11/12/07

Educação em Portugal - Pobre país este... que tem esta gente que nos governa a vilipendiar a Educação!



Paulo Guinote


«Cinco Erros que Pagaremos Caro


A actual política educativa assenta em muitos equívocos, chavões mal demonstrados, fundamentações erradas e muitos anúncios de “sucessos” que não passarão de falhanços a curto ou médio prazo. Algumas das medidas erradas irão demonstrar a sua invalidade daqui por uma mão-cheia de anos, enquanto outras que se anunciam terão efeitos devastadores a mais longo prazo, para lá de 2013, que é o horizonte da actual governança. Quando se realizarem as provas de um hipotético PISA 2018 perceberemos isso, mas entretanto já terá sido deitada fora a pouca água que resta na banheira, o bebé e tudo o que está à volta.
Aqui vou apenas alinhar aqueles que acho mais calamitosos:
1. A multiplicação de cursos que de profissionais ou profissionalizantes só têm o nome: na realidade muitos CEF (ou EFA) não passam de uma forma de combater o insucesso escolar - e em menor grau o abandono - através da criação de cursos praticamente sem meios técnicos, com uma capacidade de integrar os alunos no mercado de trabalho meramente provisória e uma estratégia cosmética para dar a entender que voltámos a ter uma espécie de ensino técnico intermédio. Na verdade são muitas vezes “turmas de nível” disfarçadas onde se promete sucesso em troca da presença na escola ou, se outras asneiras singrarem, apenas da matrícula. Entre nós apresenta-se, portanto, como grande iniciativa o que além-fronteiras já começou a ser questionado por fornecer uma educação de segunda qualidade, sem verdadeira relação com as necessidades de mão-de-obra e apenas iludindo os formandos com um diploma sem especial valor para os empregadores, conhecedores de tudo isso e que acabam por preferir trabalhadores formados através da prática no local de trabalho.
2. A quebra de qualquer laço de confiança entre a maior parte da classe docente e a tutela: o que acabou por acontecer nestes dois últimos anos foi a instalação de um clima de perfeita animosidade, repulsa e desânimo entre um número enorme de professore, em todos os escalões da carreira, muitos deles sem historial de postura muito crítica ou de adesão a “radicalismos” sindicais. Não são poucos os estudos que demonstram que sem um activo empenho dos docentes, nenhuma reforma educativa consegue ter sucesso, mesmo as que se baseiam em pressões directas sobre eles ou em truques legislativos para “inventar sucesso”. Viñao Frago, David Tyack, Diane Ravitch e outros têm escrito sobre isso, desmontando os mecanismos que fazem com que a intenção legislativa, mesmo quando é límpida e transparente, tem dificuldade em atingir o terreno concreto das realizações. Por maioria de razão, a situação piorará quanto mais a tutela desacreditar e amesquinhar aqueles que quer que lhe obedeçam. Porque quanto maior a pressão, mais forte tende a ser a reacção, a mais curto ou longo prazo.
3. A opção pela monodocência (coadjuvada) para um ciclo de escolaridade de seis anos: os resultados insatisfatórios dos vários testes comparativos do PISA demonstram até que ponto é essencial o aprofundamento das aprendizagens nos primeiros anos da escolaridade. Ora uma opção por um modelo generalista de docência, num país onde as bases da literacia (científica ou outra) são pouco firmes, é algo profundamente errado. O que os especialistas e responsáveis governamentais actuais parecem não entender é que os tempos, sendo de dispersão das áreas de conhecimento e de alguma hiper-especialização, não são necessariamente de molde a ganhar muito com educadores generalistas, quando os alunos cada vez acedem com maior facilidade a conhecimentos muito específicos sobre muitos temas. Quem interpreta a situação de forma superficial, considera que são necessários meros técnicos educativos com um saber pedagógico geral, complementado com uns créditos disto e daquilo, tudo polvilhado com um mestrado de pouco mais de seis meses. Quem entende o que se passa, percebe que é necessário exactamente o contrário. Que após uma fase inicial de aprendizagem de hábitos de trabalho, pesquisa, estudo e organização da informação, os alunos de hoje, da era digital e da informação rápida e acessível, precisam de educadores que tenham uma formação “forte” nas suas áreas de especialidade, por forma conseguirem ajudar os seus alunos a dar sentido ao manancial informativo disponível. E isso não se consegue com alguém “com umas ideias” de Matemática, com outras de História e mais algumas de Ciências ou Língua Portuguesa.
4. A definição de apenas dois ciclos de escolaridade de seis anos com pretensos fundamentos pedagógicos e alegando que visa reduzir o choque das transições para os alunos mais jovens (embora a taxa de retenção não confirme esse choque de forma iniludível), quando na realidade a medida tem, com estes actores políticos, meros objectivos de mascarar o insucesso escolar, pois o que se vai pretender é que só no final de cada ciclo possam existir retenções e que cada professor titular de turma seja directamente responsabilizado – na sua avaliação – pelo (in)sucesso dos alunos a seu cargo. O que, em países com uma alfabetização consolidada e com meios familiares capazes de acompanhar e ajudar os alunos nos seus estudos, pode ser uma vantagem e uma boa medida, entre nós dificilmente o será, porque corresponderá à extensão do actual modelo do 1º CEB com o consequente adiamento do aprofundamento dos conteúdos abordados, que a própria formação generalista dos docentes impedirá. Para além disso, é uma medida que visa reduzir o número de professores no activo, sem especiais vantagens para os alunos.
5. Um modelo errado de formação profissional e certificação de competências assente meramente numa certificação e não numa aquisição de competências ou conhecimentos, pois o projecto Novas Oportunidades baseia-se na seguinte lógica: atrair quem sente falta de uma “certificação” para aceder a uma situação melhor, entrando num esquema de formação que nada de substancial lhes traz (e a maioria dos potenciais empregadores sabem isso) para além do diploma e eventual participação em cerimónia oficial. O culminar de tudo é a distribuição de diplomas em catadupa, preparados em centenas de centros de validação de certificações, numa teia burocrática que absorve boa parte das verbas envolvidas (o formador e o certificador, por regra, ganham mais do que o formando/certificado), que depois se apresentam, em acções de propaganda, como enormes sucessos de uma política de requalificação da população activa com baixos níveis prévios de qualificação. O problema é que, nem se estudam a sério as consequências deste tsunami certificador em termos de ganhos efectivos de rendimentos pelos, nem estes novos diplomados são testados de forma independente e comparativa nas competências que supostamente adquiriram. E tudo acabará como os cursos do Fundo Social Europeu: a médio prazo, constatar-se-á que a população activa continua subqualificada em muitas áreas do mercado de trabalho. Apesar de dezenas e centenas de milhar de certificações e diplomas. Mas claro que, quando se perceberem os erros, a culpa nunca será de ninguém. Pois até aposto que os relatórios oficiais dificilmente negarão adjectivação abundante e entusiasmada
quanto ao “sucesso”. E a vidinha continuará como sempre.» in Correio da Educação N.º 317 10 de Dezembro de 2007.
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Concordo plenamente com esta visão avisada e que de forma substantiva, se vislumbra como claramente evidente. Mais cego é aquele que não quer ver...

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