimento profissional; se se concentrar nos resultados da instrução e tender a ignorar todos os outros resultados (a estimulação, a socialização, etc.)
É certo que isto não tem de ser assim. Não temos necessariamente de suportar (ou de compactuar) esta maldição. E não devemos, de maneira alguma, contribuir para que ela exista em graus diversos. Recusar ser co-autor ou cúmplice destas práticas. Participar nos processos que a tornem inviável. Agir, interagir de forma exigente e profissional. Saber dizer não às reuniões intermináveis (uma forma de o fazer é estar lá não estando, fazendo outra coisa); saber dizer não aos papéis inúteis; reduzir a burocracia ao mínimo denominador comum.
Nós temos as inteligências suficientes para impedir que na acção concreta as práticas de avaliação se não transformem numa maldição. Vamos individual e colectivamente, em cada contexto de trabalho, estar à altura desta ameaça.» in Correio da Educação N.º 316 03 de Dezembro de 2007.
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Ora cá está um artigo muito pertinente sobre o actual estado de coisas, da Educação em Portugal. Burocracia, reuniões quantas vezes inúteis, para discutir o sexo dos anjos, tornando-se, não raras vezes palco para carpir as mágoas e frustrações duma escola que não anda feliz. A meu ver e pelas regras do bom senso, quando uma organização perde mais tempo no controlo, do que na prática produtiva/criativa; algo vai muito mal. O desgaste psicológico e físico a que são sujeitos, hoje em dia, os docentes, com aulas todo o dia e reuniões desgastantes que muitas vezes, só acrescentam a sensação de frustração a profissionais que acabam o dia de rastos... sim, dar aulas com alma, cansa muito. Que tentem os burocratas de Lisboa, os dos gabinetes confortáveis, ministrar aulas minimamente produtivas e eficazes a alunos desmotivados e alheados, com problemas comportamentais resultantes de problemas sócio económicos das famílias de origem, entre muitas outras causas. Que experimentem uma semana, e depois quero ver se conseguem reunir até às tantas, ter tempo para a família (se é que temos direito a isso...), ser um cidadão com vida própria. Avaliar tudo é impossível, preparar aulas melhores é mais viável. Um professor melhor física e psicologicamente, irá certamente cumprir a sua tarefas com mais proficiência. Se nos transformarmos em burocratas, seremos óptimos a criar e manter sistemas de controlo documental, mas menos bons, na tentativa de sermos professores integrais, criativos e com mais disponibilidade para se entregar de corpo e alma, na construção de conhecimento com os seus alunos!

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